Um detento da Penitenciária Ferrugem, em Sinop, apontado como um dos líderes da maior facção criminosa de Mato Grosso, revelou em depoimento a existência de um atentado supostamente planejado por diretores da unidade contra juízes e promotores responsáveis pela inspeção do presídio.

O depoimento foi gravado no dia 30 de outubro pelos juízes da Corregedoria-Geral de Justiça Marcos Faleiros da Silva e Paula Thatiana Pinheiro, responsáveis pelas inspeções e que seriam os alvos do atentado.
A gravação ocorreu um dia após a realização da inspeção que revelou um cenário de tortura contra os detentos por parte de agentes prisionais, sob o comando do diretor da unidade, Adalberto Dias de Oliveira, e do subdiretor, Antônio Carlos Negreiros dos Santos.
Segundo informações do detento, o diretor da unidade e o subdiretor teriam conversado com ele pedindo que agredisse o juiz em troca de transferência para a ala evangélica em um prazo de seis meses.
O crime teria o objetivo de deslegitimar as denúncias feitas por Faleiros sobre violências na unidade.
“Ele só falou dessa forma, para eu agredir, que está queimando a imagem do pessoal que está vindo aqui [denunciar], colocando ‘nois’ como agressores”, disse o detento se referindo a suposta fala dos diretores.
“Ele ia me dar uma oportunidade daqui seis meses. Se eu fosse para a igreja, ia me tirar para trabalhar, porque eu não conseguiria ter benefício na unidade dele. O pessoal [gestores] citou os meritíssimos para eu ‘fazer o piseiro’, avançar, tentar agredir, dar murro, para queimar a imagem de todos os depoimentos que estavam vindo contra eles [policiais], para favorecer eles, entendeu?”, acrescentou.
O detento revelou ainda que no dia 29 de outubro foi levado até o Fórum de Sinop sem a presença de marcapasso - equipamento que consiste em algemas nos pés-, além de relatar que as algemas não foram fechadas corretamente no dia, o que facilitaria uma possível agressão aos magistrados.
Quebra de protocolo
De acordo com informações constantes no relatório de inspeção, para comprovar que as algemas haviam sido colocadas de forma simulada, o detento esticou os braços e os rotacionou diante dos juízes, fazendo com que o objeto caísse ao chão.
Diante da situação, um dos magistrados solicitou a presença dos policiais penais na sala; no entanto, eles não se encontravam no local, o que foi considerado quebra de protocolo de segurança.

Segundo o relatório, a situação apresenta “indícios de que os policiais se ausentaram deliberadamente para possibilitar que o detento atentasse contra as autoridades”.
Questionado sobre o episódio, no dia seguinte, o detento afirmou que não conseguiria retirar as algemas sozinho, sem auxílio, demonstrando que os equipamentos teriam sido colocados de forma simulada.
“Não tem como [abrir as algemas sem auxílio dos policiais]. Pelo menos da minha parte, nunca tentei. Não tem como”, afirmou.
O relatório
Um relatório publicado pela Corregedoria-Geral foi conduzido pelos magistrados Marcos Faleiros da Silva e Paula Thatiana Pinheiro, juntamente com dois servidores.
De acordo com o documento, a inspeção ocorreu nos dias 29 e 30 de outubro deste ano, após diversas denúncias, e ouviu 126 presos.
O material aponta a prática de tortura, com o posicionamento dos detentos em posturas degradantes e agressões físicas. Segundo o relatório, 48 detentos apresentaram cicatrizes ou lesões recentes de balas de borracha, indicando um padrão de agressão em datas distintas.
Outro ponto destacado pelo documento foi a existência de um “poder paralelo” na unidade, marcado pelo desprezo às decisões judiciais, intimidação de autoridades e repetição sistemática de práticas de tortura já denunciadas em inspeções anteriores, inclusive no relatório de 2020, além de ameaças aos magistrados que conduziam o processo.
Veja o vídeo:
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