Reportagem do blog da jornalista Malu Gaspar, de O Globo, mostra indícios de um suposto repasse de R$ 1,1 milhão à advogada Catarina Buzzi, filha do ministro Marco Buzi, do STJ.
A informação consta na investigação da Polícia Federal sobre um esquema de venda de sentenças no Judiciário, que tem como pivôs o lobista Andreson Gonçalves e a Fource Consultoria, com sede em Cuiabá.
A PF cita trechos de conversas entre Andreson e Haroldo Filho, da Fource, suspeitos de participação no esquema.
"O documento afirma que o advogado Roberto Zampieri, executado em Cuiabá (MT) em dezembro de 2023 e cujo celular foi o estopim para as investigações, e o empresário Haroldo Augusto Filho eram próximos de Catarina. Haroldo é sócio da Fource, empresa de consultoria no setor do agronegócio sediada na capital do Mato Grosso que está na mira da PF por suspeita de compra de sentenças no STJ e no Tribunal de Justiça do MT", diz a reportagem, assinada pelo jornalista Johanns Eller.
Confira a íntegra:
A investigação da Polícia Federal (PF) que apura um esquema de venda de sentenças no Superior Tribunal de Justiça (STJ) encontrou indícios de um repasse de R$ 1,12 milhão à filha do ministro Marco Buzzi, a advogada Catarina Buzzi, no celular de Andreson de Oliveira Gonçalves, lobista pivô do inquérito que tem assombrado a Corte desde o ano passado.
A informação consta em um relatório parcial da PF que integra os autos do inquérito sigiloso em tramitação no Supremo Tribunal Federal (STF), sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin. O inquérito apura a atuação de uma rede de lobistas, advogados, empresários e ex-servidores de gabinetes dos ministros Og Fernandes, Isabel Gallotti e Nancy Andrighi. Os magistrados, incluindo Buzzi, não são investigados.
O documento afirma que o advogado Roberto Zampieri, executado em Cuiabá em dezembro de 2023 e cujo celular foi o estopim para as investigações, e o empresário Haroldo Augusto Filho eram próximos de Catarina. Haroldo é sócio da Fource, empresa de consultoria no setor do agronegócio sediada na capital do Mato Grosso que está na mira da PF por suspeita de compra de sentenças no STJ e no Tribunal de Justiça do MT.
O material revela que a investigação da PF encontrou na galeria de imagens do celular de Andreson a foto de uma tela de celular que exibia mensagens de uma pessoa identificada como Carlos Chaves para alguém identificado como “Dra” (Doutora).
“Dra eu transferi para a sua conta e da KATARINA [sic] Buzzi R$ 1.120.000,00. No caso que estamos tratando. A promessa de trabalho era outra e posso provar . Nesse caso como não foi cumprido. Peço de imediato a restituição dos meus valores [sic]. Caso isso não aconteça irei buscar os meios legais da lei [sic] para rever e expor a minha situação. Esperava de vcs o cumprimento do que havíamos tratado . Fico no aguardo do meu ressarcimento imediato”, diz a mensagem reproduzida no relatório.
Na mesma tela de celular que estava arquivada no celular do lobista, a ameaça é acompanhada do print de uma transferência de R$ 500 mil identificada como “pagamento de honorários”.
Em nota enviada à equipe da coluna, o advogado de Catarina, João Pedro de Mello Souza, afirmou que sua cliente “não fez nenhuma transação, promessa ou serviço e nem recebeu qualquer valor dos personagens mencionados”.
“A advogada não se responsabiliza por conversas de terceiros em WhatsApp, sobretudo conversas sem relevância jurídica. É importante também deixar claro que a advogada não é alvo de nenhuma investigação supervisionada pelo Supremo Tribunal Federal ou qualquer outra instância”, completou.
No último dia 10, o Estado de S. Paulo revelou que a PF solicitou ao ministro Cristino Zanin o aprofundamento das apurações sobre a filha de Marco Buzzi. O jornal também revelou que o escritório do qual a advogada é sócia funciona em salas comerciais que pertencem à Fource.
O relatório que embasa o inquérito já fazia referência a futuros desdobramentos, mas não detalha se o alegado pagamento a Catarina foi confirmado pelos investigadores e nem qual promessa teria sido descumprida.
“Tais elementos, contudo, por envolverem outras unidades jurisdicionais, serão tratados em procedimento próprio, de modo a evitar a dispersão do objeto e garantir a efetividade das investigações”, destaca o relatório.
"Amigo da mãe e da filha"
A descoberta da referência ao suposto depósito é destacada pela Polícia Federal no trecho em que a investigação aborda a proximidade entre Haroldo e gabinetes de ministros do STJ e o conluio entre o empresário, Andreson e Zampieri.
Ainda de acordo com o relatório, a foto da tela destacando o relato do depósito milionário foi tirada pelo lobista dias após Catarina Buzzi entrar em contato com Zampieri.
“Dr. Roberto! Tomei a liberdade de pedir seu número ao Haroldo. Agora está na agenda. Foi um prazer reencontrá-lo. Catarina Buzzi”, escreveu a advogada no fim da tarde de 7 de outubro de 2022.
“Boa tarde Catarina. O prazer é todo meu. Obrigado”, respondeu Zampieri um minuto depois.
Segundo a PF, o advogado havia mandado mensagem duas horas e meia antes para Haroldo Augusto Filho perguntando o nome “da filha do ministro”, ao que o dono da Fource respondeu: “Catarina”.
Cinco meses antes da troca de mensagens, Haroldo havia se gabado de suposta proximidade com Marco Buzzi e sua família ao discutir com Zampieri um possível jantar com o magistrado em Brasília.
“Sou amigo da mãe, da filha”, escreveu o empresário. A PF não especificou se o encontro de fato ocorreu.
Procurado através da assessoria de imprensa do STJ, o ministro Marco Buzzi declarou não acompanhar “as relações comerciais de sua filha ou de qualquer outro advogado”.
A Corte informou, ainda, que as pessoas e empresas citadas no relatório da PF “não integram nenhum processo que esteja sob a responsabilidade do ministro Marco Buzzi”.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|