A ex-secretária de Saúde de Cuiabá Elizeth Araújo afirmou, na tarde desta segunda-feira (2), ser "impossível” que o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro (MDB) não tivesse conhecimento de irregularidades na Pasta.
Elizeth esteve à frente da Pasta entre janeiro de 2017 e março de 2018. Ela foi a primeira a assumir a Saúde, no primeiro mandato de Emanuel.
A declaração foi dada durante seu depoimento à CPI dos Medicamentos Vencidos, aberta na Câmara para investigar o contrato da Prefeitura com a empresa Norge Pharma para administrar o CDMIC (Centro de Distribuição de Medicamentos e Insumos de Cuiabá).
“Hoje não acredito que o prefeito não sabia. Talvez ele ache que é perseguição, não sei exatamente o que ele pensa. Mas é impossível, depois de tudo isso, que ele não saiba o que esse grupo está fazendo. O desmonte na Saúde. E é muito triste”, afirmou a ex-secretária em depoimento à Comissão.
“Eu acredito muito que o prefeito Emanuel queria resolver o problema da Saúde. Ele tinha o brilho nos olhos. Por que ele não conseguiu colocar em prática? Por que ele não conseguiu resistir às pressões contrárias a uma boa gestão da saúde pública? Eu não sei te dizer”.
A declaração foi dada quando ela respondia ao questionamento do membro da comissão, vereador Marcos Paccola (Cidadania), que perguntou sobre os diversos escândalos e em especial o possível direcionamento de contrato no CDMIC.
Elizeth relembrou que, em 2017, quando ainda comandava a Saúde, chegou a exonerar o então diretor-administrativo financeiro da Pasta, Célio Rodrigues, por ele ter apresentado uma possível proposta de direcionamento de contrato.
Segundo ela, havia uma desconfiança sobre a lisura dos processos de fornecimento de medicamentos. Ele chegou a propor a terceirização da logística de medicamento de Cuiabá naquele ano, mas ela não gostou da proposta e engavetou.
Anos depois, em junho de 2021, Célio foi nomeado como secretário de Saúde da Capital. Na última sexta-feira (30), ele foi alvo da Operação Curare, que investigou os reiterados contratos emergenciais firmado entre a Prefeitura e um grupo de empresas, em desacordo com a Lei de Licitações.
“Durante algum tempo, eu até acredite que Emanuel não soubesse. Hoje acho difícil. Por exemplo, quando ele nomeou o então secretário Célio, eu fiquei assustada. Mas como? Eu disse ao prefeito várias [vezes], sobre os indícios [de direcionamento]. Porque eu não tinha prova”.
“Se eu tivesse prova, já estava na mão do MPF. Mas havia indícios de que não havia uma relação de lisura com os fornecedores e por isso que eu pedi a sua exoneração [Célio Rodrigues] em abril de 2017. Então me assustei quando ele foi colocado como secretário”, emendou.
Pregão Norge Pharma
Elizeth contou que, assim que Célio entrou em contato com ela propondo a terceirização da logística de medicamentos, ela pediu ajuda a outras pessoas, que a aconselharam a não dar prosseguimento ao processo.
“Celio era diretor administrativo-financeiro, e me procurou dizendo que era urgente. Eu li, não gostei, mas eu não tinha conhecimento a fundo para dizer se estava certo ou não. Pedi ajuda e me disseram: esse edital está direcionado, toma cuidado”, revelou.
“E eu disse: não. Eu não tenho intenção de terceirizar, vou mandar arquivar. Eu mandei arquivar em 2017”, completou.
Veja oitiva na íntegra:
O outro lado
A empresa Norge Pharma emitiu uma nota à imprensa e garantiu que "sempre participou dos processos licitatórios de forma legal".
Veja nota:
1- A empresa, enquanto fornecedora de medicamentos, sempre participou dos processos licitatórios de forma legal e nunca respondeu nenhum processo por isso.
2- Em eventuais situações, por solicitação da Secretaria de Saúde, a empresa afirma que atendeu emergencialmente pedidos de medicamentos feitos pelo órgão, por risco de comprometer tratamentos de pacientes. Esse processo é legal e praticado por todos fornecedores e gestores que já passaram pela Secretaria, inclusive pela Elizeth Araújo.
3- A necessidade da Secretaria fazer permutas com fornecedores demonstra, mais uma vez, a incapacidade de alguns gestores em comprar e mensurar o que é necessário e na quantidade devida.
4- Vale ressaltar que se esta prática fosse cercada de irregularidades, a ex-secretária teria praticado crimes de prevaricação, por não ter denunciado à época.
5- A empresa informa ainda que todos os contatos feitos com os gestores da Saúde se limitaram, exclusivamente, a assuntos pertinentes ao fornecimento de medicamentos e cobrança de pagamentos atrasados.
6- Por fim, a Norge Pharma entende que as declarações da ex-secretária apenas serviram para desviar o foco dos principais problemas da saúde e investigação da CPI que é a compra de medicamentos sem verificação da necessidade, controle de estoque e prazos de validade, por parte dos gestores municipais, incluindo Elizeth Araújo.
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4 Comentário(s).
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Marcondes 03.08.21 10h53 | ||||
Quer dizer então que só na sua gestão que não teve problema? Depois da senhora todo mundo tá enrolado? Sei... | ||||
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Amanda Duarte 03.08.21 10h45 | ||||
Porque não denunciou quando estava no cargo? | ||||
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Maria 03.08.21 09h50 | ||||
Parabéns secretária. Com certeza você foi boicotada por agir corretamente. A lisura é muito importante quando se trata de um ato administrativo. E ainda bem que a PF pode intervir, senão... | ||||
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Juvenal 03.08.21 09h50 | ||||
Também queremos saber onde foi parar o dinheiro da gratificação dos enfermeiros, que durante a sua gestão na Secretaria de Saúde foi retirado. A senhora tirou a gratificação dos enfermeiros e manteve dos médicos e dentistas, onde foi parar esse dinheiro? Impossível a senhora não saber! | ||||
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