Serys, PT e momento

Não há mais dúvida no meio político de que a direção nacional do PT e líderes políticos desse partido estavam a favor do Carlos Abicalil na disputa com Serys Marly para a vaga ao Senado em MT. Aqui foi o único lugar do país em que alguém do PT com mandato de senador não pode ir à reeleição.

O PT nacional foi contornar problemas em Minas, Pernambuco, Distrito Federal e Maranhão. Em Mato Grosso deixaram a coisa correr e os fatos indicam que por trás apoiavam a atuação do Abicalil contra a Serys. Aliás, ela mesma confirmou isso numa entrevista dada ao blog Congresso em Foco. Reclamou com todas as letras da atuação do PT no seu caso.

Em outubro de 2002, logo depois da eleição, a Serys já eleita senadora, esta coluna dizia que a atuação dela em Brasília seria melhor se o Lula perdesse o segundo turno para o Serra.

Ela tinha um passado de oposição desde a universidade, passando pela Assembleia Legislativa, uma vida inteira nessa trincheira. Se o Serra fosse eleito ela saberia como cutucar seu governo. Num governo do seu lado sua atuação poderia ser comprometida, dizia a coluna.

A tese levantada no artigo era saber como a Serys ia se comportar sendo, pela primeira vez, situação e não oposição. Heloisa Helena, que não sabe também ser situação, logo abriu tiroteio em cima do próprio grupo e partido. A Serys ficou num meio termo que a machucou, ela pagou o preço agora.

Talvez se possa especular ainda que a direção nacional do PT e do governo a amarrou quando apoiaram seu nome para ocupar cargo do partido na mesa diretora do Senado. Um lugar que sentaria só com o apoio de Zé Dirceu, de corrente contrária a ela, e dos dirigentes partidários. O PT não podia ter mais de uma Heloisa Helena. Daí talvez a cooptação feito à Serys.

Mais tarde, no caso do mensalão, a Serys não botou a cara à tapa como fizeram outros membros do PT, incluindo o Abicalil. Agora, mais ao final do seu mandato, ela tomou ações pelo partido e o grupo, como aquele caso quando encerrou uma sessão deixando a oposição na bronca porque queriam pegar o Sarney.

Ações assim parecem que já era tarde. Quem sabe se pode especular que essa ambiguidade em Brasília a atrapalhou junto aos dirigentes maiores da sigla.

Antero de Barros que se cuide. Pode acontecer aquilo que ele mesmo previra: o PT nacional vai jogar todas as fichas no Carlos Abicalil. A infra-estrutura de campanha dele será muito forte e virá de fora. Não falo de nada ilegal, falo do interesse do PT nacional em sua eleição para o Senado. Vão jogar tudo contra o Antero, um dos algozes daquele partido enquanto senador.

Soube que até o Lula viria a MT fazer campanha para o Abicalil. Se ocorrer, é outra demonstração de que os dirigentes maiores do partido preferiam sua candidatura à da Serys.

ALFREDO DA MOTA MENEZES é professor universitário e cientista político.
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