Casarões Históricos - Manifestação Cuiabá 300

Proprietários de casarões no Centro Histórico de Cuiabá aproveitaram a proximidade do aniversário da cidade, que no dia 8 completa 300 anos, para se unir em um protesto silencioso.
Faixas pretas com os dizeres "Cuiabá 300 anos" e "SOS Centro Histórico" foram fixadas nas fachadas de boa parte dos dos casarões da ruas Voluntários da Pátria e 7 de Setembro.
Antes do abandono, os casarões imponentes eram ocupados por famílias que construíram suas vidas em meio às antigas construções.
Renato Calhao, de 60 anos, nasceu e viveu em um dos antigos casarões. A fachada que ostenta janelas imponentes e porta de madeira, caractéristicos das construções do período colonial no Brasil, é datada do século 19.
Mais do que um imóvel histórico que simboliza o período em que os portugueses chegaram ao País, trazendo na bagagem estilos europeus que foram adpatados aos recursos de materiais disponíveis na Cuiabá da época, o local está gravado na memória de Renato em suas lembranças de infância e adolescência.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Renato Calhao morou em um dos casarões com a família até 1975
"A maioria daqueles casarões são heranças de família. Nós nascemos e moramos ali. A nossa briga pelo Centro Histórico é por amor, é o lugar onde fomos criados. Morei com meus pais e avós no casarão azul em frente ao Museu de Imagem e Som de Cuiabá (Misc) até 1975", lembrou.
Atualmente é tarefa de Renato manter a antiga construção de pé. Ele contou que costuma gastar cerca de R$ 15 mil a cada nova pintura do casarão que herdou dos pais, que, por sua vez, o receberam como presente de casamento.
"E ainda tenho os gastos para manter a estrutura por dentro, manter o piso hidráulico, por exemplo", explicou.
O abandono do Centro Histórico de Cuiabá e a falta de políticas públicas para pessoas em situação de vulnerabilidade, como usuários de drogas, por exemplo, fizeram com que as ruelas centenárias se tornassem abrigo para a parcela desabrigada da sociedade.
Os reflexos do descaso com o local são os altos índices de furtos e roubos. Os antigos casarões sofrem com a invasão de pessoas em situação de rua e dependentes químicos.
O casarão de Renato já foi alvo de roubo dezenas de vezes, chegando até mesmo a ter um dos vasos sanitários levados.
"Já fui roubado várias vezes. Roubaram um vaso, lâmpadas, tomadas e partes da fiação elétrica. Até mesmo um vizinho que passou um cano por dentro do meu casarão para roubar água. Os proprietários já não aguentam mais manter as casas para o bandido roubar, quebrar e depredar", disse.
Renato também criticou a falta de apoio do poder público. Para ele, o Centro Histórico é o "berço" de Cuiabá e deveria ser lembrado pelos políticos em meio as comemorações dos 300.
"Nós reunimos e resolvemos fazer esse 'protesto silencioso', porque estamos vendo que agora é mais fácil comemorar os 300 anos de Cuiabá com casarões cenógraficos em shoppings ou cenários em madeirte na Orla do Porto. O aniversário deveria estar sendo comemorado onde é a origem", criticou.
O dono do casarão azul também atribuiu ao abandono à dificuldade em alugar o seu imóvel, onde, de acordo com ele, poderiam funcionar "restaurantes e galerias de arte".
Em um dos períodos, a construção foi uma associação de artistas plásticos de Cuiabá, em que nomes como Regina Pena, Gervane de Paula e Dalva de Barros se reuniam.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Casarões históricos estão abandonados e correm risco de desabar
"Essas artistas tinham um ateliê lindo que funcionava, era ali que eles produziam. Porém, o local começou a ser alvo de ladrões e eles entregaram o imóvel. Ali também já funcionou uma autoescola. Mas, atualmente, ninguém quer abrir um imóvel na rota da criminalidade", apontou.
Um casarão, localizado em frente ao Insituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), na Rua 7 de Setembro, também faz parte de uma herança do avô de Renato.
"O meu casarão não é alugado há seis anos. As pessoas sabem que o movimento do entorno é formado por usuários de drogas, casas de jogos e cabarés. Ninguém quer um comércio onde isso acontece. E, mesmo nessa situação, só temos o silêncio das autoridades", avaliou.
Renato também apontou o descaso de prefeitos e governadores de Cuiabá.
"O prefeito Emanuel Pinheiro é cuiabano, o ex-governador Pedro Taques também, mas, mesmo assim, nada fizeram pelo Centro Histórico de Cuiabá", finalizou.
Desabamentos
O casarão do século 19, que abrigou a primeira gráfica e papelaria de Cuiabá, conhecida como Gráfica do Pêpe, na Rua 7 de Setembro, desabou em decorrência a uma chuva no dia 29 de janeiro. Parte do telhado e da fachada não resistiu e foram para o chão nas primeiras hora da manhã daquele dia.
O casarão chegou a pertencer ao então governador Generoso Ponce e, posteriormente, foi adquirido pelo coronel da Guarda Nacional, Avelino de Siqueira.
Após sua morte, em 1916, a esposa Maria Luiza Hugueney de Siqueira abriu a primeira gráfica de Cuiabá, que passou a se chamar Livraria Pêpe.
O imóvel foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1980, segundo o historiador Aníbal Alencastro.
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4 Comentário(s).
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cleudson 06.04.19 07h59 | ||||
Se a casa tem dono. Ele tem obrigação de reformar. | ||||
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marcos vinicius paes de barros 05.04.19 17h03 | ||||
Na realidade não apenas os proprietários,mas todos nos cuiabanos devíamos encampar essa luta muito justa e meritória. Para esse tipo de ação seria importante a participação da sociedade como um todo. | ||||
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Wagner cordeiro 05.04.19 17h02 | ||||
Se os cofres públicos não suportam as despesas de manutenção e se também não é viável aos donos custearem tais reformas, a única solução é deixar a hipocrisia de lado ,destombando os imóveis e libera-los para que cada proprietário faça daquilo que lhe pertence o que melhor lhe aprouver. Tudo que tem ingerência do estado não prospera. | ||||
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Claudio Vieira 05.04.19 16h57 | ||||
Fiquem tranquilos, pois Nossa Cuiabá esta toda abandonada não só os casarões.Pode fechar o olho e para qualquer lugar que olhar verá um problema. | ||||
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