Cuiabá, Domingo, 10 de Agosto de 2025
"VOU EXPLODIR A CABEÇA DELA"
29.11.2022 | 16h00 Tamanho do texto A- A+

Delegado invade casa no Florais, xinga dona e faz ameaças

Defesa da dona do imóvel diz que vai representar o policial na Corregedoria e na Justiça

Reprodução

Momento que o delegado invade a residência da família no Florais dos Lagos

Momento que o delegado invade a residência da família no Florais dos Lagos

ANGÉLICA CALLEJAS
DA REDAÇÃO

O delegado da Polícia Civil Bruno França Ferreira foi filmado por uma câmera de segurança invadindo uma casa no condomínio Florais dos Lagos, em Cuiabá, na noite de segunda-feira (28), e ameaçando uma família. 

 

Ele supostamente estaria cumprindo uma prisão em flagrante por descumprimento de medida protetiva que seu enteado teria contra a dona da casa, hipótese que o advogado da família, Rodrigo Pouso, negou.

 

“Ele teve essa medida extrema sem qualquer ordem judicial, sem qualquer flagrante delito. Invadiu o condomínio usando da função de delegado, chamou a equipe do GOE (Grupo de Operações Especiais) para fazer apoio a ele. Loucura”, disse Pouso ao MidiaNews.

 

O caso em questão corre na Justiça, envolvendo o enteado do delegado e o filho da moradora. Eles teriam se desentendido quando a família ainda morava no Condomínio Alphaville I, e para evitar novas rusgas, a mulher teria se mudado para o Florais dos Lagos.

 

Segundo Rodrigo Pouso, na segunda-feira o enteado do delegado foi até o condomínio em visita a amigos e acabou se aproximando da mulher. Porém, o advogado garante que sua cliente não foi notificada a respeito da existência da medida protetiva.

 

“Eu vou tomar todas as medidas cabíveis. A minha cliente nunca foi citada. Como ela vai descumprir a medida? Ele precipitou, agiu com abuso de autoridade, agiu sob domínio de ser pai do menino”, disse. 

 

Pelo vídeo, é possível ouvir o delegado esmurrando a porta, até arrombá-la. Em seguida, ele entra no imóvel com mais três policiais do GOE, saca a pistola do coldre e grita com os presentes.

 

“Deita no chão! Deita, filha da puta! Deita os dois no chão!”, grita ele. No imóvel, estavam a mulher, seu marido e a filha pequena do casal. 

 

Assustada com a situação, a criança começa a chorar, momento que o delegado se aproxima da família. “Manda ela sair daí, senão vou disparar na cabeça dela”, diz ele.

 

O pai da criança tenta acalmá-la, mas é em vão, e a menina continua chorando.

 

Próximo às vítimas, o delegado se direciona à mulher. “A senhora sabe que não pode chegar perto daquele rapaz que a senhora viu hoje?”, questiona. 

 

A mulher então fica em silêncio, e ele grita novamente: “Responde, filha da puta!”. 

 

Um dos policiais tenta intervir na situação e pede calma, mas o delegado continua. “A senhora sabe que a senhora tem uma medida protetiva para não chegar perto do R.?”. 

 

Ela responde que não sabe, e o delegado diz: “Ah, não sabe?”.

 

Um dos policiais pede que eles se arrumem para ir acompanhá-los, enquanto o delegado anda pela sala da casa. 

 

Ele então retorna para perto da família e diz: “Da próxima vez que ela chegar perto do meu filho, eu vou estourar a cabeça dela. Eu vou explodir a cabeça dessa filha da puta”, disse.

  

Em outro vídeo, filmado pelo próprio Rodrigo Pouso, já na delegacia, o delegado continua alterado, e chega a xingar o advogado.

 

À reportagem, o advogado falou que representará contra o delegado na Corregedoria da Polícia Civil, criminalmente e na esfera cívil. 

 

Pedido de desculpas

 

Em um áudio que circula nas redes sociais, o delegado pede desculpas. “Eu só queria esclarecer que em nenhum momento minha intenção foi atingir as prerrogativas do doutor Rodrigo como advogado. E também que a situação da discussão se deu comigo na condição de padrasto da vítima", declarou.

 

"Eu estava ali na condição de padrasto e não de autoridade policial. Só que isso não justifica e eu estou pedindo desculpa publicamente nessa situação de emoção que agi pela condição da vítima que é meu enteado”.

 

“Mas eu estou aqui pedir desculpas ao doutor Rodrigo. Foi inaceitável a minha conduta. Fui advogado por muito tempo e eu tenho respeito completo e total pelo advogado no exercício de sua função. A respeito do caso não vou me manifestar. Isso é sigiloso, está na delegacia de proteção ao menor. Agora só tomar cuidado para manter a segurança de todo mundo”.

 

Repúdio da OAB

 

A Ordem dos Advogados de Mato Grosso (OAB-MT) emitiu nota de repúdio ao comportamento do delegado perante o advogado. Leia abaixo:

 

"A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECCIONAL MATO GROSSO (OAB-MT), por meio de sua presidente e de sua diretoria, vem a público externar REPÚDIO ao tratamento dispensado pelo delegado de Polícia Civil, Bruno França Ferreira, ao realizar atendimento na data de ontem (28/11/2022), no Cisc Verdão, ao advogado Rodrigo Pouso. O delegado de Polícia Civil, Bruno França Ferreira, proferiu em desfavor do mencionado causídico, palavras de natureza desrespeitosas, afrontosas e não condizentes com o cargo e a função que exerce, de servidor púbico, em especial, quando em atendimento a um profissional da advocacia.

