Cunhada de Emanuel diz que irmã ficou com R$ 2 milhões

No áudio de 11 minutos divulgado pelo candidato a prefeito Wilson Santos (PSDB), nesta segunda-feira (24), a empresária Bárbara Pinheiro, cunhada de Emanuel Pinheiro (PMDB), diz ter ajudado a empresa Caramuru Alimentos a obter incentivos fiscais junto ao Governo do Estado em troca de dinheiro.

Segundo ela, sua irmã, Fabíola de Cássia Noronha recebeu R$ 2 milhões. E, com a sua parte, ela cobriu os prejuízos de uma cozinha industrial que mantinham, pagando factorings onde ela tinha obtido empréstimos.

A conversa, mantida entre ela e o tucano, ocorreu há cerca de um mês, na residência de Wilson. O caso veio à tona nesta semana, com uma denúncia formal de Wilson na Delegacia Fazendária (Defaz).

Fiz a operação e a Fabíola [de Cássia Noronha, irmã de Bárbara] recebeu R$ 2 milhões

No diálogo, a empresária disse que possuía uma cozinha industrial em Várzea Grande que atendia empreiteiras. Segundo ela, em 2014, o governo federal começou a atrasar pagamentos a essas construtoras, que, consequentemente, começaram a atrasar pagamentos a ela.

“Alguns cheques foram sustados. Enfim, agora [o prejuízo] deve estar em torno de R$ 4 milhões”, disse.

Uma dessas empresas foi a Aurora Construtora, que também "quebrou", segundo ela.

Diante da possível falência, a empresária foi, junto de seu esposo, Marco Polo Pinheiro, conhecido como Popó, à Secretaria de Estado de Indústria e Comércio para conseguir acelerar o processo de enquadramento da empresa Caramuru Alimentos no programa de incentivos fiscais. Segundo as informações, a empresa tentava obter os  benefícios desde 2011.

“Fui lá na secretaria, marquei. Eles foram e fizeram reunião. Uma reunião eu fui junto, nas outras eu não fui. Não é nada ilegal. O que eu consegui lá dentro muitas empresas já fizeram isso”, afirmou.

Segundo o relato de Bárbara Pinheiro, após a ajuda dela para enquadrar a Caramuru nos incentivos, a empresa cobriu parte do prejuízo que ela tinha em suas empresas.

“Fiz a operação e a Fabíola [de Cássia Noronha, irmã de Bárbara] recebeu R$ 2 milhões. Aí, era para fazer pelo escritório dela, só que o escritório dela não é simples. Daí, ela queria que eu mandasse pros escritórios (...) Dei pros escritórios e eles pagaram. Fabíola ficou com o dinheiro dela, e o que era meu paguei as contas da cozinha”, disse.

Fac-símile de transcrição do diálogo gravado:

 

Factorings

A cunhada de Emanuel relatou a Wilson que, com o dinheiro pago pela Caramuru, conseguiu quitar parcela das dívidas que contraiu.

"Eu realmente paguei todas as 'factorings', ainda devo muito de pessoal, mas não devo factoring. Essas coisas eu consegui pagar tudo", disse ela.

Bárbara Pinheiro contou que foram emitidas notas fiscais que deveriam constar como prestação dos serviços de assessoria tributária para justificar os valores que a Caramuru repassou para suas empresas.

Porém, por um erro, a nota fiscal foi emitida como “incentivo fiscal”. Ela disse que passou a ser "chantageada" após um grupo de jornalistas descobrir esta transação.

“Quando houve aquela quebra de sigilo fiscal na prefeitura, quando aqueles jornalistas começaram a chantagear Deus e o mundo, eles pegaram as nossas notas e, desde então, chantageiam a gente todos os dias”, afirmou.

Ministério Público

Bárbara Pinheiro disse que chegou a tentar levar o caso ao Ministério Público Estadual (MPE), mas foi orientada a esperar passar as eleições.

A partir do momento que for pra minha vida, vai acabar com a minha vida

"Eu já fui pro MP, eu já conversei, e aí eles falaram assim para mim, espera passar a eleição. Porque eu fui assim... se eu tiver feito alguma coisa errada, tudo bem, eu vim aqui me entregar. Vão me prender. Agora o case é prender os outros, ok, vamos prender. Prender todo mundo. Só que daó o doutor Sérgio [possivelmente o promotor Sérgio Piedade] falou 'não, espera passar a eleição daí você vem aqui e a gente vai conversar'", disse.

Em nota, o MPE negou que tenha sido procurado pela cunhada de Emanuel Pinheiro.

Programa eleitoral

No áudio, a empresária também disse que seu marido não tem negócios com Emanuel e pediu que o assunto não fosse usado por Wilson em seu programa eleitoral.

“Aí, eu vim pedir que era pra não deixar ir pro ar, porque não tem nada a ver. Enquanto vocês estão brigando aí com essas coisas da vida de vocês, eu acho que tudo bem. Mas a partir do momento que for pra minha vida, vai acabar com a minha vida. E eu não sei se isso vai mudar, vai alterar [o resultado das eleições]. Pode até ser. Mas eu não sei se é justo”, afirmou.

“O Popó dá as coisas pro Emanuel, ele não faz negócios com Emanuel, né. Então, se quebrarem o meu sigilo, o do Popó, nunca vai ter que o Popó fez negócio com Emanuel. Mas eu já fiz com meio Mato Grosso, já fiz com o senhor e com tantos outros”, disse, se referindo a Wilson.

Outro lado

A reportagem tentou falar com Bárbara e Popó Pinheiro, além de Emanuel, durante toda a tarde desta segunda-feira (24). As ligações não foram atendidas.

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