Após quase três meses da morte do aluno do Corpo de Bombeiros Rodrigo Claro, 21 anos, a família ainda aguarda a liberação do inquérito militar concluído na semana passada.
Apesar de ainda não ter acessado o documento, a mãe do jovem, Jane Patrícia Claro, diz não ter dúvida de que a tenente Izadora Ledur, instrutora do treinamento em que o aluno morreu afogado, é responsável pelo que aconteceu com seu filho.
Rodrigo morreu no dia 15 de novembro, após supostamente passar por uma sessão de afogamento na Lagoa Trevisan.
Ele chegou a ser levado para o Hospital Jardim Cuiabá, na Capital, onde permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por cinco dias.
Jane Claro disse que já não sente pressa em obter respostas, mas afirmou que não irá desistir de lutar por justiça.
“A nossa pressa não existe mais. Nós vamos aguardar com paciência para que as coisas sejam feitas corretamente. Eu não vou descansar enquanto as pessoas culpadas não pagarem pelo crime que cometeram”, declarou.
O inquérito militar realizado pelo Corpo de Bombeiros ficou pronto na semana passada e foi encaminhado para a Corregedoria da corporação.
De acordo com a assessoria de imprensa dos Bombeiros, o documento deverá ser homologado nos próximos 15 dias, quando se tornará público.
O advogado da família de Rodrigo solicitou uma cópia do documento, mas, provavelmente, ele só deverá ser liberado após a análise do corregedor.
“Nós vamos aguardar, porque o que nós queríamos hoje era o nosso filho aqui e isso nós não podemos ter”, disse a mãe de Rodrigo.
Tenente afastada
Para Jane, nesta altura do campeonato não restam mais dúvidas de que a tenente Izadora Ledur é realmente a culpada da morte de seu filho.
Ledur está sendo acusada de ter cometido excessos durante o treinamento aquático que Rodrigo participava.
Rodrigo Claro morreu no Hospital Jardim Cuiabá, depois de ficar cinco dias na UTI
Colegas de curso de Rodrigo informaram que ele vinha sendo submetido a diversos "caldos" (afogamento forçado) e que chegou a reclamar de dores de cabeça e exaustão.
Ainda assim, ele teria sido obrigado a continuar na aula pela tenente, que na época era responsável pelos treinamentos dos novos soldados da corporação.
“A gente não tem dúvida de que a tenente Ledur foi a causadora de tudo. Ela pode não ser a culpada direta, mas indiretamente ela é culpada por tudo o que aconteceu”, disse a mãe de Rodrigo.
“Meu filho foi para o lago bem e após a sessão de afogamento que ela deu nele, ele começou a passar mal. A quem eu poderia culpar se não a ela?”, completou.
A tenente foi afastada da corporação logo após a morte de Rodrigo. No entanto, segundo o comandante-geral do Corpo de bombeiros, coronel Júlio Cézar Rodrigues, esta não é a primeira vez que ela está sendo investigada por cometer excessos nos treinamentos.
Da primeira vez ela foi acusada - em uma denúncia anônima ao Ministério Público Estadual (MPE) - de fazer pressão psicológica em alunos durante os treinos do 15º curso de formação dos bombeiros.
“Na época designamos um encarregado e foi feita uma sindicância, onde não foi apurado esta conduta por parte da tenente. Não foi constatada transgressão nem crime por parte dela. O resultado foi encaminhado novamente para o MPE e o processo foi arquivado. Por isso ela não foi afastada de suas funções”, disse o comandante, em entrevista coletiva no ano passado.
Se ficar comprovado que a tenente foi responsável pela morte de Rodrigo, as penas podem variar de advertência até a prisão.
Veto do governador
Esta semana o governador Pedro Taques (PSDB) vetou um projeto de lei, aprovado pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), que previa proibição da tortura, do excesso de exercícios físicos e de atividades degradantes durante cursos práticos de capacitação para o ingresso na Polícia Civil, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros e demais corporações da iniciativa pública ou privada.
De acordo com o governador, o projeto, de autoria do deputado Wagner Ramos (PSD), tentava proibir o que já é vetado por uma lei federal, sancionada em 1997.
Segundo a mãe de Rodrigo, a atitude de Taques foi uma “grande decepção”, pois para ela, o governador seria a única pessoa capaz de coibir este tipo de treinamento e evitar novos acidentes.
“Ele avalizou positivamente que aquilo continue da forma que está. Já existem outros casos de pessoas que cometeram esse mesmo tipo de crime e que continuam atuando na instituição da mesma forma”, afirmou.
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1 Comentário(s).
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Soraia 11.02.17 17h39 |
Soraia, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas |