Cuiabá, Domingo, 6 de Julho de 2025
CASARÕES
05.04.2019 | 16h30 Tamanho do texto A- A+

Às vésperas dos 300 anos, donos protestam contra o abandono

Herdeiros de imóveis, eles reclamam da falta de segurança na região e do descaso do poder público

Alair Ribeiro/MidiaNews

Faixa instalada na frente de um dos casarões do Centro Histórico de Cuiabá

Faixa instalada na frente de um dos casarões do Centro Histórico de Cuiabá

BRUNA BARBOSA
DA REDAÇÃO

Proprietários de casarões no Centro Histórico de Cuiabá aproveitaram a proximidade do aniversário da cidade, que no dia 8 completa 300 anos, para se unir em um protesto silencioso.

 

Faixas pretas com os dizeres "Cuiabá 300 anos" e "SOS Centro Histórico" foram fixadas nas fachadas de boa parte dos dos casarões da ruas Voluntários da Pátria e 7 de Setembro.

 

Antes do abandono, os casarões imponentes eram ocupados por famílias que construíram suas vidas em meio às antigas construções.

 

Renato Calhao, de 60 anos, nasceu e viveu em um dos antigos casarões. A fachada que ostenta janelas imponentes e porta de madeira, caractéristicos das construções do período colonial no Brasil, é datada do século 19. 

 

Mais do que um imóvel histórico que simboliza o período em que os portugueses chegaram ao País, trazendo na bagagem estilos europeus que foram adpatados aos recursos de materiais disponíveis na Cuiabá da época, o local está gravado na memória de Renato em suas lembranças de infância e adolescência. 

 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Casarões Históricos - Manifestação Cuiabá 300

 Renato Calhao morou em um dos casarões com a família até 1975 

"A maioria daqueles casarões são heranças de família. Nós nascemos e moramos ali. A nossa briga pelo Centro Histórico é por amor, é o lugar onde fomos criados. Morei com meus pais e avós no casarão azul em frente ao Museu de Imagem e Som de Cuiabá (Misc) até 1975", lembrou. 

  

Atualmente é tarefa de Renato manter a antiga construção de pé. Ele contou que costuma gastar cerca de R$ 15 mil a cada nova pintura do casarão que herdou dos pais, que, por sua vez, o receberam como presente de casamento. 

 

"E ainda tenho os gastos para manter a estrutura por dentro, manter o piso hidráulico, por exemplo", explicou. 

 

O abandono do Centro Histórico de Cuiabá e a falta de políticas públicas para pessoas em situação de vulnerabilidade, como usuários de drogas, por exemplo, fizeram com que as ruelas centenárias se tornassem abrigo para a parcela desabrigada da sociedade. 

 

Os reflexos do descaso com o local são os altos índices de furtos e roubos. Os antigos casarões sofrem com a invasão de pessoas em situação de rua e dependentes químicos. 

 

O casarão de Renato já foi alvo de roubo dezenas de vezes, chegando até mesmo a ter um dos vasos sanitários levados. 

 

"Já fui roubado várias vezes. Roubaram um vaso, lâmpadas, tomadas e partes da fiação elétrica. Até mesmo um vizinho que passou um cano por dentro do meu casarão para roubar água. Os proprietários já não aguentam mais manter as casas para o bandido roubar, quebrar e depredar", disse. 

 

Renato também criticou a falta de apoio do poder público. Para ele, o Centro Histórico é o "berço" de Cuiabá e deveria ser lembrado pelos políticos em meio as comemorações dos 300. 

 

"Nós reunimos e resolvemos fazer esse 'protesto silencioso', porque estamos vendo que agora é mais fácil comemorar os 300 anos de Cuiabá com casarões cenógraficos em shoppings ou cenários em madeirte na Orla do Porto. O aniversário deveria estar sendo comemorado onde é a origem", criticou. 

  

O dono do casarão azul também atribuiu ao abandono à dificuldade em alugar o seu imóvel, onde, de acordo com ele, poderiam funcionar "restaurantes e galerias de arte".

 

Em um dos períodos, a construção foi uma associação de artistas plásticos de Cuiabá, em que nomes como Regina Pena, Gervane de Paula e Dalva de Barros se reuniam. 

Alair Ribeiro/MidiaNews

Casarões Centro Histórico 2017

 Casarões históricos estão abandonados e correm risco de desabar 

 

"Essas artistas tinham um ateliê lindo que funcionava, era ali que eles produziam. Porém, o local começou a ser alvo de ladrões e eles entregaram o imóvel. Ali também já funcionou uma autoescola. Mas, atualmente, ninguém quer abrir um imóvel na rota da criminalidade", apontou. 

 

Um casarão, localizado em frente ao Insituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Rua 7 de Setembro, também faz parte de uma herança do avô de Renato. 

 

"O meu casarão não é alugado há seis anos. As pessoas sabem que o movimento do entorno é formado por usuários de drogas, casas de jogos e cabarés. Ninguém quer um comércio onde isso acontece. E, mesmo nessa situação, só temos o silêncio das autoridades", avaliou. 

 

Renato também apontou o descaso de prefeitos e governadores de Cuiabá. 

 

"O prefeito Emanuel Pinheiro é cuiabano, o ex-governador Pedro Taques também, mas, mesmo assim, nada fizeram pelo Centro Histórico de Cuiabá", finalizou. 

 

Desabamentos 

 

O casarão do século 19, que abrigou a primeira gráfica e papelaria de Cuiabá, conhecida como Gráfica do Pêpe, na Rua 7 de Setembro, desabou em decorrência a uma chuva no dia 29 de janeiro. Parte do telhado e da fachada não resistiu e foram para o chão nas primeiras hora da manhã daquele dia. 

 

O casarão chegou a pertencer ao então governador Generoso Ponce e, posteriormente, foi adquirido pelo coronel da Guarda Nacional, Avelino de Siqueira.

 

Após sua morte, em 1916, a esposa Maria Luiza Hugueney de Siqueira abriu a primeira gráfica de Cuiabá, que passou a se chamar Livraria Pêpe.

 

O imóvel foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1980, segundo o historiador Aníbal Alencastro.

 

Leia mais sobre o assunto: 

 

 

Prédio histórico não resiste à chuva e desaba no Centro de Cuiabá

 

Imóvel histórico sofre novo desabamento e MPE cobra a Prefeitura

 

Ocupado por usuários de drogas, casarão histórico pode desabar

 

 

 

 

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Casarões Históricos - Manifestação Cuiabá 300

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Casarões Históricos - Manifestação Cuiabá 300

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Casarões Centro Histórico 2

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Casarões Centro Histórico 2017

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Casarões Centro Histórico 2017




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cleudson   06.04.19 07h59
Se a casa tem dono. Ele tem obrigação de reformar.
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marcos vinicius paes de barros  05.04.19 17h03
Na realidade não apenas os proprietários,mas todos nos cuiabanos devíamos encampar essa luta muito justa e meritória. Para esse tipo de ação seria importante a participação da sociedade como um todo.
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Wagner cordeiro   05.04.19 17h02
Se os cofres públicos não suportam as despesas de manutenção e se também não é viável aos donos custearem tais reformas, a única solução é deixar a hipocrisia de lado ,destombando os imóveis e libera-los para que cada proprietário faça daquilo que lhe pertence o que melhor lhe aprouver. Tudo que tem ingerência do estado não prospera.
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Claudio Vieira  05.04.19 16h57
Fiquem tranquilos, pois Nossa Cuiabá esta toda abandonada não só os casarões.Pode fechar o olho e para qualquer lugar que olhar verá um problema.
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