LAÍSE LUCATELLI
DA REDAÇÃO
O delegado Lindomar Aparecido Tofoli, que atua na Delegacia Fazendária e é responsável pela condução do inquérito da chamada Operação Cartas Marcadas - que investiga a emissão irregular de R$ 636 milhões em cartas de crédito a Agentes de Administração Fazendária (AAF) -, foi beneficiado pela compensação de cartas de crédito em 2009.
As cartas de crédito que ele detinha, em função de acordo trabalhista, somavam R$ 72.464,18 e foram negociadas com a Rede Cemat S/A.
Nesse tipo de operação, uma empresa que possua débitos com o governo do Estado, geralmente relacionado ao não recolhimento de impostos, pode adquirir as cartas de crédito e fazer, posteriormente, um encontro de contas como Fisco.
As cartas negociadas no mercado são compradas com deságios que podem atingir até 50% do valor de face.
O MidiaNews teve acesso ao extrato do Processo de Compensação de Débitos Fazendários nº 09731/09, cuja data de protocolização é de 30 de julho de 2009. Na época, a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz) era comandada por Eder Moraes.
Outros delegados
No extrato, além de Tofoli, aparece o nome de outros delegados da Delegacia Fazendária: Rogério Atílio Modelli; Luzia de Fátima Machado e Maria Alice Barros Maritins Amorim.
Eles também negocioram suas cartas de crédito com a Rede Cemat, nos valores respectivos de R$ 74.816,85; R$ 74.615,22 e R$ 110.544,04.
Os nomes de outros 18 servidores que fizeram a transação com a Rede Cemat também estão no extrato. O maior valor é de R$ 830.465,29.
“Eu recebi esse valor em decorrência de um acordo entre o governo do Estado e o Sindicato dos Delegados de Polícia, como pagamento por verba indenizatória que o Executivo devia aos delegados. Todos os delegados do Estado receberam essas cartas. Era um direito que tínhamos”, afirmou Tofoli.
Ele relatou que, na época, a delegada titular da Delegacia Fazendária, Luzia Machado, encontrou um comprador para as certidões de crédito dos quatro delegados que atuavam na unidade.
“A doutora Luzia negociou com a Rede Cemat a venda das nossas certidões, que as usou para compensar dívidas que tinha com o Estado. Eu recebi entre 70% e 75% do valor de face, parcelado em 12 vezes. Tenho documentos que comprovam”, afirmou Tofoli.
"Estou tranquilo"
Tofoli afirmou ao MidiaNews que acredita que essa informação veio à tona com o objetivo de “tumultuar essas investigações”.
“Se houver alguma coisa irregular, eu não estou sabendo. O Ministério Público Estadual sabe de tudo isso e estou tranquilo”, disse.
A reportagem também tentou contato com o delegado Modelli, que não atendeu as ligações. Ele atua no inquérito da Operação Vespeiro, que investiga o desvio de pelo menos R$ 12,8 milhões da Conta Única do Estado.