Cuiabá, Domingo, 6 de Julho de 2025
CANDEEIRO
10.03.2019 | 09h30 Tamanho do texto A- A+

Ocupado por usuários de drogas, casarão histórico pode desabar

Imóvel é considerado uma das primeiras construções do Centro de Cuiabá e apresenta sinais de abandono

Alair Ribeiro/MidiaNews

Parte da parede de adobe cedeu após as chuvas constantes

Parte da parede de adobe cedeu após as chuvas constantes

BIANCA FUJIMORI
DA REDAÇÃO

No “coração de Cuiabá”, uma das primeiras casas construídas na época da mineração, por volta de 1700, ameaça desmoronar a qualquer momento e está tomada por usuários de drogas.

 

Localizada entre a Avenida Tenente Coronel Duarte, a famosa Prainha, e o Beco do Candeeiro, uma parte da parede de sustentação do imóvel cedeu na semana passada após uma forte chuva na Capital.

 

Nesta semana, a reportagem visitou o local e constatou a situação de abandono e risco de desabamento do casarão.

 

Apesar de pequeno, cerca de 15 moradores de rua, usuários de drogas e criminosos habitam o imóvel histórico. O forte cheiro de fezes e urina sobe ao nariz logo ao passar pela porta lateral, que foi arrombada pelos invasores.

 

No interior, o entulho se mistura com peças de roupas velhas. A reportagem se deparou com uma mulher dormindo em um colchão sujo no chão. Do imóvel, restaram apenas as quatro paredes estruturais externas, que mantém o pouco que sobrou da casa ainda de pé.

 

Na parte da frente, ainda no interior, os azulejos indicam que até pouco tempo a casa foi uma lanchonete. Alguns adesivos de publicidade de créditos de telefone resistem ao tempo.

 

Na outra metade do casarão, as paredes apresentam grandes rachaduras. As telhas já quase não existem mais.

 

Agora, um pedaço de lona preta cobre a parte da parede de adobe que caiu enquanto que os escombros se destacam na praça reformada pela Prefeitura.

 

Tempos de ouro

Alair Ribeiro/MidiaNews

Casarão Beco do Candieiro

Ari de Albuquerque, de 80 anos, cresceu no Centro de Cuiabá

 

Morador da região há 73 anos, Ari de Albuquerque, de 80 anos, diz que essa região do Centro Histórico se tornou irreconhecívelm e que nem sempre a casa foi decadente.

 

Onde hoje fica a avenida, Seu Ari já cansou de pescar lambari na sua juventude com os colegas. O Córrego da Prainha, a partir de onde Cuiabá foi tomando forma no século 18, foi coberto por concreto e leva os dejetos da cidade para o Rio Cuiabá.

 

Segundo ele, a pequena praça, no início do Beco do Candeeiro, já foi um suntuoso casarão, que foi demolido com o avançar da modernização. As ruas de terra batida e as charretes puxadas por cavalos foram substituídas pelo asfalto e máquinas movidas a combustíveis.

 

“Os portugueses que mandavam aqui, tinha garimpo de ouro. Aqui foi o começo de Cuiabá. Onde fica essa praça hoje, tinha outro casarão”, relembrou Albuquerque.

 

Uma das casas históricas do beco já foi muito conhecida por ser um prostíbulo na juventude do Seu Ari.

 

“Quando eu era guri, morava aqui no bairro e aqui era casa de mulheres, bordel. Era tudo colorido, famoso bordel. Era uma casa famosa na época”, explicou.

 

Ele chegou a conhecer uma senhora que morou no casarão que está abandonado. No entanto, ele não soube dizer o que aconteceu com a família.

 

Albuquerque sente falta da época em que as coisas eram mais simples para ele. Agora, o idoso passa as tardes jogando conversa fora com os moto-taxistas da praça.

 

“Antigamente era melhor, o povo era melhor. Não tinha carro, andava de carroça, charrete. Era uma cidade colonial, todo mundo era amigo. Agora é difícil. Nem o cachorro quer ser mais seu amigo”, lamentou.

 

Ações de proteção

 

Nabile Omaie, filha do proprietário do imóvel, informou que a família já está elaborando um projeto, em conjunto com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), para restauração da parede que caiu. Porém, diz que ainda não há uma data para a implantação das reformas.

 

Ela explicou que o desabamento ocorreu por causa de infiltração na parede causada pelo roubo de telhas do casarão.

 

“Quando a parede de adobe não tem telha, ela infiltra por cima quando chove e ela cai, é normal acontecer isso. Mas o imóvel estava com telha, com suporte em cima para não acontecer isso”, afirmou.

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Casarão Beco do Candieiro

Casa teve as telhas furtadas e as portas foram arrombadas

 

Entretanto, a empresária apontou que o maior problema que a casa enfrenta é a constante invasão por usuários de drogas.

 

“O grande problema ali é que a gente já arrumou, já fez manutenção, mas toda vez entra o pessoal, rouba porta, rouba telha, rouba tudo. A gente tenta fechar ali e não consegue. Não conseguimos fazer nada”, reclamou.

 

Ela disse que a situação se agravou após a demolição da Ilha da Banana, que era ocupada por dependentes químicos. Com isso, as pessoas passaram a entrar nas casas do Beco do Candeeiro, segundo Nabile.

 

Além disso, a família, que possui o imóvel há 30 anos, foi notificada pelo Iphan por conta do grafite na parede lateral. De acordo com a empresária, a pintura teria sido feita pela Prefeitura e infringe as normas do instituto.

 

“Esse grafite foi feito pela Prefeitura para decorar a praça, mas foi feito sem a nossa permissão”.

 

Como ela recebeu a notificação há pouco tempo, ainda não conseguiu ir até a Prefeitura para resolver a situação. Nabile disse que também não estava ciente que não poderia fazer o grafite ali até ser notificada.

 

Para a empresária, o casarão tem uma importância histórica e cultural inestimável, porém ela defende que a preservação não deve ser responsabilidade apenas do proprietário.

 

“Tem que ter uma ajuda do Governo, uma ação de política pública ali. Ali tem que ter um conjunto de segurança pública, tem que ter saúde pública por causa desse tanto de gente drogada ali. Isso é um patrimônio de todos, é um patrimônio histórico nacional, é de interesse de todos”, afirmou.

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GALERIA DE FOTOS
Alair Ribeiro/MidiaNews

Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

Alair Ribeiro/MidiaNews

Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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Casarão Beco do Candieiro

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4 Comentário(s).

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Eli Rocha  11.03.19 08h38
Centro "histórico"? O que ninguém quer entender que o centro "histórico" de Cuiabá não existe mais. A história de Cuiabá será contada a partir da década de 70. Futuramente, o centro "histórico" que poderemos mostrar serão os condomínios horizontais, dentre eles os Alphaville´s 1 e 2, os Florais, Belvedere, dentre outros. Essa é a grande verdade, infelizmente.
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Ana  10.03.19 16h45
Vende, alugue, modernize, viver de passado é atraso de vida!
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Alex Sant  10.03.19 12h10
Isso é uma vergonha, deviam derrubar tudo isso ai e fazer algo util a populacao. Ficam alegando ser patrimônio histórico pra nao fazer NADA na área. Todos nós sabemos que á décadas, são utilizados como ponto de drogas.
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2
Raimundo  10.03.19 10h12
Raimundo, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas