Cuiabá, Quinta-Feira, 7 de Agosto de 2025
ASSASSINATO DE BAILARINO
16.04.2013 | 11h09 Tamanho do texto A- A+

Artistas lamentam perda; filho não crê em latrocínio

“A cultura perde muito com a morte de Paulo”, afirma filho do dançarino

Mary Juruna/MidiaNews

Velório de Paulo Medina, na Galeria do Pádua, em Cuiabá

Velório de Paulo Medina, na Galeria do Pádua, em Cuiabá

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Artistas, alunos e familiares do bailarino e coreógrafo Paulo Medina, de 44 anos, estão chocados com sua morte e descartam a possibilidade de latrocínio (roubo seguido de morte).

Medina morreu na manhã de segunda-feira (15), no Pronto-Socorro de Cuiabá, após ser esfaqueado durante a madrugada dentro da sua própria casa, no bairro Boa Esperança, na região do Coxipó.

O principal suspeito do crime, Rhuan Costa Neres, de 18 anos, foi preso por policiais militares e está recolhido no Centro de Ressocialização do Carumbé, na Capital.

"Paulo sempre esteve ajudando as pessoas e fomentando a cultura. Aí, você vê uma barbaridade dessas acontecer com um homem que sempre fez o bem"

O filho do dançarino, o bailarino Claudiano Christ, 21, afirmou ao MidiaNews que acredita na hipótese do crime ter sido planejado e executado por mais de uma pessoa.

“Paulo era uma pessoa grande e faixa preta em tae-kwon-do. Uma pessoa apenas não conseguiria derrubá-lo dessa forma. Já estava tudo esquematizado. Ele não levava ninguém para casa, se ele não conhecesse a pessoa. Esfaquearam e tentaram degolá-lo e, quando não conseguiram, usaram uma mesa para acertá-lo na cabeça, causando traumatismo craniano”, disse.

O ator e produtor cultural Lioniê Vitório, conhecido pelo personagem Nico (da dupla Nico & Lau), esteve presente no velório do bailarino e disse também não acreditar que o crime foi cometido por apenas uma pessoa.

“Paulo sempre esteve ajudando as pessoas e fomentando a cultura. Aí, você vê uma barbaridade dessas acontecer com um homem que sempre fez o bem. Não dá para acreditar que só uma pessoa fez tudo isso e conseguiu pegar um cara de quase 1,80 m de altura. É uma coisa que não cabe na nossa cabeça”, afirmou.

Impacto no setor cultural

Até a manhã desta terça-feira (16), mais de 400 pessoas já haviam passado pela Galeria do Pádua, na Avenida Miguel Sutil, em Cuiabá, para se despedir do bailarino.

Para Christ, a morte do pai não deixa apenas os seus alunos órfãos, mas toda a sociedade cuiabana, que perdeu o precursor da dança contemporânea no Estado.

“É como se tivessem tirado nossos braços e nossas pernas. Deixaram um vazio em todos nós, que éramos alunos e discípulos de Paulo. Ele não era um professor, era um mestre. A sociedade ficou órfã, porque ele era um grande pai da cultura e da arte. Paulo transformava pedra em bailarino”, disse.

“A cultura perde muito com a morte dele. A sociedade cuiabana perdeu o alicerce de todo um histórico de arte e cultura na cidade. Paulo, que difundiu o siriri com o grupo da Domingas, há 20 anos. Foi ele quem trouxe a dança contemporânea para o Estado. Aqui em Mato Grosso, não existe outro profissional como Paulo na área de dança moderna. Ele é o símbolo da arte em Cuiabá”, completou.

"A cultura perde muito com a morte dele. A sociedade cuiabana perdeu o alicerce de todo um histórico de arte e cultura na cidade"

Lioniê Vitório relembrou os projetos realizados em parceria com Medina, na década de 1980, pelo interior do Estado, e destacou que a arte regional perdeu um de seus principais defensores.

“Conheço Paulo desde 1986, quando viajamos pelos municípios do interior de Mato Grosso, participamos de festivais de dança e teatro. A arte, de um modo geral, perde muito sem a presença do Paulo. Porque, além de ele ser um grande bailarino, era um articulador e defensor das artes. Desde a década de 80 e 90, ele sempre esteve à frente do seu tempo e participou da formação dessa nova geração que está hoje fazendo dança no Estado. Ele vai fazer muita falta”, lamentou.

O empresário Menotti Griggi ressaltou a rede que foi criada em volta do bailarino e a criação da Companhia Voo Livre Ballet, da qual Medina era diretor, professor e coreógrafo.

“Ele tinha tantos projetos, fez tantos pelos outros e acolheu tantas pessoas. A sua morte nos faz perguntar o que vai acontecer com essas pessoas, com esses projetos. É uma perda gigante. É um trabalho que está entrelaçado à vida de muita gente”, disse.

“Eu espero, sinceramente, que dessa tragédia a gente possa tirar lições de se preservar mais, se cuidar mais, saber mais das pessoas com quem a gente se relaciona e acha que conhece. E espero também que o projeto cultural de Paulo não morra e continue por meio das pessoas que estavam à sua volta”, afirmou Griggi.

