Servidora que denunciou suposta propina pega licença de 40 dias

A servidora da Secretaria de Saúde Municipal Elizabete Maria de Almeida, que acusou o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) de pagar propina a vereadores, apresentou um atestado alegando problemas psiquiátricos e deve ficar afastada do trabalho até o dia 11 de janeiro.

Elizabete lavrou um boletim de ocorrência na Delegacia Fazendária (Defaz) no dia 28 de novembro. No documento ela relatou que esteve em um jantar na casa do vereador Juca do Guaraná (Avante) e presenciou o prefeito oferecendo R$ 50 mil mais 20 cargos comissionados a vereadores para “agilizar” a cassação do vereador Abílio Júnior (PSC), que responde a um processo na Comissão de Ética do Legislativo Municipal.

Conforme apurou a reportagem, a servidora apresentou um atestado médico no dia 2 de dezembro. No documento, a psiquiatra atestou ter identificado na paciente “sintomas ansiosos e depressivos” nos últimos dias. Ainda conforme o documento, o problema a torna “inapta psiquicamente ao trabalho” por pelo menos 40 dias.

"Neste momento considero a sra. Elizabete Maria de Almeida inapta psiquicamente ao trabalho e solicito afastamento trabalhista de 40 dias a contar a partir do dia 2 de dezembro de 2019 para continuidade de seu tratamento médico adequadamente e melhora clínica", escreveu a médica.

Conforme o portal transparência da Prefeitura de Cuiabá, a servidora atua como técnico-administrativo de Recursos Humanos do Hospital São Benedito e é contratada desde setembro de 2017. Em agosto, teve salário líquido de R$ 2,2 mil.

Evitando a imprensa

Desde o dia 29 de novembro, quando a imprensa tomou conhecimento do caso, a reportagem tenta falar insistentemente com a servidora. Várias tentativas de ligações ignoradas e de mensagens não respondidas foram feitas nesses 11 dias.

Em uma delas, no dia em que o caso veio a tona, Elizabete chegou a atender a ligação. Mas ao ser informada que se tratava de uma reportagem, ela desligou o telefone e não mais atendeu.

Encontro com Abílio

O vereador Juca do Guaraná, na sessão plenária do dia 2 de dezembro, afirmou que a servidora e o vereador Abílio se encontram horas antes do jantar no saguão do Hospital São Benedito.

Ele apresentou uma série de vídeos gravados pelas câmeras do hospital. No primeiro, Juca mostra o momento em que uma pessoa - a quem chama de “advogado renomado” da Capital - entra na unidade.

Este homem e um grupo de pessoas se encontram com Elizabete em uma reunião que, de acordo com o vereador, durou mais de uma hora. Ele afirmou que ela assina uma série de papéis.

Acusação da servidora

A servidora registrou boletim de ocorrência na Delegacia Fazendária na última quarta-feira (27). Segundo seu relato, os vereadores Chico 2000 (PR), Ricardo Saad (PSDB) e o ex-vereador e suplente Oseas Machado estiveram em um jantar na casa de Juca no dia 21 de novembro.

Ela afirma ter chegado ao local por volta das 23h e disse ter identificado os políticos e percebido que a reunião ali se tratava da "compra" dos parlamentares para que votassem a favor da cassação de Abílio, que é um dos maiores opositores de Emanuel e está em rota de colisão com boa parte dos colegas de Parlamento.

No documento, ela afirma que ouviu o prefeito oferecer a quantia de R$ 50 mil e mais 20 cargos comissionados para os parlamentares votarem contra Abílio.

Emanuel Pinheiro e os vereadores negam a existência da propina. O prefeito chegou a dizer que a abertura de uma investigação pela Defaz - a pedido do Naco (Núcleo de Ações de Competência Originária) do MPE - será um momento de provar que não tem envolvimento com o caso.