13.09.2012 | 14h:10


Paquitagem cuiabana- 3

Cuiabá está se tornando uma espécie de Projac das baladas

Já repararam que existe uma certa cobrança quando se abre alguma nova balada em Cuiabá?

Uma curiosidade estranha em saber se já fomos. Como um voto obrigatório, se você diz não, tem que justificar.

Não poderia deixar de escrever frente aos inúmeros points que surgiram em Cuiabá, desde as últimas paquitagens, foi preciso muito estudo de campo.

Eu sabia que não iria demorar muito para que a antiga casa Chorus e Serestas perdesse identidade. A mudança para um novo local era inevitável, afinal, precisavam atender o exigente público cansado de passar calor.

A paquitagem conseguiu transformar a tradicional casa de chorus, em uma casa de chorinho pop. As músicas, antes apreciadas por um público segmentado, tornaram-se hits dessa geração, que ainda acredita arrasar na pista com passinhos simplórios, no clima "tenho samba no pé".

Little Cry também tem mudado os costumes do público frequentador. As meninas que antes poderiam colocar um sapatinho e uma blusinha, agora se sentem obrigadas a irem de Cleópatras em entrega do Oscar, e já os rapazes, estão mais a vontade, alguns arriscam até umas viradinhas do tipo "sou da laje".

Agora, mais do que nunca, eles vão ter que cantar com mais força os versos de “não deixe o samba morrer, não deixe o samba acabar...”

Mas vamos deixar o chorinho pra lá, choro leva à depressão. A moda agora é a Valley. O Creme de la Creme da noite Cuiabana. As filas monstruosas de pessoas dobrando a esquina e a falta de locais nos arredores para estacionar não me deixam mentir.

O que se nota das pessoas que ali frequentam é um certo glamour, como se dissesse; "eu frequento a Valley, e você Gerônimo?" Como se ouvir “camaro amarelo” e “tchu tchu tcha” na Valley, fosse mais chic que ouvir em qualquer outro lugar.

Por falar em Gerônimo, alguém me explica o "GG"? Descobri estes dias esta abreviação bizarra.

Valley é tipo novela das oito, trocam-se os cenários, mas os atores são sempre os mesmos. Não há uma novidade de fato. O camarote é igual, as bebidas são as mesmas, até o garçom é o velho conhecido da praça popular, tipo um Tony Ramos, que faz o mesmo papel em todas as novelas.

Para tocar na casa, basta montar uma dupla, ser feio e decorar os hits no violão. O resto é forçar um sotaque caipira, e já era, as ‘mina’ vão pirar no camaro amarelo, afinação aqui não importa muito.

A ideia da casa é elitizar o sertanejo, mas faltou um decorador de bom senso. Decoraram o ambiente com muita parafernália, uma poluição visual em tudo quanto é lugar, com objetos não identificados no teto, na parede, no chão, enfim, ainda bem que não temos terremotos por aqui.

Mas não é só o sertanejo que fez sucesso na city, um novo bar tem chamado atenção daqueles que curtem uma cervejinha, e como a moda agora é elitizar, vamos usar o termo ‘apreciadores de cerveja’. Estou falando do Hookers.

Um bar ajeitadinho, bem decorado, segue um padrão típico de bares do gênero, para um público que jura entender de cerveja. Não demora muito para que os personagens apareçam nesta nova novela. Neste, o ator é o típico playboy que foi para Dublin na Irlanda, conheceu alguns pubs e se considera o boêmio, o viajante bilíngue, e de alguma maneira vai fazer com que todos saibam que ele esteve lá, e aprecia uma Guiness.

O bar tem uma atmosfera masculina, é UFC, é futebol e cerveja, mas tem as ‘mina’ descoladas que curtem uma cachaça e coisas novas. Lá elas pedem uma "Duff" por que aprenderam assistindo os Simpsons. Foteenha direto para o Instagram da cerveja gringa para passar o clima “sei degustar uma boa cerveja”, mas ninguém precisa saber que essa foi a única da noite, e depois partiu para as nacionais.

Já que estamos falando na elitização de casas noturnas e na troca de cenários, vale dizer que Cuiabá está se tornando uma espécie de Projac das baladas.

A nova casa noturna Nunn mostra claramente isto, uma espécie de “primo pobre” do Garage, enquanto o próprio está dando um tempo, e tudo isto gera uma expectativa enorme na paquitagem sedenta por baladas. O assunto vira tema de discussão nas mesas dos bares da praça, assunto sério, e digno de qualquer filósofo.

A Rota Obrigatória representa não apenas os points que não podem faltar no roteiro da noite cuiabana, mas muito mais do que isto, é a cobrança, como se fossemos obrigados a fazer parte deste mundo, e se você não faz, acaba sendo rotulado, se torna um estranho, um chato anti-social.
Por falar em chato, vai pra onde este fim de semana?

WAGNER ROSATI é publicitário e desenvolvedor web na wrccdesign.com.br


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