Até 3 horas no ônibus: o drama de quem sai de VG para trabalhar
População que trabalha em Cuiabá pega até 8 ônibus por dia; prefeita cita nova modelagem com empresa
Yasmin Silva/MidiaNews
Passageiros precisam esperar por até uma hora na fila para pegar ônibus intermunicipais de VG, que vêm lotados
LARISSA AZEVEDO
DA REDAÇÃO
Os moradores de Várzea Grande que dependem do transporte intermunicipal para trabalhar em Cuiabá e retornar para casa enfrentam dificuldades crescentes no dia a dia. A principal queixa é a precariedade do serviço, marcada pela demora nos horários e pela quantidade insuficiente de ônibus para atender a demanda.
Eu pego oito ônibus para trabalhar, quatro pra ir e quatro pra voltar
O MidiaNews esteve no ponto de ônibus localizado em frente ao Morro da Luz, no Centro, e falou com a população, que se mostrou insatisfeita com a situação.
O ponto recebe uma grande quantidade de pessoas que esperam pelos ônibus de Várzea Grande, e, muitas vezes, a fila chega até o final da quadra. Centenas de pessoas chegam a esperar pelo mesmo coletivo, que, quando aparece, é incapaz de comportar todo mundo.
A reportagem observou de perto a situação, que piora no horário de pico. Das 17h30, quando a equipe chegou ao local e já tinha fila, até às 18h20, dois ônibus passaram: um da linha 55, que estava lotado e não parou para embarque, e um da linha 24, que conseguiu comportar cerca de um terço da fila, pois já chegou metade cheio.
Às 18h31, o 24B, que é o ônibus de reforço, chegou e a maioria das pessoas conseguiram entrar. Alguns minutos depois, outro 24 passou e o resto das pessoas embarcaram.
A situação atual é frustrante para os passageiros, que precisam pegar pelo menos dois ônibus para chegar em casa e demoram até 3h no percurso.
Adelina Zilda de Oliveira trabalha como diarista para uma família de Cuiabá há 21 anos. A passageira sai do trabalho às 17h30 e só consegue chegar em casa em torno de 20h.
“Trabalho de doméstica num condomínio e pego oito ônibus para trabalhar, quatro pra ir e quatro pra voltar. Aí você chega aqui cansada, com dor nas pernas, como todos estão aqui [na fila], e fica quarenta minutos para esperar um ônibus”, afirmou.
Este é o cenário de grande parte das pessoas que aguardam pelo ônibus na região. A maioria pega seis ônibus por dia (ida e volta).
Alexander Paes de Barros, arquivista de um hospital de Cuiabá, também enfrenta a fila de segunda à sexta-feira. O jovem, que demora entre 2h30 e 3h para chegar em casa, acredita que a quantidade de ônibus intermunicipais é insuficiente.
Tem dias que dá vontade de não pegar ônibus mesmo
“Tem dias que dá vontade de não pegar ônibus mesmo. Chego no terminal, às vezes, consigo pegar uma moto [por aplicativo], para chegar um pouco mais cedo em casa. Mas é sempre assim, sempre correria. Você tem que sair rápido do trabalho para conseguir pegar ônibus aqui. E ainda ter a sorte de conseguir pegar lá no terminal alguma coisa para o seu bairro”, disse.
De acordo com ele, a qualidade do transporte público de Várzea Grande está cada vez pior. “A tendência, desde que comecei a pegar ônibus de Várzea Grande, é piorar. Principalmente nesses últimos anos, piorou muito”, disse.
A auxiliar de departamento pessoal Janine Machado faz uso de transporte por aplicativo todos os dias para ir para casa, e só assim consegue chegar antes das 20h.
“É horrível, porque de manhã não tem ônibus, de tarde não tem, em nenhum horário tem ônibus. [...] Do bairro não tem, intermunicipal não tem”, afirmou.
Adeline também costumava utilizar veículo por aplicativo quando estava muito cansada, mas o uso começou a ficar inviável financeiramente. Atualmente, ela depende do transporte público todos os dias em que trabalha.
A auxiliar de laboratório Geige Ramos Viana também precisa esperar e por muito tempo. Em diversas ocasiões, nem no reforço consegue entrar e espera pelo próximo.
“E se vai ficando mais tarde, mais complicado fica para a gente entrar. [...] Eles aumentaram o valor da passagem para R$ 6, mas a gente não tem essa quantidade [de ônibus]. Tem horas que não param e a gente fica mais de uma hora esperando”.
Baixa na qualidade de vida
E se vai ficando mais tarde, mais complicado fica para a gente entrar
Com a lotação, demora e estresse a que são submetidos todos os dias, os passageiros das linhas intermunicipais de Várzea Grande perdem qualidade de vida e tempo de lazer.
Adeline, no dia da reportagem, perdeu o culto, que ocorreu às 19h. Mesmo ao sair às 17h30 do trabalho, não conseguiu chegar a tempo e pegou o oitavo e último ônibus do dia às 19h30, para ir para casa.
Todos os entrevistados, quando questionados, afirmaram se sentir estressados e cansados ao gastar tanto tempo do dia esperando ou dentro do ônibus.
“Eu perco qualidade de vida, tanto para ir para o serviço, quanto para voltar. Porque saio de casa às 6h30. Chego no meu serviço às 8h30 todos os dias. São pelo menos quatro horas perdidas. Quatro horas”, afirmou Janine.
“Já notei isso. Você perder duas horas todo dia é muito estressante. Além de, pelo que noto também, é algo que estressa as pessoas e também os motoristas. Porque você acaba passando o seu estresse, às vezes, para o motorista”, afirmou Alexander.
Imbróglio
Atualmente, a circulação dos ônibus de Várzea Grande é administrada pela empresa União Transporte, que deve permanecer na gestão até que a Prefeitura consiga preparar uma nova licitação.
A Justiça de Várzea Grande havia suspendido a prorrogação do contrato de concessão do transporte coletivo urbano entre a Prefeitura e a empresa no último dia 4. O Tribunal de Justiça, no entanto, cassou a liminar até que a Prefeitura encontre uma nova empresa para a administração. O processo licitatório deve ser iniciado em 45 dias desde a decisão em primeiro grau, na quarta-feira (10).
A Justiça justificou a decisão afirmando que o transporte público é um serviço básico e, a falta dele, geraria caos e desconforto à população.
Ao MidiaNews, a prefeita Flávia Moretti afirmou que a Prefeitura está solicitando orçamento de novas empresas que fazem o plano de mobilidade urbana, a fim que entregar uma modelagem contratual viável.
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Yasmin Silva/MidiaNews
Passageiros embarcando no ônibus intermunicipal de VG no ponto em frente ao Morro da Luz
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Passageiros embarcando no ônibus intermunicipal de VG no ponto em frente ao Morro da Luz
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Passageiros embarcando no ônibus intermunicipal de VG no ponto em frente ao Morro da Luz
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Pessoas aguardando ônibus em fila no ponto em frente ao Morro da Luz
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Pessoas aguardando ônibus em fila no ponto em frente ao Morro da Luz
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Pessoas aguardando ônibus em fila no ponto em frente ao Morro da Luz