Cuiabá, Sábado, 5 de Julho de 2025
EXCESSO DE TELAS
22.12.2024 | 08h11 Tamanho do texto A- A+

“O QI dessa nova geração está caindo”, alerta neuropsicológa

Aprovação de leis proibindo o uso de celulares nas escolas reacendeu debate sobre o tema

Victor Ostetti/MidiaNews

Neurospicologa, Fabíola Gomes, que fala sobre uso de telas

Neurospicologa, Fabíola Gomes, que fala sobre uso de telas

ANDRELINA BRAZ
DA REDAÇÃO

As novas legislações proibindo o uso de aparelhos celulares e eletrônicos em salas de aula reacenderam discussão sobre o impacto da utilização de telas no processo psicopedagógico de crianças e adolescentes em idade escolar.

 

Existem estudos que mostram que o QI dessa nova geração está caindo

Além dos prejuízos ocasionados dentro da sala de aula, como o desvio de foco e a falta de estímulos para a realização de operações simples, a neuropsicóloga Fabíola Gomes afirma que o excesso de uso de telas pode prejudicar o coeficiente de inteligência dos jovens.

 
“Existem estudos que mostram que o QI dessa nova geração está caindo. Há muitos casos em que há déficit no coeficiente intelectual, porque as pessoas deixam de executar funções cognitivas essenciais”, explica.

  

Segundo a especialista, a utilização de ferramentas encontradas nos aparelhos móveis limita o exercício cerebral, prejudica o desenvolvimento lógico e o raciocínio rápido de crianças e adolescentes em idade escolar e pode causar o desenvolvimento precoce de quadros de demência, devido a falta de estímulos cognitivos.

 

A neuropsicóloga também abordou o prejuízo das telas para a dinâmica das salas de aula e o impacto par ao desenvolvimento e interação social dos jovens.

 

Confira os principais trechos da entrevista:

 

MidiaNews – Recentemente, foi aprovado o texto final de um projeto de lei que proíbe o uso de celulares nas salas de aula. Qual é o impacto dessa ação no aprendizado de crianças e adolescentes?


Fabiola Gomes – Quando falamos em desenvolvimento infantil, o excesso de telas traz prejuízos, pois acaba causando um hiperfoco naquilo, o que dificulta a realização de outras tarefas. Isso impacta o aspecto cognitivo, incluindo funções como atenção e memória.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Fabíola Gomes

Neuropsicologa Fabíola Gomes

MidiaNews  – E quais são os prejuízos que o uso do celular pode trazer dentro da sala de aula?


Fabiola Gomes – A criança vai ficar mais irritada, pois está em um hiperfoco. Sabemos que isso chama a atenção, e isso vai prejudicar o professor, pois o aluno não conseguirá se concentrar na aula. É um desafio tanto para o professor, que precisa chamar a atenção do aluno, quanto para o aluno, pois, se o conteúdo for desinteressante, ele recorrerá ao celular.

 

MidiaNews  – E quando falamos também da socialização dos adolescentes, que em sua maioria utilizam celulares, como isso pode prejudicar o desenvolvimento social desses adolescentes?


Fabiola Gomes – Eles ficam mais isolados, mais individualistas. Acabam imersos no mundo do celular e das redes sociais, preferindo amizades virtuais.

 

MidiaNews  – Há como equilibrar o uso de celulares?


Fabiola Gomes – A rotina é fundamental, e isso começa em casa, no contexto familiar. É importante estabelecer limites quanto ao uso do celular e definir horários específicos para isso. O excesso de telas traz prejuízos, como a privação do sono.

 

MidiaNews  – Como o sono afeta o aprendizado?


Fabiola Gomes – O adolescente, muitas vezes, fica muito tempo na tela, vira a noite, ultrapassa o horário de dormir e acaba indo para a cama tarde. No dia seguinte, precisa acordar cedo para ir à escola ou à faculdade, geralmente começando às 7h da manhã. Isso traz prejuízos no aprendizado e no desempenho acadêmico. Além disso, a luz da tela também tem impacto, pois dificulta o sono, fazendo com que a pessoa demore mais para dormir.

 

MidiaNews  – O raciocínio e o pensamento lógico dos adolescentes também podem ser afetados pelo uso das telas?


Fabiola Gomes – Sim. Isso pode causar um déficit cognitivo e no coeficiente intelectual (QI), pois eles acabam utilizando muito poucas funções executivas. Quando o celular está presente na sala de aula, o aluno recorre a ele para fazer cálculos ou pesquisas, o que prejudica o uso da memória operacional.

 

Há muitos estudos que trazem sobre essa questão do perfil cognitivo e mostram que essa nova geração tem um risco muito grande para desenvolver quadro de demência precoce diante da falta de estímulo do próprio cérebro. O celular priva isso ao ser usado em excesso.

 

 

 

MidiaNews – E a leitura e a fala também ficam prejudicadas?

Os vídeos, que são rápidos e carregados de informações, podem prejudicar o desenvolvimento da leitura


Fabiola Gomes – Sim! O uso excessivo das telas também prejudica a linguagem, causando um déficit que afeta até mesmo a escrita. Como tudo é digitado, as abreviações e a forma de escrever acabam comprometendo a ortografia. Além disso, os vídeos, que são rápidos e carregados de informações, podem prejudicar o desenvolvimento da leitura, pois são consumidos de forma acelerada. Isso atrapalha o raciocínio verbal, a organização perceptual dos textos e até mesmo a compreensão de imagens.

  

MidiaNews – O uso excessivo de telas pode ocasionar transtornos psicológicos, como ansiedade, depressão ou agravamento do TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) em crianças?


Fabiola Gomes – Pode. Já atendi vários casos, não foi apenas um, de isolamento. Os pais me procuram porque acham que o filho tem TDAH e buscam uma avaliação. Mas, no processo de avaliação, alguns desses casos são mais uma questão comportamental e ambiental, provocada pelo excesso de tela. Aqueles adolescentes que começam a ficar mais retraídos, que não querem sair de casa e se sentem mais confortáveis no celular, acabam ficando isolados no quarto, no "seu próprio mundo".

 

MidiaNews – Como essa situação pode impactar a vida desses adolescentes e crianças na vida adulta?


Fabiola Gomes – Tem estudos que mostram que o QI desta nova geração está caindo. Tem muitos casos onde tem um déficit no próprio coeficiente intelectual, porque ele vai deixar de executar, de usar a função executiva, de estimular o cérebro para pensar mesmo e vai precisar sempre do auxilio do celular e do computador.

 

 

 

 

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