 

Imagens de um vídeo – que já se encontra em poder desta Seccional – não deixam dúvidas da ausência de urbanidade e, ainda, da utilização de palavras de baixo calão proferidas contra o advogado mencionado, que se encontrava em seu regular exercício profissional.

 

A ORDEM DOS ADVOGADOS DO BRASIL - SECCIONAL MATO GROSSO (OAB-MT) repudia veementemente atos como o ora narrado e que não condizem com a importância do cargo e da função de um delegado de Polícia Civil, bem como, não representam o tratamento dispensado à Advocacia pela grande maioria dos Delegados de Polícia e demais servidores da instituição Polícia Judiciária Civil.

A OAB-MT deixa claro que não tolerará vilipêndios desta natureza. A Seccional já estuda as medidas cabíveis a serem tomadas em razão do caso em questão".

 

Defesa do delegado

 

O advogado do delegado Bruno França Ferreira divulgou a seguinte nota:

 

"A respeito dos episódios noticiados envolvendo o delegado Bruno França Ferreira, cumpre-se necessário informar o seguinte:

 

1 – toda a situação decorreu de descumprimento de medida protetiva expedida pela juíza Gleide Bispo Santos em favor do menor J, de 13 anos, e contra FABIOLA CÁSSIA GARCIA NUNES, que o vem perseguindo persistentemente com agressões verbais e ameaças físicas em locais públicos, com quadras de esportes, na presença de inúmeras testemunhas.

 

2 - a medida protetiva foi expedida após denúncia à Polícia feita pela Família da mencionada criança em 17/10, em que narrou até mesmo uma viagem da Senhora FABIOLA até a cidade de Rondonópolis, com o objetivo de promover as agressões verbais.

 

Na ocasião, após verificar que o menor não se encontrava no local onde ocorreria um evento esportivo, FABIOLA fez questão de difamá-lo para terceiros, tentando coagir o professor a não incluir o menor nas atividades esportivas.

 

A segunda ocorrência de agressões verbais e ameaças físicas ocorreram no dia 15/10, no começo da noite, quando J. estava jogando futebol com amigos em uma quadra de esportes, a ponto de a atividade ter sido interrompida pelas agressões feitas por FABIOLA. 

 

3 – as últimas agressões verbais e ameaças físicas feitas pela senhora Fabiola contra mencionada criança ocorreram na segunda-feira, 28/11, no início da noite, por volta das 19h30, em uma quadra de esportes de um condomínio de Cuiabá, onde J. estava com amigos jogando futebol. 

 

A Senhora FABIOLA foi até o local e passou a ameaçar e agredir verbalmente o menor, a ponto de ele se retirar do local com os amigos e ter pedido socorro de sua Família.

 

4 – O delegado Bruno França Ferreira, padrasto do menor J., após tomar conhecido dos fatos, na mesma hora foi até o condomínio para resgatar a criança. Após se inteirar das novas agressões verbais e ameaças físicas, na condição de autoridade policial, pediu apoio de outros agentes de segurança e tendo conhecimento da medida protetiva expedida pela Justiça, efetuou a prisão em flagrante da Senhora Fabiola.

 

 

5 – Mais informações, com recomendação de preservar a identidade das crianças envolvidas nesse episódio, devem ser procuradas com as autoridades policiais e da justiça".

 

Veja o vídeo abaixo:

 

 

 

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COMENTÁRIOS
20 Comentário(s).

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rodrigo  30.11.22 14h00
Se este caso do Delegado ficar impune deixo de acreditar nas instituições judiciais e policiais. esse delegado tem que ser exonerado, um absurdo o que ele fez
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Maristela   30.11.22 12h17
Inaceitável essa atitude! É notório o descontrole dele, o despreparo. Infringiu a Lei. Sequer pensou no desespero da CRIANÇA QUE GRITA DESESPERADA. Ele alega que agiu como pai, mas o filho do outro não é levado em consideração, faz toda essa loucura na presença da criança!! Esse Delegado deveria estar preso. Será que ninguém vai pedir a prisão dele? Deixar um descontrolado na corporação é mesmo que legitimar o abuso de poder ou de autoridade.
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Duda  30.11.22 11h07
Dentro desse caos social, se a teoria dos "cidadãos de bem" armados funcionassem, a família estaria protegida, não? Era só atirar e pronto! (Para pensar) Para mim, armas não protegem e cidadão de bem depende do ponto de vista. O tal delegado deve ser exonerado e preso. Minha total solidariedade a família que sofreu abuso de um desajustado.
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Josias DIAS  30.11.22 10h33
Creio que com sabedoria a Corregedoria da Polícia Civil vai tomar as providências de afastar esse cidadão que com extremo abuso de autoridade trará consequências imensuráveis a essa Família. O nosso Poder Judiciário com a provocação das vítimas, por certo não vai deixar este ato isolado impune. Em caso recente no Estado de Goias, um Oficial da PM foi excluído, espero que nesse caso, o Judiciário analise com carinho o pedido de exclusão desse Senhor da Renomada Polícia Civil, não tem condições para exercer o Cargo, ante os vídeos que evidenciam a VERDADE REAL.
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Alexandre  30.11.22 08h05
Em estagio probatório...não tem escapatória. Basta um deslize para ser excluído a bem da disciplina, o que já ocorreu nessa atitude desse aspirante a delegado. Vamos aguardar. Sociedade não esta perdoando.
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