O Brasil convive há décadas com uma tragédia que se repete todos os dias, mas que raramente ocupa o centro do debate público: o extermínio sistemático da juventude negra. Os dados da edição de 2025 do Atlas da Violência, elaborado pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, são contundentes: 73% das vítimas de homicídio no país são jovens negros, com idades entre 15 e 29 anos.
Isso significa que, a cada dia, 111 pessoas negras são assassinadas, um número 2,7 vezes maior do que o de pessoas não negras.
A violência policial é um dos vetores mais cruéis dessa realidade. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, 82,7% das vítimas de intervenções policiais são pretos ou pardos, e a chance de um jovem negro morrer em uma ação policial é quase quatro vezes maior do que a de um jovem branco. Em cidades como Angra dos Reis (RJ) e Jequié (BA), mais da metade das mortes violentas são causadas por agentes do Estado.
Esses números não são fruto do acaso. Não ocorrem por acidente, coincidência ou um "ponto fora da curva", mas representam um fenômeno que se repete desde sempre, em todas as regiões brasileiras. São o reflexo de um racismo, muitas vezes camuflado, mas profundamente enraizado, que atravessa as instituições, criminaliza a cor da pele e transforma a juventude negra em alvo preferencial da violência. Enquanto isso, políticas públicas de prevenção, inclusão e reparação seguem tímidas, fragmentadas ou, em muitos casos, simplesmente inexistentes.
Comparando com estatísticas internacionais, o contraste é gritante. A taxa de homicídios no Brasil é quase quatro vezes maior que a média mundial, segundo a ONU. E, embora países como os Estados Unidos também enfrentem desigualdades raciais na segurança pública, o Brasil lidera em números absolutos e proporcionais de mortes violentas de jovens negros.
Não se trata apenas de estatísticas; trata-se de vidas interrompidas, sonhos ceifados, famílias devastadas. É urgente reconhecer que estamos diante de uma matança descontrolada, que exige respostas firmes do Estado e da sociedade.
É preciso investir em educação, cultura, oportunidades e políticas afirmativas. Mas também é necessário reformar profundamente as forças de segurança, combater a impunidade e romper com a lógica de guerra às periferias. A juventude negra não pode continuar sendo tratada como inimiga interna.
Enquanto a cor da pele continuar sendo sentença de morte, não haverá justiça nem paz.
Luiz Henrique Lima é professor e conselheiro independente certificado.
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