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LAZER POPULAR
16.08.2011 | 10h00 Tamanho do texto A- A+

Estrela em exposição de fotos em Nova York, Piscinão padece em Ramos

Às vésperas de completar dez anos, área de lazer do Rio está abandonada

Moradores reclamam de mau cheiro

Moradores reclamam de mau cheiro

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A partir de 21 de setembro, 11 painéis com imagens do Piscinão de Ramos, assinadas pelo fotógrafo paulista Júlio Bittencourt, estarão expostas na galeria 1500, em Nova York. Enquanto brilha nos Estados Unidos, o Piscinão está "abandonado" em Ramos, zona norte do Rio, às vésperas de completar dez anos de existência, em setembro.

A área de lazer, um lago artificial ao lado da praia de Ramos, fez sucesso após a inauguração, em 2001, e reunia cerca de 50 mil pessoas por dia da zona norte e Baixada Fluminense, nos fins de semana de verão. Chegou a ser mostrado na novela "O Clone", da TV Globo, freqüentado pela personagem Odete (Mara Manzan). "Cada mergulho é um flash!", dizia a personagem.

Hoje, a água tem mau cheiro, lodo e moradores relatam coceiras após o banho. A reportagem viu lixo e até fezes nas bordas. "A água está imunda. O pessoal reclama do cheiro de lodo que sobe, principalmente nos dias mais quentes. Muita gente não entra na água. Eu prefiro mergulhar na praia de Ramos", disse o barraqueiro Marcelo Correia. "O pessoal toma banho e sai se coçando. Muita gente fica só tomando sol, sem mergulhar", completa a irmã, Ana Lúcia, que trabalha com Marcelo.

Dos quatro banheiros recentemente construídos e pintados de azul, só um fica aberto ao público. Mas a três metros de distância da porta, é possível sentir o forte odor fétido. Entrar provoca ânsias de vômito. Há fezes no chão, as duas pias estão quebradas e, aparentemente, ninguém o limpa regularmente.
"Quando estão abertos é uma podridão, você entra pisando em cocô", contou Ana Lúcia, que trabalha no Piscinão desde a inauguração. "O banheiro não tem como usar. Por isso o pessoal faz na água. Tinha que ser pago, R$ 0,50, R$ 1...", opinou a freqüentadora Silvia de Oliveira.

A quadra de esporte, com o chão de cimento esburacado, não tem condições de uso. As grades ao redor da quadra estão destruídas, os aros da tabela de basquete quebrados, as cestas rasgadas. A lona cultural onde ocorriam shows de música hoje se resume à estrutura metálica, a cobertura já não existe. A cerca também está em péssimo estado de conservação. A praça do Piscinão está mal cuidada e tomada pela lama e lixo.

Apenas o campo de futebol soçaite de grama sintética - cujo piso foi trocado em fevereiro - está em bom estado, e é usado por escolinha para crianças, programa da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer.
O músico Lindenberg Cícero da Silva, o Bherga, 52 anos, conta que cresceu tomando banho na praia de Ramos, na Baía de Guanabara, antes de a poluição tornar isso um risco à saúde. "Eu tomava banho direto na praia de Ramos (dentro da Baía de Guanabara). O meu último banho foi em 1979, já não tinha condições, era muito esgoto."

Com músicas e uma música intitulada "SOS Praia de Ramos", ele participou do movimento que levou à criação do Piscinão. "Acho que vou precisar fazer uma nova música: SOS Piscinão de Ramos. Aqui está abandonado", disse Bherga.

Fotógrafo alugou ‘laje' na comunidade para ensaio


Bergha serviu como uma espécie de cicerone para o fotógrafo Júlio Bittencourt, que, há três anos e meio freqüenta o Piscinão de Ramos em busca de imagens inusitadas e bem-humoradas que reflitam um "outro Rio", diferente daquele das praias da zona sul.

"A ideia do trabalho era mostrar um outro Rio, não o das praias da zona sul. As pessoas são felizes, não precisam de muito nem estão preocupadas se o biquíni não é o último que saiu na moda. As fotos têm humor do subúrbio carioca", explica Júlio.

A exposição vai de setembro a janeiro em Nova York, com fotos de 1,65 metro por 1,10 metro. Para fazer o ensaio, que deve virar livro, o fotógrafo conta que chegou até a alugar uma "laje" na comunidade. "Claro que me banho lá, vou lá com minha bermudinha, sem camisa e chinelo", riu. Júlio já expôs fotos suas em lugares como França, Alemanha, Japão, Argentina e Austrália, entre outros países.

Secretário municipal anuncia que vai fechar Piscinão para obras


Governador do Piscinão, o deputado federal Anthony Garotinho (PR-RJ) responsabilizou, em seu blog, o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), e o prefeito Eduardo Paes (PMDB) - a prefeitura assumiu o espaço - pela situação do espaço. "A água está imunda, não é trocada, cheia de lixo, vive às moscas, e tudo está quebrado", escreveu Garotinho.

O secretário municipal de Esportes e Lazer, Romário Galvão, afirmou ao iG que o Piscinão será fechado em setembro para obras. "O Piscinão vai ser fechado, vamos trocar a água, o fundo, renovar a areia. Vai reabrir em novembro", anunciou Romário.

De acordo com o secretário, o projeto está em fase de licitação. "Vamos mudar tudo. Estamos na fase de licitação. A lona vai deixar de existir, sai a estrutura de ferro, e dará lugar ao projeto Arena Carioca. Entra um espaço para teatro, música e aulas. A quadra de esportes será refeita e coberta e faremos outra quadra. O grande problema era a conservação no fim de semana, quando o complexo recebe uma quantidade de gente enorme", disse.

 




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