Para superar dor, sudaneses montam lanchonete em Cuiabá

Há 12 anos a família do sudanês Motaz Mobara - com a esposa Limia Ali e seus três filhos - se mudou para Mato Grosso em busca de um futuro melhor. Primeiro eles viveram em Tangará da Serra, de onde saíram em 2012 para fixar residência em Cuiabá. 

Porém, uma tragédia abalou a família em 2016: a morte do filho Mobarak, de 11 anos, vítima de leucemia. A perda precoce marcou a vida de todos na casa, mas não foi capaz de abatê-los por completo. 

Limia Ali conta que, após a morte do filho - em abril de 2016 -, a família tentou uma maneira de se recuperar da tragédia pessoal. Eles então tiveram a ideia de investir na realização de um sonho, que havia sido deixado de lado desde quando chegaram ao Brasil: abrir um restaurante árabe.

Aproveitaram o espírito empreendedor da família e a vocação de Motaz, que veio para o País para trabalhar no ramo frigorífico.

“Essa luta que passamos foi um divisor em nossas vidas. Nós esquecemos tudo que ficou para trás, porque foi uma luta muito forte mesmo. Depois que ele foi para Deus, foi muito triste”, disse.

E para se ocupar e vencer o luto que viviam, todos da família se empenharam no projeto. Há seis meses conseguiram dar o primeiro passo e abrir a lanchonete “Mobi”, em homenagem ao filho.

Alair Ribeiro/MidiaNews

A sudanesa Limia Ali, contou que após a morte do filho em abril de 2016, a família decidiu investir na realização do sonho

“Um amigo nosso nos falou dessa casa, que estava bem abandonada. E então nós viemos para cá, começamos a reformar, para ocupar a cabeça. Nós trabalhamos muito, com a mão de obra mesmo. Éramos ajudantes de pedreiro. E para nós isso foi bom, porque quanto mais serviço você faz, mais a sua cabeça não fica pensando em nada. E foi bom principalmente para o meu marido, que ficou acabado com a morte do nosso filho. Então foi uma terapia muito boa para nós. Foram sete meses de reforma”, disse.

No local são servidos salgados tradicionais e pratos e bebidas típicas de países árabes, como o famoso café verde, conhecido por ajudar a emagrecer. E a sudanesa garante: todos com preços totalmente acessíveis.

Um dos lanches bastante procurado é o shawarma, mais conhecido como “shaoma” no Brasil. O sanduíche é quase um x-salada brasileiro. É feito com um pão sírio e recheado com fatias de carne de vaca ou de frango e saladas.

Outra atração são as pastas típicas árabes, servidas com o famoso pão sírio.

Além disso, no local também é possível encontrar os mais diversos doces típicos do Oriente Médio e da África muçulmana. De acordo com Limia, apenas na lanchonete da família é possível encontrar as guloseimas.

Clientela 

Apesar de estar com as portas abertas apenas há seis meses, a comerciante diz que, mesmo com a crise, o local nunca fica vazio. E não é apenas a comunidade árabe que costuma frequentá-lo. São os próprios brasileiros que viraram "figurinhas carimbadas" na lanchonete.

Limia relata que o bom retorno no início do empreendimento se dá ao tratamento que eles dão à clientela.

“Em seis meses nós temos muito clientes e para pouco tempo, acho que é muito bom, porque não são aqueles clientes que chegam e vão embora, eles sempre voltam. Para nós, os nossos clientes são amigos, e agente fala para todos quando saem daqui, ‘obrigada pela visita’, porque os tratamos como visitantes não como clientes. Porque cada um que entra aqui, traz para nós alegria e carinho”, contou.

Segundo a sudanesa, o projeto final é conseguir fazer da lanchonete um restaurante de comidas árabes, porém a família ainda não conseguiu concretizar o plano.

Além dos lanches e doces, a proprietária também vende produtos pasta de grão de bico, de berinjela e a coalhada, que eles chamam de labneh.

Todos os alimentos são halal, ou seja, foram produzidos respeitando as regras do Islã. 

O estabelecimento comercial fica localizado logo no início da Avenida General Melo, em frente à Hismet Saúde e fica aberto de segunda à sexta-feira, das 7h às 22h, e aos sábados das 16h às 22h.