O especialista em partos humanizados, Victor Rodrigues, foi comunicado na semana passada que não haveria mais este tipo de procedimento no Hospital São Mateus, em Cuiabá, porque as pacientes gritavam demais e estariam incomodando os outros pacientes.
“Eles me ligaram e pediram para que não internasse mais meus pacientes lá. Não fui chamado para nenhuma reunião, nem recebi nenhum prazo para que eu me organizasse. Simplesmente pediram para que eu parasse de internar meus pacientes de parto humanizado”, contou o médico.
Segundo o especialista, a gestão da unidade médica alegou que o hospital não tem “estrutura” para atender, uma vez que as pacientes gritavam demais na hora do parto e estavam incomodando os pacientes, que, inclusieve, havia diversas reclamações na ouvidoria da unidade a respeito do fato.
“É normal as pacientes gritarem. Elas estão fazendo força para o bebê nascer. Já existia por parte do hospital toda uma assistência clara ao parto, no sentido de garantir o atendimento humanizado. Dentro desse atendimento, deixava livre o trabalho de parto, incluindo que, obviamente, se a paciente gritar, não cometer violência obstétrica de calá-la. Afinal, é um momento importante e delicado na vida de uma mulher. É importante não usarmos intervenção de analgesia ou anestesia. Então é normal que elas gritem, porque dói”, afirmou.
Victor interna suas pacientes no hospital há 15 anos. Além do hospital São Matheus ele também atende na Clínica Femina e no Hospital Santa Rosa
Rodrigues interna suas pacientes no hospital há 15 anos. Além do São Matheus, ele também atende na Clínica Femina e no Santa Rosa.
“No mundo de hoje as pessoas estão em busca de partos normais. O que mais vemos são mulheres discutindo a respeito de parto humanizado. E isso que o hospital está fazendo demonstra claramente que a unidade está indo contra a corrente”, disse.
Normal x humanizado
A diferença entre um parto normal e humanizado é simplesmente na mudança de atitude: respeitar os desejos das mulheres.
No parto humanizado toda a fisiologia do nascimento é honrada, onde é preparado todo o emocional da mulher para o parto. O atendimento é todo centrado na mulher, que tem liberdade de escolher a maneira que o processo é conduzido, podendo desfrutar da companhia da família, caminhar, tomar banho de chuveiro ou banheira para aliviar as dores. As intervenções de medicamento, aceleração do parto ou mesmo o tradicional corte vaginal acontece somente quando é estritamente necessário.
Já no parto normal, a mãe tem que ficar deitada todo o tempo durante o trabalho. A mulher não pode andar e muitas vezes têm que ficar sozinha durante o processo. Além disso, na maioria das vezes, o parto é induzido através do soro que acelera o processo.
A recuperação no parto natural oferece uma recuperação mais rápida, tanto para a mãe quanto para o bebê sem risco de aspirar líquido e também infecções.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, o número de nascimentos por parto normal ainda está muito abaixo do recomendado, que estipula uma média de 15% de cesáreas.
Apoio das pacientes
Indignadas e se sentindo muito ofendidas com a atitude do Hospital São Mateus, as pacientes do médico fizeram uma campanha nas redes sociais, onde gravaram um vídeo agradecendo Victor pelo atendimento e dedicação a elas.
Com a hashtag #EuApoioDrVictorRodrigues, as mães fizeram várias declarações demonstrando sua gratidão ao obstetra.
“#EuApoioDrVictorRodrigues e repudio esse sistema hospitalar que tenta calar a nossa voz e o nosso corpo em razão de lucros financeiros. Doutor Victor, muito obrigada pela acolhida em minha 38ª semana de gestação, busquei um parto digno e alcançamos”, diz um comentário.
“Parto normal não é rentável pra nenhum hospital. Não querem as índias parideiras incomodando seus pacientes. No parto tem grito, tem dor, mas também tem suspiros e tem amor #EuApoioDrVictorRodrigues”, diz outra.
Rodrigues afirma que toda a repercussão do assunto na mídia se deu porque realmente as pacientes se sentiram ofendidas.
“É revoltante, porque falam que simplesmente as pacientes não vão poder mais ser atendidas no hospital, porque elas são o problema. Aí você para e pensa: mas o hospital não é para pacientes? O hospital tem o nome de maternidade, é no mínimo controverso”, explicou.
Outro lado
Através de nota, o Hospital São Matheus informou que não tem ambiente apropriado para atender pacientes que queiram realizar parto humanizado.
Segundo o hospital, atualmente os partos humanizados estavam sendo feitos no quarto, o que coloca em risco a segurança da mãe quanto do recém-nascido.
Os partos normais e cesarianas estão sendo realizados normalmente no centro cirúrgico pela entidade hospitalar.
