Equipe NewsCastle Studio

Acabaram os tempos em que os estúdios de tatuagens eram locais rodeados de homens. As mulheres estão cada vez mais inseridas nesse mercado em um movimento que chegou para ficar e tem sido, até mesmo, demandado por clientes.
Em Cuiabá, são mais de 35 estúdios de tattoos e piercing, de acordo com levantamento feito pela reportagem, que consta no Google. Opção de mulheres tatuadoras nesses locais já não é mais exceção.
Talentosas e com traços característicos, Eliz Haddad, Eduarda Galvão e Thainara Petini são algumas das profissionais da área em Cuiabá.
Eliz, por exemplo, dispunha de interesse por desenhos desde criança. Atualmente, aos 40 anos, ela se reconhece como uma profissional que conquistou seu espaço no mercado. Antes, porém, ela passou por altos e baixos, muito relacionado à doença que descobriu no ano passado, o TDAH (Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade).
Situação diferente de Eduarda - ou Duda, como é conhecida -, de 23 anos. Ela está há pouco mais de um ano na carreira e é considerada uma aprendiz. Mesmo assim, já conquista clientes no estúdio onde trabalha, fazendo em média duas tattoos por dia.
Colega de trabalho na NewCastle Studio, Thainara, ainda mais nova, com 20 anos, também tem seu lugar garantido. Depois de rodar por vários empregos e até tentar montar o próprio estúdio, conseguiu se estabelecer no atual emprego como tatuadora, ainda também aprendiz.
Três mulheres que, em momentos diferentes, desafiaram um ambiente que era conhecido como masculino. Agora, trazem uma nova atmosfera para esse mercado.
O início
Thainara conta que antes de se firmar como tatuadora, trabalhou lavando carros, em quiosques e em um shopping. Na época que estava começando a aprender sobre tatuagem, dividia o tempo entre trabalho e aprendizagem sobre a nova profissão.
Porém, a carga horária excessiva acabava atrapalhando. "Eu sempre fui apaixonada por tatuagem. Eu via isso nas pessoas e achava aquilo incrível. Queria aquilo em mim também”, disse ela ao MidiaNews.
A primeira tatto foi feita aos 17 anos. Ainda assim, ela ainda não via aquilo como sua profissão e foi descobrindo somente mais tarde que queria aquilo para vida. "Você percebe que gosta muito de algo quando abre o seu Instagram e aquilo está lá nas suas pesquisas, aparecendo em todo o seu feed", brincou.
A definição de que o ramo das tatuagens seria seu ganha pão ocorreu quando foi em uma convenção em Campo Grande (MS) com o pai, que também gosta do assunto. Ela morou, então, na capital sul-mato-grossense por um tempo. Quando voltou para Cuiabá, teve uma conversa com a família e falou sobre sua ideia de profissão.
Ela começou estudando pela internet, assistindo vídeos gratuitos e lives sobre as técnicas de tatuagem. Depois de juntar dinheiro, conseguiu comprar um curso pago.
"Foi aí que as coisas começaram a andar", disse. Ela começou fazendo os desenhos em cadernos e depois testes em outros objetos até se sentir apta a fazer em pele humana. "Quando senti confiança, aí que eu fui".
Hoje, ela gosta de trabalhar com os estilos "fine-line", que são traços finos e delicados, e blackwork, que são tatuagens em preto. Mas também se diz aberta a aprender o que vier pela frente.
Já Duda se formou e trabalha como técnica de enfermagem. Ela agregou a profissão de tatuadora quando surgiu uma oportunidade.
Eduarda tinha interesse pela arte também desde muito nova. Os traços de tatuagens também chamavam sua atenção. Mas o ingresso no mercado veio por um convite de amigos.
Paula Shaira/MidiaNews
Eduarda trabalha com tatuagens e como técnica de enfermagem
"Foi por indicação. As meninas estavam precisando de alguém, de uma mulher, para trabalhar dentro do estúdio, para estar ajudando a organização e vivenciando ali", contou.
