O caso envolvendo João Antônio Pinto, de 87 anos, morto a tiros em 23 de fevereiro pelo policial civil Jeovanio Vidal Griebel em sua propriedade na região do Contorno Leste, em Cuiabá, gerou grande comoção e revolta em 2024.
Griebel é acusado de ter agido a pedido de seu cunhado, Elmar Soares Inácio, com quem João Pinto teria se desentendido cerca de meia hora antes, por conta de uma invasão na propriedade do idoso.
O inquérito, finalizado em novembro pelo delegado Marlon Conceição Luz, concluiu que o policial agiu em legítima defesa. A família protestou contra a decisão e disse, por meio da defesa, que o pai foi injustiçado.
“Não acreditamos que essa decisão seja justa. Achamos que pode ter havido um corporativismo e não vamos nos calar, não vamos aceitar. É revoltante. Foi uma decisão tomada de forma parcial, não observaram todo o contexto”, disse a advogada Gabriela Zaque, que representa a família.
“Seu João foi injustiçado. Ele estava dentro da sua propriedade e foi assassinado cruelmente no dia do aniversário da esposa. Foi um trauma para a família e eles ainda têm que lidar com uma decisão dessas da Polícia”, completou a advogada.
O caso
Três viaturas descaracterizadas chegaram à propriedade do idoso cerca de meia hora depois de a vítima se desentender com o cunhado de Jeovanio. A equipe que foi até a propriedade é lotada na Delegacia de Estelionato.
Reprodução
Parte interna do galpão em que idoso foi morto
Um dos laudos da Politec apontou que o atirador que matou o pioneiro estava a pelo menos 12 metros de distância da vítima e fora do hangar onde o corpo foi encontrado. O atirador efetuou ao menos um disparo de arma de fogo e o idoso foi ferido no ombro direito.
A bala atravessou a vítima, e o orifício de saída foi encontrado na região escapular esquerda, o que indica que João estava de lado quando foi atingido e não de frente.
Já a perícia realizada no aparelho DVR que deveria conter as imagens da morte do pioneiro revelou que não há registros do momento do crime, apenas de antes e depois de o idoso ser morto.
O perito identificou que a bateria que mantém as configurações do dispositivo salvas após o desligamento estava sem carga.
A decisão
De acordo com o delegado, “não foram encontradas provas que indicassem uma intenção prévia de matar a vítima” e, segundo ele, do ponto de vista da investigação policial, foi “uma ação respaldada pela legítima defesa”.
Na versão dos policiais, o idoso teria sacado uma arma da cintura e a apontando na direção deles. Para o delegado, a partir dessa narrativa, os policiais “se viram diante de uma ameaça à sua vida, uma vez que a vítima portava a arma de forma irregular e com energia suficiente para provocar lesões e causar a morte”.
No documento, o delegado afirma que a Polícia Civil recebeu informações concretas sobre a prática do crime de porte ilegal de arma de fogo. O informante foi Elmar, suposto grileiro nas terras do seu João.
Segundo a família, João Pinto era Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC) e tinha sim o registro da arma.
Arquivo pessoal
João ao lado da esposa, Adir, com quem foi casado por 64 anos
Família desolada
O filho do idoso, José Antônio Ribeiro Pinto, afirmou que a morte do pai foi uma “tragédia anunciada”, mas que jamais imaginou que um policial civil seria autor do assassinato.
“A gente até espera a morosidade estatal, mas eu jamais esperaria o Estado trucidar meu pai, porque foram agentes do Estado, que cometeram aquela covardia com meu pai. O sentimento é de revolta”, disse.
Segundo Gysela Maria Ribeiro Pinto, também filha de João Pinto, o poder aquisitivo desses invasores impressiona. “Só andam de carrão, com maquinário pesado e novo, principalmente quando começaram a fazer os poços artesianos”, disse.
História de pioneirismo
João era português e chegou ao Brasil com a família na década de 50, aos 16 anos. Pai, mãe e dez irmãos desembarcaram em São Paulo e lá recomeçaram a vida.
Gysela conta como o pai começou fazendo faxinas em uma loja de autopeças e se tornou representante da empresa pelo Brasil.
Foi em uma dessas viagens que João Pinto conheceu a parceira de vida, com quem ficou casado por 64 anos. A mineira Adir Ribeiro, hoje com 89 anos, morava em Cuiabá e trabalhava na Assembleia Legislativa.
Os dois se apaixonaram, se casaram e em 1960 João Pinto veio de vez para a Capital.
O primeiro empreendimento dele, montado junto com a esposa, foi uma loja de autopeças, a “Brecauto”.
Nesse período, João Pinto resolveu entrar no ramo da construção e deu ao primeiro condomínio vertical da Capital o nome de sua cidade natal, o Edifício Marzagão.
Em 1968 o idoso adquiriu a chácara no Contorno Leste. A área começou a ser invadida em 28 de janeiro de 2023 e a família registrou diversos boletins de ocorrência denunciando o caso.
A família morou por anos na propriedade, que depois se tornou a sede de outras áreas adquiridas pelo pioneiro no Pantanal.
No dia em que foi morto, o idoso passou pela propriedade antes de voltar para casa para festejar o aniversário da esposa, mas nunca mais voltou.
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