Confira a nota na íntegra:
O Hospital e Maternidade São Mateus esclarece que não tem ambiente apropriado para realizar partos humanizados, atualmente tem sido praticado no quarto, o que pela falta de estrutura hoje coloca em risco a segurança da mãe e do recém nascido.
Os partos humanizados exigem todo um ambiente preparado conforme normas do Ministério da Saúde.
Os partos normais e cesarianas estão sendo realizados no centro cirúrgico normalmente pela entidade hospitalar.
Ressaltamos que Cuiabá possui outras três instituições hospitalares devidamente equipadas para atender esse tipo de parto.
Veja o vídeo em que as pacientes agradecem o médico:
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15 Comentário(s).
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Marisilda Brochado Ranzeiro 21.05.16 09h31 | ||||
parabens e grata por compartilharem essa informação com relatos tão emocionantes! | ||||
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Teresinha Oliveira Neves 20.05.16 23h20 | ||||
Os Hospitais - Não estão preparados para parto humanizado, querem encher as APAE como fizeram anos atrás dizendo ser hospital amigo da criança, que recebia uma quantia aqueles que faziam mais parto normal, falso, demoravam de mais para fazer o parto e criança fica sem oxigênio, como problemas pro resto da vida e as mães coitadas pensam até hoje que são culpadas por terem a criança doente. veja esse relato "meu nome e Karine..tive uma filha muito nova aos 14anos e meu medico disse que meu parto teria que ser cesaria.. mais quando eu estava de 7meses ele sofreu um acidente e acabou falecendo enfim não dava mais tempo de junta 2.600,00 em dois meses .. tive q passar pra um medico do Sus.. que não quis de maneira alguma fazer cesaria..então no dia em que fui ganhar minha filha a cabecinha dela saiu e voltou para dentro e faltou oxigenio no cerebro tiveram que retirar com o fórceps .. logo tranferiram ela para UTI onde ficou 12 dias sendo no começo foi bem dificil eu aceitar mais hoje ela está com 2 anos graças a Deus .. foi uma batalha pra todos nós mais estamos vencendo .. apesar dos sustos,etc...ela e minha vida.. minha filha não anda nem fala . mais eu não a trocaria por nenhuma criança normal" Não anda e nem fala, é isso parto humanizado, isso é só um exemplo. São diversas problemas: não tem médico, enfermeiros obstetras, equipe de acolhimento, PSFs sem estruturas nenhuma e inventam essa de parto humanizado, já foram verificar a situação, de perto... fingem que tá tudo bem...cada coisa que esse ministério da saúde, não sabe de nada, acho que não conhece a história, pra ter conhecimento do que deu certo e o que não deu, e como podemos fazer para melhorar. http://brasil.babycenter.com/thread/100319/mamaes-que-tem-filhos-que-nasceram-com-falta-de-oxig%25C3%25AAnio-como-eu#ixzz49FeJA4Us | ||||
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Aline 20.05.16 04h55 | ||||
Não sei porque tanto mimimi... Se fosse o único que realizasse até então esse tipo de parto, até concordo. Engraçado falar em parto humanizado quando se é cobrado, pelo tal médico, de 3 a 6mil para esse procedimento... Sim, é muito humano isso, afinal, o ser humano só pensa em dinheiro, não é??? E outra, nesse ponto apenas estão vendo o lado das mães, esquecem dos outros pacientes (acho que porque devem ser a minoria, Sqn)... Sou mãe e não vejo essa decisão como uma agressão aos direitos, afinal, se foi tentado dessa forma e percebeu-se que não tem estrutura adequada, não tem o que ser feito... A não ser admitir que a tentativa foi frustrada, pois, apesar de haver todo aparato necessário, os quartos não possuem a vedação necessária o que acabou gerando incômodos aos demais pacientes, e avisar que aquele procedimento não será mais realizado, pois o hospital, neste momento, não está interessado em investir para arrumar isso, até porque, o valor pago lá em cima, é do dito médico, e não do hospital, que acaba ficando apenas com o valor que o plano de saúde repassa (a paciente paga 2 vezes). | ||||
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Ana 19.05.16 22h29 | ||||
Estaremos vivendo um retrocesso se pensarmos assim. A Humanização do parto está diretamemte ligada à postura dos profissionais que assistem o parto e não à "suposta" estrutura que o hospital alega que precisaria ter. Já presenciei atos de violência obstétrica em sala de parto estruturada e também já assisti partos decentes e respeitosos nos quartos do hospital São Mateus. Uma pena. Se o problema era realmente este, e se o hospital estava tão preocupado com suas pacientes, poderia providenciar melhorias. Mas não deve ser lucrativo né? Estão perdendo um dos melhores profissionais da área. | ||||
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Alexandra 19.05.16 16h32 | ||||
O Hospital acabou de cometer uma grande violência obstetrica. | ||||
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