Pesquisas realizadas pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) apontaram a existência de "ilhas de calor" em Cuiabá - espaços dentro da cidade com temperaturas ainda mais elevadas do que o entorno.
A diferença, em alguns casos, é de até 10ºC e contribuem para colocar Cuiabá no rol das 10 cidades mais quentes do Brasil.
As ilhas de calor, segundo os pesquisadores, surgem diante do processo de urbanização que substitui materiais naturais por materiais construtivos, retira vegetação e aumenta a área de construções civis.
Dentro de Cuiabá, encontram-se ilhas de calor no Centro da cidade, nos conjuntos habitacionais densamente ocupados, como os bairros Santa Terezinha, Residencial Alice Novack, Residencial Nilce Paes Barreto, e também na região da Morada da Serra (grande CPA), conforme apontam pesquisas.
O surgimento de uma ilha de calor em Cuiabá provoca muito mais impacto na vida das pessoas do que o surgimento em cidades de clima temperado, por exemplo
“O surgimento de uma ilha de calor em Cuiabá provoca muito mais impacto na vida das pessoas do que o surgimento em cidades de clima temperado, por exemplo. Em Cuiabá, temos desconforto térmico ao longo de todo o ano pelas próprias características naturais do nosso ambiente, então quando surge uma ilha de calor e provoca o aumento de temperatura, isso faz com que esse desconforto seja inclusive perigoso para as pessoas, com agressão fisiológica”, explica o professor e coordenador do programa, José Carlos Ugeda Júnior.
Em 1994, pesquisadores da universidade identificaram uma ilha de calor no Centro de Cuiabá com amplitude de graus na escala Celsius – diferença de temperatura classificada como de média intensidade.
Estudos mais recentes já identificaram amplitude de até 10ºC, o que significa alta intensidade e impacto muito negativo na vida da população, de acordo com Ugeda.
Os indícios científicos foram comprovados de forma empírica com o auxílio de servidores do Juizado Volante Ambiental (Juvam) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). No dia 31 de janeiro, o aparelho psicrômetro do Inmet aferiu a temperatura atmosférica de 37,4º C na Avenida Historiador Rubens de Mendonça, por volta de 14h30, e 27,6ºC dentro do Parque Mãe Bonifácia, por volta das 15h do mesmo dia.
A presença de vegetação também pode chegar a diminuir até 15º C a temperatura da superfície da terra, conforme apontou o termômetro de sensor de superfície do Juvam. No solo gramado, aferiu-se a temperatura de 30º C, enquanto que, no concreto, a temperatura foi de 45ºC, ambas dentro do Parque Mãe Bonifácia aferidas no mesmo dia.
Nesse contexto, a arborização urbana surge como a melhor maneira de amenizar os problemas ocasionados pelas ilhas de calor e outros fenômenos do clima urbano, conforme destaca o professor Ugeda.
Os principais benefícios são inibir o aquecimento da superfície, provocar melhoria da umidade do ar pelo processo de evapotranspiração, trazer melhorias estéticas para a cidade e ainda colaborar com a redução do impacto das fortes chuvas, por conta da permeabilidade do solo necessária para a existência das árvores.
“A vegetação é a primeira ação que o poder público deveria tomar para provocar não só uma amenização térmica, mas de maneira geral uma melhoria na qualidade ambiental urbana. É a intervenção pública menos onerosa que a prefeitura municipal pode fazer”, defende o pesquisador.