A atmosfera terrestre é uma tênue colcha gasosa que envolve o planeta. Mantida pela atração gravitacional da Terra, possui espessura média de 480 km a 600 km, não atende a limites rígidos por sofrer influências diversas: da gravidade, das estações do ano, da atividade solar etc.
Nela se formam as nuvens, essenciais para a recondução da água à superfície terrestre; através dela ocorre a propagação do som, indispensável às comunicações; graças a ela os pássaros podem voar, assim como os aviões e parapentes; devido a ela se formam os ventos, que descrevem os seus movimentos; nas noites polares proporciona cortinas brilhantes de luzes multicoloridas, chamadas “auroras polares”; assegura o esplendor azul que adorna os céus diurnos; ao mesmo tempo é responsável pelo verdor das florestas etc.
É um dos fatores essenciais para o surgimento e a sustentação da vida no planeta ― ao absorver grande parte dos raios solares ultravioleta, antes que atinjam o solo (camada de ozônio); outro dos seus efeitos vitais é reaquecer a superfície do planeta ao reter ondas de calor próximas ao infravermelho (efeito-estufa), assegurando a temperatura média do planeta em torno de 15 0C, permitindo assim a ocorrência de água no estado líquido; reduz a amplitude térmica entre dia e noite, principalmente pelo efeito-estufa natural (vapor d’água e dióxido de carbono), impedindo o escape rápido do calor para o espaço durante a noite; penetra em nossos pulmões, especialmente o oxigênio, tornando a vida possível.
As múltiplas interações da atmosfera com os oceanos, com a biosfera e, sobretudo, mais recentemente, com o homem, mostram um planeta agindo em permanente mudança. Tais interações são complexas, dinâmicas em si mesmo, onde o equilíbrio climático, passado ou presente, resulta das trocas de energia e matéria entre esses diversos compartimentos.
O ar seco, nas proximidades do solo, compõe-se de nitrogênio (78%), oxigênio (21%) e o argônio (0,9%). Há ainda vários outros gases, mas não influenciam significativamente o comportamento da atmosfera, por sua baixa concentração no ar. No entanto, a presença de vapor d’água, ozônio e dióxido de carbono importa, e muito, porque esses componentes absorvem ondas de calor próximas ao espectro infravermelho, com efeito na elevação da temperatura da atmosfera.
A atmosfera de Vênus oferece bom exemplo do quão drástico pode ser a presença de um gás de efeito-estufa sobre a temperatura do planeta. A atmosfera venusiana contém 98% de dióxido de carbono. Consequência: a temperatura na sua superfície chega a 477 0C. Bem ao contrário e felizmente, na atmosfera terrestre, a concentração de CO2 é de pouco mais de 0,04% (430 ppm). Ocorre, porém, que se essa concentração se elevar um pouco mais, a “apenas” 550 ppm, o aumento catastrófico da temperatura em algumas regiões da Terra poderá ser superior a 6 0C.
O aumento da concentração de CO2 na atmosfera prende-se à queima de combustíveis fósseis e aos desmatamentos, principalmente. Esse indicador revela dados preocupantes sobre as mudanças climáticas e os seus impactos no clima global e no ambiente. Em 2024, constatou-se elevação de 3,75 ppm na concentração desse gás, relativamente a 2023. Estima-se que o aumento será de 2,26 ppm neste ano de 2025, ainda em trajetória de crescimento.
O nível crescente de CO2 compromete a consecução do objetivo de limitar o aquecimento global a, no máximo, 2 0C acima do nível de antes da Revolução Industrial. Esforços são envidados para que esse aumento seja contido abaixo de 1,5 0C, conforme estabelece o Acordo de Paris (COP21-2015). Segundo o mesmo Acordo, os recursos para financiar as medidas contra o aquecimento global (100 bilhões de dólares anuais) provirão dos países mais desenvolvidos, maiores causadores do aquecimento, além de investimentos públicos e privados do país.
O acordo não impôs meta específica de redução de emissão para este ou aquele país. Cada país determinou sua própria contribuição nesse sentido. O Brasil, por exemplo, comprometeu-se a reduzir as emissões em 43% até 2030, em relação ao nível de 2005.
Os compromissos com a redução das emissões até 2030 (Acordo de Paris) não vêm sendo cumpridos. Também os recursos alocados estão aquém do que fora acordado. As emissões globais de CO2 chegam a 40 bilhões de toneladas por ano, atualmente. (Em 2005, eram de 30 bilhões.) Diante disso, provavelmente, não haverá mais tempo para conter o aumento da temperatura abaixo de 2,8 0C, segundo as previsões mais otimistas.
Em face dos inúmeros eventos climáticos e desastres sem precedentes hoje verificados, com extremos climáticos ainda piores sendo esperados, deve o poder Público da União, dos Estados e dos Municípios somar esforços no sentido de encontrar e implementar soluções ambientais para as nossas cidades. Urge integrar estratégias e ações tanto de mitigação quanto de adaptação aos impactos, o que inclui dar proteção à população ― especialmente aos grupos mais vulneráveis.
Mesmo ferida, a Terra seguirá existindo ainda por bilhões de anos. A humanidade, no entanto, pode não sobreviver às feridas que ela mesma ― e contra si mesma, abre no seio de Gaia. A hora é, pois, de cuidado e cura. A não ser assim, o futuro trará a nossa extinção.
Paulo Modesto Filho é doutor em Meio Ambiente e Biologia Aplicada, UCL-Bélgica.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|