THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO
Dez anos depois do início da obra do Rodoanel, rodovia projetada para funcionar como uma nova perimetral entre Cuiabá e Várzea Grande, os trabalhos ainda não foram finalizados.
A construção do Contorno Sul, de 52 km, começou em 2006. No início, o projeto foi executado pela Prefeitura de Cuiabá, por meio de um convênio com Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Naquela época, R$ 19 milhões foram gastos em apenas 8,5 km.
Em 2009, a obra foi paralisada por indícios de irregularidades na licitação e na prestação de contas.
Por conta disso, em 2015, o ex-prefeito de Cuiabá e atual deputado estadual, Wilson Santos (PSDB), teve mais de R$ 22,9 milhões bloqueados pelo Ministério Público Federal (MPF).
Após a paralisação, foi decidido que a construção ficaria a cargo do Estado. A extinta Secopa (Secretaria Extraordinária da Copa do Mundo) chegou a anunciar a retomada da obra em 2014, mas a execução nunca saiu do papel.
Em fevereiro deste ano, o governador Pedro Taques (PSDB) afirmou que recomeçaria os trabalhos. Atualmente, o projeto está na fase de revisão. O custo total deve passar de R$ 600 milhões.
Sem data prevista para ser iniciada, porém, o local é o retrato fiel do descaso com o dinheiro público.
Marcus Mesquita/MidiaNews
Rodoanel, em Cuiabá, se transformou um grande "lixão"
A via se transformou em um área de descarte irregular de lixo.
A reportagem esteve no trecho Cuiabá-Chapada dos Guimarães-Estrada da Guia e encontrou colchões, sofás, animais mortos e pneus, que servem de reservatório para o mosquito da dengue.
O aposentado João Romano dos Santos, que costuma andar de bicicleta pelo local, afirmou que a obra é uma “vergonha”.
“O asfalto já apresenta vários problemas. Olha aí o tanto de rachaduras, buracos. Daqui a pouco, isso aqui desaba”, disse.
João Romano cobrou postura da sociedade para cobrar do Governo a retomada da obra.
“A gente não pode deixar assim, esquecida. Precisamos nos unir, cobrar, senão vai continuar assim, abandonada”, afirmou.
Funcionário terceirizado, Jefferson da Silva contou que passa pela via todos os dias, para trabalhar. Mas, na volta, à noite, prefere pegar outra rota, pois, segundo ele, a obra parada vira palco de “racha” entre carros e motos.
“Os ‘caras’ das ‘motonas’ e ‘carrões’ mandam ver aqui. É um perigo. De vez em quando, a Polícia aparece, mas não adianta muito não, dias depois eles voltam”, contou.
Marcus Mesquita/MidiaNews
O aposentado João Romano disse que obra é uma "vergonha"
Retomada da obra
A Secretaria de Estado de Infraestrutura (Sinfra) informou que vai lançar, ainda neste ano, o edital para contratação de empresa para executar as obras do Rodoanel.
Segundo Sinfra, o projeto sofreu algumas mudanças e, por isso, o valor, que antes era em torno de R$ 350 milhões para concluir a obra, será de mais de R$ 600 milhões.
As alterações precisam ser aprovadas pelo DNIT.
Entre as mudanças previstas, conforme a Sinfra, está à duplicação das pistas. Antes, o projeto só continha uma pista para cada lado.
Suposta fraude
Prefeito na época em que o Rodoanel foi licitado, o atual deputado estadual Wilson Santos teve mais de R$ 22,9 milhões em bens bloqueados pelo MPF, sob a suspeita de envolvimento com um suposto direcionamento do processo licitatório realizado em 2005.
O parlamentar se defendeu afirmando que não houve qualquer tipo de irregularidade na licitação e nas obras do Rodoanel, durante sua gestão em Cuiabá.
Afirmou também que sua única participação em todo o processo licitatório foi simplesmente no sentido de homologá-lo, já que ocupava a função de ordenador de despesas do Município.
O bloqueio não foi somente dos bens do deputado. Ele incluiu os ex-secretários municipais Andelson Gil do Amaral e Josué de Souza Júnior, Manoel Avalone, Luis Francisco Félix, a Conspavi Construção e Participação e a construtora Três Irmãos Engenharia.
De acordo com a acusação feita pelo MPF, em 2005, a Prefeitura realizou concorrência pública sem previsão orçamentária e com fraude, no sentido de direcioná-la para que a construtora Conspavi vencesse o processo.
Nesse suposto direcionamento, outras empresas concorrentes acabaram desabilitadas. Entre elas, a Três Irmãos Engenharia, também alvo da ação civil pública porque recebeu créditos da Conspavi, logo após o processo licitatório.
Emanoele Daiane/Jornal Fotografico
Pista do Rodoanel já apresenta vários problemas
Já o financiamento da obra seria realizado por meio de um convênio da Prefeitura com o DNIT.
Segundo o MPF, além de ter havido direcionamento no processo licitatório, houve também desvio dos recursos federais, o que motivou o bloqueio de bens em valor igual ao montante que teria sido investido na obra do Rodoanel.
A obra
O projeto do Rodoanel compreende a construção de uma ponte de 214,3 metros sobre o Rio Cuiabá e de um viaduto de 220m.
Inclui ainda a implantação, construção e duplicação da rodovia, localizada no trecho da BR-163/364 (próxima ao Trevo do Lagarto – e à Avenida Antártica), totalizando 11,43 km de extensão.
Uma das expectativas é que, depois de pronto, o Rodoanel ajude a desafogar o fluxo de caminhões no Trevo do Lagarto, entroncamento de três rodovias em Várzea Grande, e na Rodovia dos Imigrantes, uma das principais vias utilizadas pelo transporte de cargas na região.
