Cuiabá, Sábado, 14 de Junho de 2025
DIREITOS LGBT+
14.06.2025 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

Sob ataque de políticos, Parada vai às ruas defendendo vidas trans

Câmara possui projetos de retirada de direitos e ALMT barrou criação de Conselho LGBT

Divulgação

Parada LGBT na Avenida da Prainha, em Cuiabá, na edição de 2024

Parada LGBT na Avenida da Prainha, em Cuiabá, na edição de 2024

GIORDANO TOMASELLI
DA REDAÇÃO

Na tarde deste sábado (14), em Cuiabá, ocorre a 22° edição da Parada do Orgulho LGBTQIA+ de Mato Grosso. Este ano, o movimento vai às ruas com o tema “Vidas Trans Importam”, em meio a um cenário de ataques e dificuldades no meio político na Capital de um dos estados mais conservadores do país.

 

Na Câmara Municipal de Cuiabá, por exemplo, que deveria ser a casa que representa todo cidadão, somente um dos vereadores, o policial federal Rafael Ranalli (PL), já apresentou, em menos de seis meses de mandato, três projetos que atacam direitos da comunidade LGBTQIA+.

 

O vereador de primeiro mandato propôs, logo na primeira semana de legislatura, dois projetos polêmicos. Um deles propõe restringir a participação de crianças e adolescentes na Parada, mesmo com a presença dos pais e responsáveis.

 

Em caso de descumprimento, o projeto de lei prevê multas no valor de R$ 10 mil ao evento e R$ 5 mil aos responsáveis da criança. Já a outra iniciativa determina que o sexo biológico seja o único critério para definição do gênero em competições esportivas, prejudicando atletas trans.

 

Nesse projeto, ele estabelece R$ 10 mil ao clube ou federação e processo ao atleta por doping e banimento. Mais recentemente, em maio, Ranalli apresentou um projeto de lei que proíbe a exibição de símbolos cristãos durante eventos de celebração da diversidade sexual e de gênero.

 

Na justificativa, ele argumenta que os símbolos cristãos possuem significados culturais e espirituais importantes para a comunidade religiosa da Capital e, caso seja aprovada, prevê multa de até R$ 50 mil por símbolo religioso exposto ou a suspensão do evento em até três dias.

 

Todos os projetos ainda não foram votados pela Casa e todos foram considerados inconstitucionais pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

 

Já no legislativo estadual, em dezembro de 2021, os deputados rejeitaram uma mensagem governamental que criava um Conselho Estadual dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

 

Foram 11 votos de deputados conservadores, entre eles o presidente da comissão de Direitos Humanos, o evangélico Sebastião Rezende (PSC).

 

Apesar da postura do colega na Câmara, de acordo com a organização do evento, ao menos duas vereadoras da atual legislatura devem comparecer à Parada, o que é pouco perto dos 27 vereadores da Casa. Baixinha Giraldelli (Solidariedade) e Maysa Leão (Republicanos) tiveram suas presenças confirmadas.

 

Ainda entre a classe política, os deputados estaduais Lúdio Cabral, Valdir Barranco, o suplente Henrique Lopes e a diretora da Conab, Rosa Neide, todos do PT, também tiveram a presença confirmada pelos organizadores do evento.

 

Apoio

 

Para a realização do evento, a organização conta com a ajuda de emendas de políticos e com o apoio da Secel (Secretaria de Estado de Esporte, Cultura e Lazer). A Secel não retornou ao contato da reportagem para detalhar como será feito esse apoio.

 

Já a Prefeitura Municipal de Cuiabá, que não apoiará o evento financeiramente, informou que o suporte será através da atuação da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) e da Empresa Cuiabana de Zeladoria e Serviços Urbanos (Limpurb), que desempenham funções consideradas essenciais em eventos com concentração de pessoas na Capital.

 

No dia a dia, em meio ao difícil cenário, alguns pequenos avanços são registrados. Em agosto de 2024, o Governo do Estado, através da Secretaria de Estado de Saúde e da primeira-dama Virgínia Mendes, inauguraram o primeiro Ambulatório de Atenção à Transexualidade do Centro de Referência em Média e Alta Complexidade (Cermac), localizado em Cuiabá.

 

O ambulatório oferta atendimento multidisciplinar e é responsável por acompanhar mensalmente o paciente no processo transexualizador, para atendimento clínico durante, no mínimo, dois anos na etapa do pré-operatório e por até um ano no pós-operatório, além de realizar hormonioterapia para a cirurgia de redesignação sexual.

 

A equipe é composta por dois psicólogos, dois assistentes sociais, um médico clínico-geral, um endocrinologista, um ginecologista, um urologista, um psiquiatra e um enfermeiro.

 

Crimes de ódio

 

Segundo dados do Dossiê do Grupo Gay da Bahia (GGB), o estado de Mato Grosso registrou 24 mortes violentas de pessoas LGBT+ em 2024 e se tornou o terceiro estado brasileiro com o maior número de crimes contra gays, lésbicas e pessoas trans no ano.

 

Os dados são preocupantes porque significam uma alta de 380% na comparação com 2023, além da posição nacional, sendo o terceiro estado com o maior número de casos, mesmo sendo somente o 16° em número de população.

 

Ainda de acordo com o levantamento, Cuiabá também apresentou um aumento no número de crimes contra LGBT+ e se tornou a capital mais letal para essa população no país, em números relativos, com cinco mortes registradas ao longo do ano.

 

Com o aumento no número de casos letais de violência contra o grupo no Estado, o Observatório responsável pelo estudo emitiu alerta e cobrou a realização de políticas públicas para minimizar a ocorrência de mortes LGBTFóbicas em MT.

 

“Igualmente preocupante e clamando por imediatas políticas públicas eficazes que estanquem a mortandade da população LGBT+ é o caso de Mato Grosso. Com uma população quase 5 vezes inferior à de Minas Gerais, o estado registrou 24 mortes LGBTFóbicas, duas a mais que o estado mineiro, que teve 22 sinistros”, diz trecho do documento.

 

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