Os policiais militares denunciados na Operação Simulacrum por forjarem confrontos para cometer execuções transferiram R$ 4,4 mil para a conta bancária da esposa do segurança particular Ruiter Cândido da Silva, acusado de armar as emboscadas para atrair suspeitos de crimes. Ele também teria recebido dinheiro em espécies do PMs, bem como celulares, armas e drogas apreendidas com as vítimas.
A informação é do Ministério Público Estadual (MPE), autor de seis denúncias contra dezenas de policiais e o segurança.
Conforme o MPE, as transferências foram realizadas entre julho de 2019 e outubro de 2020, sempre depois dos supostos confrontos forjados (veja abaixo).
Entre as transferências, chama atenção, de acordo com o órgão, uma no valor de R$ 1,5 mil feita pelo Grêmio Recreativo e Esportivo Rotam, dois dias após a morte de Mayk Sanchez Sabino e as tentativas de homicídio contra Rômulo Silva Santos e mais duas pessoas não identificadas, em 2020.
A morte de Mayk e as tentativas de homicídio contra os outros três homens deram base a uma das seis denúncias apresentada na quinta-feira (27) contra 17 policiais.
“Resta clarividente os contornos corporativos, não somente as transferências bancárias realizadas por vários dos envolvidos, mas especialmente transação de 1.500,00 (realizada pelo Grêmio Recreativo e Esportivo Rotam, dois dias após os crimes objeto desta denúncia, entidade dirigida pelos implicados Túlio Aquino Monteiro da Costa (vice-presidente), oficial encarregado pelas medidas preliminares de “Polícia Judiciária Militar” e Marcos Antônio da Cruz Santos, integrante da equipe de inteligência Rotam (2° Tesoureiro)”, diz trecho das denúncias.
"A remuneração é realizada por policiais militares, que podem ser do serviço reservado da inteligência ou operacional, pelos seguintes meios: quantia
monetária em espécie (dinheiro físico), transferência na conta bancária da esposa do interrogado à época Kassia de Matos Moreira, aparelhos celulares das vítimas, dentre outros produtos como armas e drogas", consta em outro trecho.
Ainda conforme o MPE, o aparelho celular de uma das vítimas, nos dias imediatamente seguintes à sua morte, recebeu um novo número e efetuou diversas ligações para terminais fixos de unidades da Polícia Civil e Militar.
Veja as transferências:
A primeira denúncia
Na quinta-feira (27) foram denunciados os policias militares Altamiro Lopes da Silva, Antônio Vieira de Abreu Filho, Arlei Luiz Covatti, Diogo Fernandes da Conceição, Genivaldo Aires da Cruz, Heron Teixeira Pena Vieira, Ícaro Nathan Santos Ferreira, Jairo Papa da Silva, Jonathan Carvalho de Santana, Jorge Rodrigo Martins, Leandro Cardoso, Marcos Antônio da Cruz Santos, Thiago Satiro Albino, Tulio Aquino Monteiro da Costa, Vitor Augusto Carvalho Martins, Wesley Silva de Oliveira, Paulo Cesar da Silva e o segurança particular Ruiter Cândido da Silva.
Conforme o documento, Ruiter cooptava indivíduos dispostos a praticarem um delito patrimonial e os convencia de que seria um crime fácil e lucrativo. Inclusive, em alguns casos se dizia segurança do local e que facilitaria o roubo.
Entretanto, ainda segundo a denúncia, tudo era armação. Ele conduzia os supostos criminosos para um local onde os policiais aguardavam para interceptá-los. Ali, simulavam um confronto para executar as vítimas, diz o MPE.
“Em todos os casos, verifica-se que o responsável por selecionar as pessoas que seriam mortas (ditos ‘malas’) as escolhia a esmo e de acordo com suas impressões pessoais, e que os policiais militares envolvidos direta ou indiretamente nos homicídios sequer sabiam quem estava sendo executado”, diz trecho da denúncia.
Ruiter confessou a condição de cooptador e confirmou as suspeitas de que essas situações eram ‘armadas’ em conjunto com policiais militares, visando arrebatar indivíduos com ou sem passagens criminais.
Mais denúncias
Na sexta-feira, o MPE apresentou mais cinco denúncias contra policiais militares.
Entre os fatos denunciados consta o confronto ocorrido em outubro de 2019 na Estrada do Manso, que terminou com a morte de cinco supostos criminosos. São eles: Bryan Christian Rodrigues Pinheiro, Kelvin Dias Nascimento, Lucas Matheus Campos Arce, Francisco Junior de Carvalho e Vanderson da Conceição Ferreira.
Neste caso, em específico, foram denunciados os policiais militares Diogo Fernandes da Conceição, Raffael Garcia Marvulle, Altamiro Lopes da Silva, Maurício Alves Pereira Junior, Alersony Christian Gomes de Arruda, Wilson Ulisses Alves de Souza, Edson Willian de Arruda, Leonardo de Oliveira Penha, Jonatas Bueno Trindade, Marcos Antônio da Cruz Santos, Allan Carlos Miguel, Claudio Batista Leal, Ageu Leal Silva, Heron Teixeira Pena Vieira, Jairo Papa da Silva, Jonathan Carvalho de Santana e o segurança particular Ruiter Cândido da Silva, acusado de armar as emboscadas.