Ela, então, começou a observar a rotina de trabalho e um dos tatuadores se dispôs a ensiná-la. Duda foi ganhando confiança e técnica e a partir de então começou a fazer as primeiras tatuagens.
Seus trabalhos são voltados para os traços finos. “Sempre procuro modificar a ideia quando o cliente já vem com ela pronta”. A partir de um consenso, ela faz tatuagens que agradam a si e ao cliente.
12 anos de carreira
Já Eliz Haddad é a mais experiente do trio. São 12 anos de carreira e ela possui o próprio estúdio, a Vortex Tattoo.
Ela também relata que teve, desde muito cedo, disposição para a arte. Os desenhos não pararam após o colegial. "Não é que eu comecei a desenhar, eu só nunca parei, desde criança", disse.
No entanto, ela não sabia o que era realmente trabalhar com arte. Pelo impulso de conseguir uma profissão que fosse aprovada pela família, passou para um curso de Química, mas logo abandonou.
Com a ajuda do marido, foi para um curso de Moda. “Ali foi um retorno para arte”. Eliz chegou a fazer o trabalho final do curso, mas não conseguiu o diploma devido a parcelas atrasadas. À época, ela estava grávida e deu prioridade a dar uma boa estrutura para a criança.
Antes de entrar de vez no mundo da tatuagem, Eliz fez trabalhos manuais, como pinturas e artesanato. Conhecendo seu potencial, um colega tatuador já tinha até se oferecido para comprar desenhos dela.
A chave, entretanto, só virou quando ela estava em casa tomando um drink com uma amiga, que observou que sempre que elas estavam juntas Eliz estava desenhando. A amiga disse então que se ela aprendesse a tatuar, seria a primeira cliente.
Paula Shaira/MidiaNews
Thainara Petini, que trabalha há quase dois anos com tatuagem em Cuiabá
Após comprar a ideia, Eliz procurou um amigo tatuador, que foi seu "mestre" na profissão. Ela começou como aprendiz, observando e ajudando a limpar e organizar o material de trabalho. Pouco tempo depois, já estava fazendo as primeiras tattoos.
As tattoos da Eliz são focadas no colorido, também chamado de aquarela. “Eu gosto muito de cor. A minha expressão com cor é uma coisa que faz vibrar a minha alma”.
Desafios de mercado
Eliz observa que o mercado atualmente está mais diversificado do que quando começou. “No meu início, tinha uns três estúdios que eu conhecia que trabalhavam com mulheres. Hoje não, tem muito mais”, disse.
Segundo Thainara, um desafio encontrado no mercado local é de que nem todos estúdios dão oportunidades para aprendizes. Além disso, cursos possuem preços elevados demais para quem busca aprender.
Já Eduarda conta que sofreu um primeiro impacto ao ter que lidar em um ambiente só com homens. “Foi complicado, mas acho que hoje está mais tranquilo. Dei um toque feminino aqui dentro do estúdio e está sendo muito bom”, comentou.
Para ela, ter uma tatuadora mulher no ambiente dá mais segurança às clientes.
“Principalmente quando é uma tatuagem íntima, por exemplo ou também em alguns lugares do corpo, porque você vai estar ali numa sala, onde vai mostrar a costela, vai levantar um pouco da blusa, vai mostrar um pouco a barriga”, disse.
“Então, tendo uma mulher ali, vai se sentir mais confiante, mais confortável, mais aconchegante”.
Para Eliz, um dos problemas da profissão era o assédio dos clientes, que iam tatuar com ela por ser mulher. “No começo, levava isso como uma aprovação do meu trabalho. A gente que é nova não entendia isso”.
Depois ela começou a delimitar o espaço entre os clientes. “Não era maioria, mas sempre tinha um ali”, contou.
Ela acredita que atualmente o mundo está tendo uma mudança de paradigmas feito por mulheres. Nessa nova postura, ela vê que ao invés de competir, as mulheres trazem a energia de compartilhar e ser pacientes.
“O meu posicionamento é que mulheres vão mudar o mundo que a gente vive hoje”, completou.
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