História


Natural de Campo Grande (MS), Paulo Medina veio para Cuiabá com 13 anos de idade e, segundo seu filho, sempre trabalhou com projetos sociais, criando projetos que resultaram na Companhia Voo Livre Ballet, em 1991.

"Paulo transformava pedra em bailarino"

“Ele trabalhou durante muito tempo na Lagoa do Jacaré, em Várzea Grande, com pessoas que não tinham sapatilhas e dançavam descalças, que não possuíam roupas de balé e dançavam de short, que não tinham barras de balé e faziam os exercícios na parede ou com o auxílio de uma cadeira. Na época, ele ainda tocava discos de vinil. Não possuía a estrutura que possui hoje e o acesso também não era o mesmo”, afirmou o filho.

Christ ressaltou as dificuldades enfrentadas pelo bailarino para correr atrás do seu sonho, sem contar com apoios ou incentivos à cultura. Ainda assim, a companhia conseguiu promover grandes espetáculos, como “Carmen” e “Sinfonia Pantaneira”.

“Ele foi muito batalhador. Sempre teve muitos projetos, atendeu a vários bolsistas, formados por crianças de bairros periféricos. Fez tudo isso sem apoio, porque a Voo Livre sempre foi carente de apoio. Mesmo assim, ele nunca quis desistir, ele sempre quis promover a arte. O combustível dele era criar. E a gente sempre fez tudo isso contando apenas com o apoio de pais e alunos e a colaboração das pessoas, mas nunca houve uma política cultural para dar suporte”, disse.

O dançarino foi adotado há seis anos por Medina, mas ambos se conhecem desde que Christ tinha 11 anos de idade e morava em Ji-Paraná (RO).

"Não vamos abandonar nossos alunos. Vamos renascer e seguir com o sonho de Paulo"

“O prazer de Paulo era ver as pessoas à sua volta sempre bem. Do mínimo ao máximo, ele me deu tudo e tudo o que sei, hoje, devo a ele. Ele foi um guerreiro”, afirmou.

Despedida

O corpo de Paulo Medina continuará sendo velado na Galeria do Pádua até as 15h desta terça-feira (16). Em seguida, um cortejo seguirá em direção ao Cemitério de São Gonçalo, onde o bailarino será enterrado temporariamente.

Posteriormente, seu corpo será levado para Campo Grande, atendendo a pedido de sua família.

A Companhia


Segundo Christ, a Companhia Voo Livre Ballet continuará atuando no Estado, mas deverá mudar de endereço.

“Hoje, a escola funciona na casa do bairro Boa Esperança. Apesar de já ter sido tudo limpo no local, vamos mudar a companhia de lá, por questões emocionais. Vamos começar de novo. A Voo Livre é uma família e continuará unida. Não vamos abandonar nossos alunos. Vamos renascer e seguir com o sonho de Paulo”, afirmou.

Atualmente, a escola de balé possui cerca de 100 alunos, com idade mínima de dois anos. A companhia já fez turnês por todo o país e ganhou prêmios nacionais.

Leia mais sobre o caso AQUI e AQUI.

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Glaucia Ricartes  17.04.13 00h20
Gostaria de acessar esta página e ler que foi mentira...mas...acho que não... as cortinas se fecharam para sempre........obrigada PAULO MEDINA, meu mestre amado, pelo grande espetáculo de vida! Vá...carregado pela brisa das flores, voe, voe, voe, pule, gire, ria.......e obrigada por deixar a todos que conviveram com você um pedaço de sua alma feliz e cheia de amor! ... Deus, por favor, pegue-o ag...ora em seu colo, pois ele foi muito especial conosco...ele conseguiu nos transmitir o SEU amor, o Amor Maior, acima de tudo, de preconceitos, de falsidade e de hipocrisias...vá amado mestre.... VOE, VOE LIVRE PARA O CÉU, ensine aos anjos a dança, a expressão de amor humana! ... Em nome de todos os alunos, e aqui peço licença para falar por TODOS OS ALUNOS DE PAULO MEDINA, mesmo por aqueles que, tiveram um só dia, o PRIVILÉGIO de aprender pelo menos um só gesto corporal vindo de você, o nosso MUITO OBRIGADO!, COM TODO AMOR DO MUNDO! Saudade muita, lembrança sempre!!!
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Marlene Kirchesch  16.04.13 14h09
Perdemos um amigo fiel e solidário e querido por toda a classe Cultural.Perde Mato Grosso e o Brasil um ícone da Arte Cênica Contemporanea!"Paulo Medina" FOREVER!
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Enio Castilho  16.04.13 12h20
No início dos anos 90 eu era Gerente de Marketing do Goiabeiras Shopping e nesta época tive o prazer de realizar alguns projetos com PAULO MEDIN através da Companhia Vôo Livre. Fica na minha memória um profissional perfeccionista, criativo e batalhador e que procurava levar cultura de ótima qualidade a todo o Estado de Mato Grosso. Sinto-me profundamente triste pela sua morte brutal e precoce....
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ANA SABOIA  16.04.13 11h39
Cuiabá que já é tão carente de profissionais na área da dança, ainda perde Paulo Medina que fazia parte dos talentosos e verdadeiros profissionais! Ana Saboia. Profa. e Coreógrafa de Dança de Salão.
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