De acordo com a denúncia, as vítimas foram atraídas ao local em que foram executadas por Ruiter, sob o pretexto de cometer um roubo em uma chácara localizada nas proximidades.
Assim que as vítimas chegaram ao local, segundo o MPE, foram surpreendidas pelos policias, que as renderam e, em seguida, as executaram.
A segunda denúncia apresentada na sexta diz respeito ao confronto supostamente forjado pelos policiais no dia 30 de outubro de 2020, no Distrito de Souza Lima, em Várzea Grande, e vitimou Kaio Henrique Miranda de Araújo, Franklin Thomé Arruda Ferreira Mendes, Lucas Conceição Silva e Deyverson Ferreira de Oliveira Mota.
Nesse caso foram denunciados Alisson Rocha Brizola, Anderson Gomes de Castro, André Felipe de Carvalho Campos, Cezar Adriano Prado Gomes, Dagner João Santana da Silva Oliveira, Fernando Cesar de Oliveira, Gederson Barbosa dos Santos, Israel Xavier Girotto, Jefferson Alves do Carmo, Magno Sousa do Nascimento, Marcos Gustavo Soares de Oliveira, Nayara Rodrigues Belo, Rhodiney Marques Silva, Robson dos Santos, Rogério Aparecido Teixeira de Lima e Ruiter Candido Da Silva.
Outra denúncia refere-se ao suposto confronto forjado no dia 29 de julho de 2020, na região de chácaras Recanto das Seriemas, no Bairro Itamaraty, em Cuiabá. Na ocasião, morreram André Felippe de Oliveira Silva, Gabriel de Paula Bueno, Jhon Dewyd Bonifácio de Lima, Leonardo Vinycius de Moraes Alves, Oacy da Silva Taques Neto e Willian Dhiego Ribeiro Moraes. Ficaram feridos Geovane Ferreira Sodré e Rogério Da Cruz Liberatori.
Foram denunciados Everton Bespalez, Antônio José Ventura de Almeida, Luiz Fernando de Souza Neves, Ricardo da Silva Duarte, Alex Sandre Souza dos Santos, Jonas Benevides Correia Junior, Berlitz Alves de Oliveira, Lucas Alves Bataielo, Antônio Vieira de Abreu Filho, Eduardo Moreira Lauriano, Cleber De Souza Ferreira e Jonathan Carvalho de Santana.
O fato da quarta denúncia de sexta-feira ocorreu no dia 30 de junho de 2020, também na Estrada do Manso, próximo ao Condomínio Golf Club. Conforme o MPE, os policiais mataram José Carlos Fernandes Dumont, Cleberson Rodrigo Marques e Silva, Cleber Neves de Andrade, João Vitor Chaves, e tentaram matar Diego Arruda Nascimento.
Nesse caso foram denunciados Alexandre dos Santos Lara, Benedito Patrício da Silva Junior, Bruno Pedro Tavares Correia, Elias Jose Lopes Schuina, Esmail da Silva Gorgonha, Heron Teixeira Pena Vieira, Icaro Nathan dos Santos Ferreira, Jairo Papa da Silva, Jonathan Carvalho Santana, Patrick Lauro Loureiro de Almeida, Ronaldo Reiners, Thiago Padilha de Moraes, Ruiter Candido Da Silva, Thiago Satiro Albino, Tulio Aquino Monteiro da Costa e Wilson Ulisses Alves de Souza.
A última denúncia refere-se ao suposto confronto forjado que ocorreu no dia 3 de outubro de 2017, na localidade conhecida como “Mangueiral”, na região do Rodoanel, entre as Rodovias Emanuel Pinheiro e Elder Cândia, em Cuiabá. Morreram na ocasião Mayson Ricardo de Moraes Dihl, Fabrício Soares Ferreira e Deberson Pereira de Oliveira.
Foram denunciados Tulio Aquino Monteiro, Abner James Lopes Silva, Luciano Baldoino dos Santos, André Luiz dos Santos Souza, Geraldo Vieira da Silva, Jackson Pereira Barbosa, Arlei Luiz Covatti, Tiago de Jesus Batista Borges, Vinícius Santos de Oliveira, Jonatas Bueno Trindade, João José Fontes Pinheiro Neto, José Roberto Rodrigues da Silva, Cleber De Souza Ferreira, Jhonatan Carvalho De Santana e Heron Teixeira Pena Vieira.
Todas as denúncias são assinadas pelos promotores de Justiça Vinicius Gahyva Martins, Marcelle Rodrigues da Costa e Faria, Samuel Frungilo, Jorge Paulo Damante Pereira e César Danilo Ribeiro de Novais.
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