KATIANA PEREIRA
DA REDAÇÃO
O corpo de um jovem que morreu em um acidente automobilístico, na rodovia MT-251, que liga Cuiabá a Chapada do Guimarães, no dia 3 de março passado, ficou "perdido" no Instituto Médico-Legal (IML) da Capital durante 17 dias, e foi entregue à família em estado de decomposição.
O episódio absurdo foi descoberto graças a uma denúncia feita pela Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT). Na quarta-feira (30), a comissão enviou ofícios ao secretário de Segurança Pública (Sesp), Diógenes Curado, ao governador Silval Barbosa e ao diretor-geral da Polícia Civil, Gilmar Dias Carneiro, solicitando providências urgentes sobre o caso.
A comissão informou também que a família da vítima irá acionar a Justiça contra a omissão de atendimento no IML. O corpo do jovem (com idade presumível de 30 anos), que foi atropelado por uma caminhonete na estrada de Chapada, estava em acentuado estado de putrefação, dificultando o reconhecimento por parte da família.
O irmão da vítima relatou ainda que funcionários do IML garantiam que o corpo não estava no local, apesar de estar identificado. Com as negativas do instituto, a família começou uma busca incansável pelos hospitais, sem sucesso.
Sem nenhum sinal de que o rapaz estaria vivo ou morto, restou à família registrar um boletim de ocorrência sobre o desaparecimento do jovem. Com a certeza da morte do parente, a família retornou ao IML e ouviu outra negativa.
O cadáver só foi encontrado no dia último dia 23, quando o próprio irmão da vítima vasculhou o livro de registro do IML e encontrou informações sobre a entrada do corpo.
Diante do fato, a família foi autorizada a reconhecer o corpo. Mas, na verdade, o corpo estava quase irreconhecível, em avançado estado de decomposição. Ao questionar o motivo, funcionários do local informaram que a geladeira estava com problemas e não havia sido consertada.
O diretor do IML, Jorge Caramuru, negou a informação de defeito na geladeira. "Posso afirmar que a geladeira não está com defeito. Estou apurando o caso e, até o momento, não sei quem recebeu o corpo. O fato será apurado e os esclarecimentos prestados. Até o momento, o que sei é por informações que a imprensa tem divulgado", disse o médico, em entrevista ao MidiaNews.
Inquérito
De acordo com a presidente da comissão, Betsey Polistchuk de Miranda, é inadmissível um fato como este, que viola a Constituição Federal.
"O direito do ser humano tem início na concepção e não termina após a morte, pois a violação, seja por omissão ou qualquer outra causa, post mortem, enseja contra os omissivos e violadores punição dentro da esfera penal e, na cível, as reparações devidas", disse.
Betsey Miranda solicitou, entre outras medidas, desde a abertura de inquérito, sindicância administrativa e responsabilização da empresa Polo-MS Refrigeração, quanto ao não funcionamento de geladeira instalada no Instituto Médico Legal (IML), em Cuiabá.
Mau cheiro
A equipe de reportagem do MidiaNews esteve no IML, na tarde desta sexta-feira, e, ao entrar no setor das geladeiras, constatou que um forte mau cheiro proveniente de uma delas.
Um funcionário garantiu que o equipamento está desativado.
Segundo as informações, oito geladeiras estão em pleno funcionamento no local. Cada equipamento tem capacidade para três corpos.
Confira outros flagrantes do IML de Cuiabá:

Geladeiras que estão em funcionamento, com capacidade para 28 corpos

A fachada do prédio revela a situação precária do IML da capital.