As novas legislações proibindo o uso de aparelhos celulares e eletrônicos em salas de aula reacenderam discussão sobre o impacto da utilização de telas no processo psicopedagógico de crianças e adolescentes em idade escolar.
Além dos prejuízos ocasionados dentro da sala de aula, como o desvio de foco e a falta de estímulos para a realização de operações simples, a neuropsicóloga Fabíola Gomes afirma que o excesso de uso de telas pode prejudicar o coeficiente de inteligência dos jovens.
“Existem estudos que mostram que o QI dessa nova geração está caindo. Há muitos casos em que há déficit no coeficiente intelectual, porque as pessoas deixam de executar funções cognitivas essenciais”, explica.
Segundo a especialista, a utilização de ferramentas encontradas nos aparelhos móveis limita o exercício cerebral, prejudica o desenvolvimento lógico e o raciocínio rápido de crianças e adolescentes em idade escolar e pode causar o desenvolvimento precoce de quadros de demência, devido a falta de estímulos cognitivos.
A neuropsicóloga também abordou o prejuízo das telas para a dinâmica das salas de aula e o impacto par ao desenvolvimento e interação social dos jovens.
Confira os principais trechos da entrevista:
MidiaNews – Recentemente, foi aprovado o texto final de um projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas salas de aula. Qual é o impacto dessa ação no aprendizado de crianças e adolescentes?
Fabiola Gomes – Quando falamos em desenvolvimento infantil, o excesso de telas traz prejuízos, pois acaba causando um hiperfoco naquilo, o que dificulta a realização de outras tarefas. Isso impacta o aspecto cognitivo, incluindo funções como atenção e memória.
Victor Ostetti/MidiaNews
Neuropsicologa Fabíola Gomes
MidiaNews – E quais são os prejuízos que o uso do celular pode trazer dentro da sala de aula?
Fabiola Gomes – A criança vai ficar mais irritada, pois está em um hiperfoco. Sabemos que isso chama a atenção, e isso vai prejudicar o professor, pois o aluno não conseguirá se concentrar na aula. É um desafio tanto para o professor, que precisa chamar a atenção do aluno, quanto para o aluno, pois, se o conteúdo for desinteressante, ele recorrerá ao celular.
MidiaNews – E quando falamos também da socialização dos adolescentes, que em sua maioria utilizam celulares, como isso pode prejudicar o desenvolvimento social desses adolescentes?
Fabiola Gomes – Eles ficam mais isolados, mais individualistas. Acabam imersos no mundo do celular e das redes sociais, preferindo amizades virtuais.
MidiaNews – Há como equilibrar o uso de celulares?
Fabiola Gomes – A rotina é fundamental, e isso começa em casa, no contexto familiar. É importante estabelecer limites quanto ao uso do celular e definir horários específicos para isso. O excesso de telas traz prejuízos, como a privação do sono.
MidiaNews – Como o sono afeta o aprendizado?
Fabiola Gomes – O adolescente, muitas vezes, fica muito tempo na tela, vira a noite, ultrapassa o horário de dormir e acaba indo para a cama tarde. No dia seguinte, precisa acordar cedo para ir à escola ou à faculdade, geralmente começando às 7h da manhã. Isso traz prejuízos no aprendizado e no desempenho acadêmico. Além disso, a luz da tela também tem impacto, pois dificulta o sono, fazendo com que a pessoa demore mais para dormir.
MidiaNews – O raciocínio e o pensamento lógico dos adolescentes também podem ser afetados pelo uso das telas?
Fabiola Gomes – Sim. Isso pode causar um déficit cognitivo e no coeficiente intelectual (QI), pois eles acabam utilizando muito poucas funções executivas. Quando o celular está presente na sala de aula, o aluno recorre a ele para fazer cálculos ou pesquisas, o que prejudica o uso da memória operacional.
Há muitos estudos que trazem sobre essa questão do perfil cognitivo e mostram que essa nova geração tem um risco muito grande para desenvolver quadro de demência precoce diante da falta de estímulo do próprio cérebro. O celular priva isso ao ser usado em excesso.
MidiaNews – E a leitura e a fala também ficam prejudicadas?
Fabiola Gomes – Sim! O uso excessivo das telas também prejudica a linguagem, causando um déficit que afeta até mesmo a escrita. Como tudo é digitado, as abreviações e a forma de escrever acabam comprometendo a ortografia. Além disso, os vídeos, que são rápidos e carregados de informações, podem prejudicar o desenvolvimento da leitura, pois são consumidos de forma acelerada. Isso atrapalha o raciocínio verbal, a organização perceptual dos textos e até mesmo a compreensão de imagens.
MidiaNews – O uso excessivo de telas pode ocasionar transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão ou agravamento do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) em crianças?
Fabiola Gomes – Pode. Já atendi vários casos, não foi apenas um, de isolamento. Os pais me procuram porque acham que o filho tem TDAH e buscam uma avaliação. Mas, no processo de avaliação, alguns desses casos são mais uma questão comportamental e ambiental, provocada pelo excesso de tela. Aqueles adolescentes que começam a ficar mais retraídos, que não querem sair de casa e se sentem mais confortáveis no celular, acabam ficando isolados no quarto, no "seu próprio mundo".
MidiaNews – Como essa situação pode impactar a vida desses adolescentes e crianças na vida adulta?
Fabiola Gomes – Tem estudos que mostram que o QI desta nova geração está caindo. Tem muitos casos onde tem um déficit no próprio coeficiente intelectual, porque ele vai deixar de executar, de usar a função executiva, de estimular o cérebro para pensar mesmo e vai precisar sempre do auxilio do celular e do computador.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|