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RETROSPECTIVA 2024
28.12.2024 | 09h00 Tamanho do texto A- A+

Morte de idoso por policial gerou comoção e revolta em Cuiabá

João Antônio Pinto tinha 87 anos e estava no hangar de sua propriedade quando foi morto

Arquivo pessoal

João Pinto, de 87 anos, foi morto no hangar de sua propriedade logo após se desentender com um possível invasor

João Pinto, de 87 anos, foi morto no hangar de sua propriedade logo após se desentender com um possível invasor

LIZ BRUNETTO
DA REDAÇÃO

O caso envolvendo João Antônio Pinto, de 87 anos, morto a tiros em 23 de fevereiro pelo policial civil Jeovanio Vidal Griebel em sua propriedade na região do Contorno Leste, em Cuiabá, gerou grande comoção e revolta em 2024. 

Seu João foi injustiçado. Ele estava dentro da sua propriedade e foi assassinado cruelmente no dia do aniversário da esposa

 

Griebel é acusado de ter agido a pedido de seu cunhado, Elmar Soares Inácio, com quem João Pinto teria se desentendido cerca de meia hora antes, por conta de uma invasão na propriedade do idoso. 

 

O inquérito, finalizado em novembro pelo delegado Marlon Conceição Luz, concluiu que o policial agiu em legítima defesa. A família protestou contra a decisão e disse, por meio da defesa, que o pai foi injustiçado. 

 

“Não acreditamos que essa decisão seja justa. Achamos que pode ter havido um corporativismo e não vamos nos calar, não vamos aceitar. É revoltante. Foi uma decisão tomada de forma parcial, não observaram todo o contexto”, disse a advogada Gabriela Zaque, que representa a família. 

 

“Seu João foi injustiçado. Ele estava dentro da sua propriedade e foi assassinado cruelmente no dia do aniversário da esposa. Foi um trauma para a família e eles ainda têm que lidar com uma decisão dessas da Polícia”, completou a advogada. 

 

O caso 

 

Três viaturas descaracterizadas chegaram à propriedade do idoso cerca de meia hora depois de a vítima se desentender com o cunhado de Jeovanio. A equipe que foi até a propriedade é lotada na Delegacia de Estelionato. 

Reprodução

Laudo - caso João Antônio Pinto

Parte interna do galpão em que idoso foi morto

 

Um dos laudos da Politec apontou que o atirador que matou o pioneiro estava a pelo menos 12 metros de distância da vítima e fora do hangar onde o corpo foi encontrado. O atirador efetuou ao menos um disparo de arma de fogo e o idoso foi ferido no ombro direito.

 

A bala atravessou a vítima, e o orifício de saída foi encontrado na região escapular esquerda, o que indica que João estava de lado quando foi atingido e não de frente.

  

Já a perícia realizada no aparelho DVR que deveria conter as imagens da morte do pioneiro revelou que não há registros do momento do crime, apenas de antes e depois de o idoso ser morto.

 

O perito identificou que a bateria que mantém as configurações do dispositivo salvas após o desligamento estava sem carga. 

 

A decisão

 

De acordo com o delegado, “não foram encontradas provas que indicassem uma intenção prévia de matar a vítima” e, segundo ele, do ponto de vista da investigação policial, foi “uma ação respaldada pela legítima defesa”. 

 

Na versão dos policiais, o idoso teria sacado uma arma da cintura e a apontando na direção deles. Para o delegado, a partir dessa narrativa, os policiais “se viram diante de uma ameaça à sua vida, uma vez que a vítima portava a arma de forma irregular e com energia suficiente para provocar lesões e causar a morte”. 

 

No documento, o delegado afirma que a Polícia Civil recebeu informações concretas sobre a prática do crime de porte ilegal de arma de fogo. O informante foi Elmar, suposto grileiro nas terras do seu João. 

 

Segundo a família, João Pinto era Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) e tinha sim o registro da arma. 

Arquivo pessoal

João Antônio Pinto

João ao lado da esposa, Adir, com quem foi casado por 64 anos

Família desolada

 

O filho do idoso, José Antônio Ribeiro Pinto, afirmou que a morte do pai foi uma “tragédia anunciada”, mas que jamais imaginou que um policial civil seria autor do assassinato.

 

“A gente até espera a morosidade estatal, mas eu jamais esperaria o Estado trucidar meu pai, porque foram agentes do Estado, que cometeram aquela covardia com meu pai. O sentimento é de revolta”, disse. 

 

Segundo Gysela Maria Ribeiro Pinto, também filha de João Pinto, o poder aquisitivo desses invasores  impressiona. “Só andam de carrão, com maquinário pesado e novo, principalmente quando começaram a fazer os poços artesianos”, disse.

 

História de pioneirismo 

 

João era português e chegou ao Brasil com a família na década de 50, aos 16 anos. Pai, mãe e dez irmãos desembarcaram em São Paulo e lá recomeçaram a vida. 

 

Gysela conta como o pai começou fazendo faxinas em uma loja de autopeças e se tornou representante da empresa pelo Brasil. 

 

Foi em uma dessas viagens que João Pinto conheceu a parceira de vida, com quem ficou casado por 64 anos. A mineira Adir Ribeiro, hoje com 89 anos, morava em Cuiabá e trabalhava na Assembleia Legislativa. 

 

Os dois se apaixonaram, se casaram e em 1960 João Pinto veio de vez para a Capital. 

 

O primeiro empreendimento dele, montado junto com a esposa, foi uma loja de autopeças, a “Brecauto”. 

 

Nesse período, João Pinto resolveu entrar no ramo da construção e deu ao primeiro condomínio vertical da Capital o nome de sua cidade natal, o Edifício Marzagão. 

 

Em 1968 o idoso adquiriu a chácara no Contorno Leste. A área começou a ser invadida em 28 de janeiro de 2023 e a família registrou diversos boletins de ocorrência denunciando o caso. 

 

A família morou por anos na propriedade, que depois se tornou a sede de outras áreas adquiridas pelo pioneiro no Pantanal. 

 

No dia em que foi morto, o idoso passou pela propriedade antes de voltar para casa para festejar o aniversário da esposa, mas nunca mais voltou. 

 

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