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17.02.2025 | 14h06 Tamanho do texto A- A+

Professora de MT transforma educação com método alemão

Irene Duarte viu no método uma maneira de facilitar a alfabetização em turmas regulares

Samuel Macedo/Divulgação

A professora Irene Duarte, de Alta Floresta

A professora Irene Duarte, de Alta Floresta

VICTÓRIA BORGES
DA FOLHAPRESS

Um método simples que promete alfabetizar com rapidez: esse é o princípio do IntraAct, desenvolvido na Alemanha em meados dos anos 1990 e trazido ao Brasil por uma professora da rede pública de Alta Floresta, no norte de Mato Grosso, em 2021.

Queremos oportunizar um menor tempo de alfabetização, principalmente às crianças que não são o público da educação especial

 

Baseado na neurociência cognitiva, que estuda como o cérebro aprende e processa informações, o sistema organiza as letras em blocos e prioriza a facilidade da pronúncia em vez da ordem alfabética.

 

Inicialmente, ele foi criado para auxiliar crianças com dislexia, TDAH (transtorno do déficit de atenção e hiperatividade) e autismo.

  

Irene Duarte, 64, é professora há mais de 40 anos e viu no método uma maneira de facilitar a alfabetização em turmas regulares. Decidiu testá-lo numa sala com cerca de 30 alunos, incluindo um indígena que não falava português e outro com deficiência intelectual. Em quatro meses, todos aprenderam a ler.

 

A notícia correu a cidade e, em 2022, Duarte foi nomeada diretora do programa Alfabetiza Alta Floresta pela Secretaria Municipal de Educação. O material foi adotado em todas as escolas municipais. Naquele momento, apenas 35% das crianças até o final do 2º ano estavam alfabetizadas.

  

Ao fim do ano letivo, 73% dos alunos do 1º ano e 83% dos do 2º ano já liam com fluência, de acordo com a Secretaria Municipal de Educação. Hoje, a taxa beira os 90% nas turmas.

 

Em setembro de 2024, a cidade recebeu o Selo Ouro de Compromisso Nacional com a Alfabetização, certificação do MEC (Ministério da Educação) concedida a municípios que se destacam no cumprimento das metas do programa Compromisso Nacional Criança Alfabetizada, que visa a alfabetização de todas as crianças até os 8 anos e a recuperação de aprendizagem das mais velhas.

  

Desde então, o modelo tem sido replicado em outras escolas pelo país. Neste ano, o governo de Santa Catarina anunciou um piloto em 73 escolas públicas do estado, em diferentes municípios. O investimento no projeto é de R$ 875 mil.

 

O estado, que apresenta o menor índice de analfabetismo do Brasil, de acordo com o último Censo (2022), espera ampliar o progresso na educação com a nova metodologia, segundo a secretária adjunta estadual da Educação, Patrícia Lueders.

 

A seleção das escolas considerou os índices de repetência e evasão, além do histórico de alunos com dificuldades de aprendizado.

  

"Queremos oportunizar um menor tempo de alfabetização, principalmente às crianças que não são o público da educação especial, mas enfrentam barreiras para aprender", diz.

 

O método também é aplicado para alfabetizar jovens, adultos e imigrantes. Em Joaçaba, no interior de Santa Catarina, o sistema foi usado para ensinar português a 35 crianças estrangeiras de Haiti, Venezuela, Paraguai e Japão. Já Paranaíta (MT), na região de Alta Floresta, incluiu o método em programas de alfabetização para idosos.

 

O material utiliza fichas com quadros. No início, cada um apresenta uma única letra, acompanhada de cores que se repetem para reforçar a memorização. Para ajudar na concentração durante a leitura, as crianças utilizam um papel com uma abertura no centro, chamado "padrão", que direciona o olhar durante a leitura.

 

Com o avanço do aprendizado, os quadros passam a combinar diferentes letras, formando sílabas e, depois, palavras. Só mais tarde o ensino avança para a interpretação de frases e textos. Esse processo dura, em média, quatro meses.

 

Duarte explica que as crianças dominam o primeiro grupo de letras em menos de um mês. Caso algum aluno apresente dificuldades após esse período, a escola começa a investigar possíveis causas do bloqueio.

 

 

"Em Alta Floresta, descobrimos casos de violência doméstica, emocional, estupro, fome, pobreza e outros traumas. O cérebro está pronto para aprender. Se isso não ocorre, é porque tem algo acontecendo. E rapidamente observamos isso", afirma.

 

Ela destaca a importância de criar uma rede de apoio com assistentes sociais, médicos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais. "É preciso criar uma política pública de alfabetização. Nenhum método faz milagre se não houver essa preocupação em monitorar e construir estratégias eficazes", conta.

 

 

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