Cuiabá, Quinta-Feira, 11 de Setembro de 2025
DIEGO GUIMARÃES
11.09.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Emergência da saúde

Dia de Prevenção ao Suicídio é data que deve estender-se o ano todo

O 10 de setembro, reconhecido como o Dia de Prevenção ao Suicídio, é mais do que uma data simbólica: é um chamado para a sociedade encarar de frente um problema que há muito tempo permanece cercado de silêncio e preconceito. Os números são alarmantes e não podem ser ignorados. 

 

A Organização Mundial da Saúde estima que 700 mil pessoas percam a vida anualmente por suicídio em todo o mundo. No Brasil, a situação também exige atenção urgente. Entre 2016 e 2021, as taxas de mortalidade cresceram de forma dramática: 49,3% entre adolescentes de 15 a 19 anos e 45% entre jovens de 10 a 14 anos, segundo dados da Secretaria de Vigilância em Saúde divulgados em 2022. 

 

São vidas ceifadas precocemente, sonhos interrompidos e famílias marcadas para sempre por uma dor que poderia ser evitada. O fato de que apenas 38 países no mundo contam com uma estratégia nacional de prevenção evidencia ainda mais o quanto estamos atrasados na construção de políticas públicas efetivas e duradouras.

 

No Brasil, desde 2014, o Setembro Amarelo, promovido pela Associação Brasileira de Psiquiatria em parceria com o Conselho Federal de Medicina, tem desempenhado um papel fundamental ao levar informação, quebrar tabus e mobilizar diferentes setores da sociedade. 

 

A campanha é essencial, mas não pode se limitar ao calendário de um único mês. A prevenção precisa estar presente nas escolas, nas comunidades, nos ambientes de trabalho e em todos os espaços de convivência social. É necessário que cada município assuma o compromisso de desenvolver estruturas locais de acolhimento e escuta, capazes de atender as pessoas em sofrimento com dignidade e agilidade.

 

Entretanto, não basta criar centros de atendimento sem garantir a eles as condições adequadas de funcionamento. Infelizmente, em muitos municípios, os serviços de saúde mental existentes - quando existem - enfrentam desafios de sobrecarga de trabalho, falta de estrutura e equipes reduzidas. Profissionais que deveriam ter tempo e tranquilidade para ouvir e acolher acabam esgotados, lidando com jornadas intensas, excesso de demandas e recursos limitados. 

 

Essa realidade prejudica a todos: o trabalhador, que sofre com estresse e desgaste emocional, e o cidadão em busca de ajuda, que encontra um atendimento fragilizado, lento e muitas vezes insuficiente diante da gravidade do seu sofrimento. Para ressaltar a importância de investir na qualidade dos atendimentos, cabe lembrarmos que, em 2024, houve 339 casos de suicídio em Mato Grosso. Esse contexto mostra que o sofrimento mental, mesmo com números avassaladores e preocupantes, ainda é discutido apenas "nos bastidores" familiares e em um nível da política de saúde pública que não contempla a profundidade de cada caso.

 

Investir em centros municipais de acolhimento bem estruturados não é apenas garantir portas abertas, mas que esses espaços sejam de de cuidado, confiança e transformação. 

 

Mas, se os serviços públicos têm papel essencial, é igualmente importante reconhecer que a família é a primeira rede de apoio emocional. É dentro de casa que muitos sinais de sofrimento aparecem antes de se tornarem crises graves. Mudanças bruscas de comportamento, isolamento, queda no rendimento escolar ou profissional, alterações no sono e no apetite são sinais de alerta que não podem ser ignorados. 

 

A escuta atenta, sem críticas ou preconceitos, faz toda diferença. Muitas vezes, a pessoa que sofre não precisa de respostas prontas, mas de alguém disposto a estar ao seu lado, validando sua dor e demonstrando interesse genuíno pelo que sente.

 

A família também cumpre um papel fundamental na busca por ajuda profissional. Incentivar o acompanhamento médico e psicológico, acompanhar em consultas, organizar a rotina de cuidados e oferecer suporte prático são gestos que demonstram compromisso com a recuperação. 

 

Mais do que isso, é preciso criar em casa um ambiente de diálogo aberto, onde sentimentos possam ser compartilhados sem medo de julgamento. Famílias que cultivam relações de confiança e acolhimento reduzem significativamente o risco de agravamento de quadros de depressão, ansiedade e outros transtornos.

 

Portanto, o Setembro Amarelo e o Dia de Prevenção ao Suicídio não devem ser vistos apenas como marcos no calendário, mas como um alerta permanente de que a preservação da vida depende da soma de esforços entre poder público, profissionais de saúde, sociedade civil e famílias. Precisamos transformar campanhas em políticas concretas, estatísticas em histórias de superação e silêncio em diálogo. 

 

Prevenir o suicídio é um ato de humanidade, de responsabilidade coletiva e de compromisso ético com as gerações presentes e futuras.

 

Diego Guimarães é deputado estadual.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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