Cuiabá, Quinta-Feira, 9 de Outubro de 2025
DISPUTA BILIONÁRIA
09.10.2025 | 10h36 Tamanho do texto A- A+

Grupo em recuperação detém R$ 540 milhões em créditos do Pupin

Empresas ligadas à Midas/Fource concentram créditos e suspeitas de conluio e conflito de interesses

Reprodução

O empresário Nelson Vigolo, do Grupo Bom Jesus: meio bilhão de reais em ativos da Pupin

O empresário Nelson Vigolo, do Grupo Bom Jesus: meio bilhão de reais em ativos da Pupin

THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O Grupo Bom Jesus Agropecuária Ltda., controlado pelo empresário Nelson José Vigolo, tornou-se o maior credor do Grupo Pupin, com aproximadamente R$ 540 milhões em créditos.

É público e notório no meio do agronegócio, o vínculo do Grupo Bom Jesus com o Grupo Midas/Fource

 

Segundo ação judicial movida pelo produtor José Pupin, tal fato "causa estranheza", já que a Bom Jesus também está em recuperação judicial e, mesmo enfrentando dificuldades financeiras, a empresa adquiriu créditos vultosos da multinacional Cargill Agrícola S/A, que havia requerido a falência do Grupo Pupin em 2021.

 

A recuperação da Bom Jesus foi encerrada por acórdão, da 1ª Câmara de Direito Privado do TJ-MT, em fevereiro de 2023, mas sem trânsito em julgado, pois aguarda o julgamento de recurso especial.

 

Na ação ajuízada pelo escritório do advogado Eumar Novacki, Pupin acusa o grupo Midas/Fource de ter se infiltrado na recuperação judicial de seu grupo e passado a agir de forma “parasitária”, controlando o patrimônio da empresa e desviando recursos milionários sob o pretexto de promover sua reestruturação financeira.

 

Pupin e sua esposa, Vera Lúcia Camargo Pupin, alegam que foram induzidos a assinar contratos e procurações que transferiram o comando das fazendas e ativos do grupo à Fource, sem qualquer autorização judicial — em violação direta à Lei de Recuperação e Falências.

 

Segundo a petição, a Fource Consultoria Empresarial Ltda., a Fource Participações Ltda. e a Midas Agro Investimentos S/A se aproximaram da empresa em crise prometendo reestruturação, mas acabaram assumindo o controle operacional e financeiro do grupo.

 

“O que se revelou foi uma manobra de alavancagem da Midas/Fource por meio da utilização do próprio patrimônio do Grupo Pupin”, descrevem os advogados.

 

Segundo a ação de Pupin, ficou demonstrado que as empresas ligadas à Fource e à Bom Jesus concentram mais de R$ 870 milhões em créditos, consolidando um núcleo de poder econômico em torno da recuperação do Grupo Pupin.

 

Fource e Bom Jesus

 

A ação judicial de Pupin também destaca que Valdoir Slapak, ex-diretor financeiro do Grupo Bom Jesus, é um dos nomes centrais da Fource — e chegou a receber procuração pública da Bom Jesus para representá-la em negócios, no mesmo cartório em que foi lavrada a procuração que deu à Fource o controle dos bens do Grupo Pupin.

 

A coincidência reforça, segundo a defesa de Pupin, o vínculo societário e a atuação coordenada entre as companhias.  "É público e notório no meio do agronegócio, o vínculo da Bom Jesus com o grupo Midas/Fource, o que pode ser corroborado pelo histórico da relação profissional de Valdoir Slapak, ex-diretor financeiro do grupo, conforme divulgado no seu perfil do Linkedin", diz a ação.

 

Além da Bom Jesus, outras empresas ligadas a Vigolo, como a ABJ Comércio Agrícola Ltda. e a Agropecuária Araguari Ltda., aparecem entre as detentoras de créditos relevantes. A ABJ, inclusive, foi signatária do contrato original com o Grupo Pupin, firmado em setembro de 2020.

 

O documento judicial cita ainda fundos de investimento que teriam participado da aquisição de créditos do Grupo Pupin — entre eles AFARE I, 4SSETS, KRIPTA e ROMA FIDC-NP. Todos são administrados pela Trustee DTVM, instituição mencionada em investigações da Polícia Federal sobre movimentações financeiras suspeitas na Faria Lima.

 

Esses fundos têm como procuradora a advogada Elaine Gomes dos Santos, o que indica, segundo os advogados dos Pupin, uma "atuação conjunta e coordenada entre as partes".

 

Cessões de créditos e conflito de interesses

 

A estratégia da Fource/Midas, segundo a petição, consistia em comprar créditos de grandes credores – como os bancos John Deere e Votorantim – logo após assumir o controle do caixa da empresa em recuperação. Isso lhes permitiu influenciar votações de assembleias de credores e consolidar poder no processo judicial.

 

A defesa do Grupo Pupin aponta “confusão patrimonial e conflito de interesses”, já que as mesmas empresas atuavam ora como gestoras, ora como credoras. O relatório da administradora judicial confirma que o grupo Midas/Fource chegou a votar na Assembleia Geral de Credores, na condição de cessionário de créditos.

 

Os números da disputa

 

De acordo com planilhas anexadas à petição, as principais empresas e fundos relacionados ao caso detêm os seguintes valores aproximados:

 

Empresa/Fundo Crédito Total
Bom Jesus Agropecuária Ltda. R$ 584 milhões
Midas Agro Investimentos S/A R$ 188 milhões
Fource Participações Ltda. R$ 58,5 milhões
ABJ Comércio Agrícola Ltda. R$ 34 milhões
Agropecuária Araguari Ltda. R$ 7 milhões
Global Trade Investimentos e Participações     R$ 1,8 milhão

 

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