Calor, mau cheiro e superlotação: usuários reclamam de estações

As três principais estações de ônibus de Cuiabá - Alencastro, Bispo Dom José e Ipiranga - recebem diariamente milhares de pessoas a caminho de seus compromissos. Mas apesar da importância das estruturas para o transporte público na cidade, as três estão longe do ideal para os usuários.

A estrutura da plataforma, na hora que para aqui, diversas vezes quebra na frente, é péssimo, tem que ficar só aqui

Ao visitar as estações nesta quinta-feira (3), o MidiaNews conversou com diversas pessoas e observou os principais problemas apontados por elas. 

Questões como a falta de segurança, ares-condicionados quebrados, falta de higiene e superlotação foram repetidamente apontadas. 

Estação Bispo Dom José

A estrutura recebeu diversas reclamações dos usuários. A superlotação, especialmente nos horários de pico, é a principal delas. A estação possui dois módulos e 36 linhas de ônibus passam por ela, o que a torna a mais movimentada entre as três. 

Somado a isso, os ares-condicionados estão constantemente quebrados e, quando não estão, são insuficiente para a quantidade de pessoas no ambiente, de acordo com os entrevistados. Eles ainda produzem goteiras que atingem pessoas que esperam os ônibus e não têm condições de se afastar, ainda por conta da superlotação. 

Além disso, as luzes de ambos os módulos estão piscando, tornando-se um incômodo durante os dias e deixando o ambiente ligeiramente escuro no período da noite. 

“Essas luzes à noite ficam péssimas. Fica bastante escuro, ainda mais para mulheres que trabalham tarde da noite. Acho muito ruim”, reclamou Emily Gonçalves, que utiliza as estações Bispo e Alencastro. 

A falta de bancos também é uma limitação. “Deveria colocar mais. É muita gente e os bancos são poucos. E também deveria ter banheiro para os idosos”, destacou Débora Borges, que é idosa e sente falta de um local específico para a terceira idade.

“Quando vem o horário de pico não dá para sentar. Sempre os mais velhos são as prioridades”, alegou Emily. 

Ela afirma que sempre há problemas nas plataformas (áreas das portas de embarque e desembarque), o que gera tumulto, já que todas as pessoas se amontoam na que sobra em cada módulo.

Melhorias em relação à limpeza da estação e rampa para pessoas com deficiência são necessidades urgentes, de acordo com Jorge Pinho. Ele tem dificuldades de locomoção após um acidente vascular cerebral (AVC) e precisa de auxílio para o embarque e desembarque. Mesmo que tenha o auxílio dos funcionários da Bispo, ele pede por melhorias. 

Estação Ipiranga 

A falta de higiene foi a principal reclamação ouvida de usuários da Estação Ipiranga, que atende 12 linhas de ônibus. De acordo com os entrevistados, o local é infestado por odores de fezes e urinas de moradores de rua. 

Victor Ostetti/MidiaNews

A Estação Ipiranga, onde o forte odor incomoda os usuários

“O problema que eu vejo é falta de higiene. A questão de pessoal que transita pelo Centro aqui, de moradores de rua que fazem suas necessidades. Então fica aquele odor muito mau, muito forte. Acho que isso aí é um fator”, disse Sebastião Ramos, que usa a estação com frequência. 

Outra usuária, Jacilda Ribeiro, também percebe a falta de limpeza e ações para eliminar o odor persistente. 

“Não tem higiene, não tem limpeza, tudo cheio de teia de aranha. É desconfortável. Ali atrás mesmo: urinam ali atrás, é podre, entra tudo que fica dentro. [Eu sou] obrigada a sentir, porque não tem para onde ir, só saindo da estação”, reclamou. 

Até pouco tempo atrás, a estação funcionava com apenas uma porta, o que causava tumulto nos horários mais movimentados.

“Agora que voltou a funcionar. Passou muito tempo com ela danificada. Tinham feito uma reforma, mas essa reforma foi mais só pintura, piso, e as portas logo danificaram e ficaram um tempão sem funcionar”, explicou Sebastião. 

“Agora melhorou em termos que dividiu o povo, né? Melhorou um pouco, mas falta limpeza, banco... As pessoas não têm como sentar. De repente está cheio aqui, não tem lugar pra pessoa sentar. Pessoas de idade como eu, com 66 anos, cansadas... Eu pego o ônibus para trabalhar”, complementou Jacilda. 

Além disso, os ares-condicionados também desagradam os passageiros. “Quando foi projetado isso aqui, era para funcionar os ares. Cuiabá, no dia do calor forte, chega a 40ºC, 45°C. E isso aqui é para ter ar-condicionado. Então creio que não funciona essa parte também”, afirmou Sebastião. 

Estação Alencastro

Apesar de possuir mais bancos para os usuários e não ter reclamações em relação à limpeza, a Estação Alencastro ainda é criticada pelo calor e por momentos de insegurança, ainda que haja um batalhão da Polícia Militar próximo. 

Victor Ostetti/MidiaNews

A Estação Alencastro, que tem mais bancos, mas é quente

Assim como ocorre na Bispo, Emily Gonçalves também evita pegar ônibus na Alencastro quando precisa se locomover a partir das 21h. 

“Quando é pra eu pegar ônibus às 22h, 21h sempre vou de Uber porque não tenho como ficar ali sozinha. Fica muito abandonado. Umas luzes não funcionam e fica bem ruim. [...] Acho bem perigoso. Tem um pessoal que infelizmente é morador de rua e acaba ficando ali também. A gente não sabe, não confia, é bem perigoso para mulheres”, disse. 

Além disso, a estação também é bastante quente, e as pessoas que usam as 17 linhas de ônibus que passam no local sofrem com a falta de climatização. 

“Muito quente, é muito quente Eu prefiro até pegar um ônibus em outro lugar do que ficar na nas estações porque vira uma sauna. Deixa bastante quente, ainda mais alumínio, que absorve bastante luz. É bem ruim”, afirmou Emily. 

Procurada, a Secretaria de Mobilidade Urbana (Semob) afirmou que os aparelhos de ar condicionado passam por limpezas frequentes e a superlotação pode ser consequência de obras na cidade, o que interfere no horário dos ônibus. 

A Semob também disse que está trabalhando para a contratação de uma empresa de manutenção das estações. 

Leia a nota na íntegra:

“Em relação a estrutura das estações que servem de apoio para os usuários de transporte coletivo, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana (Semob) esclarece que:

Todos os ares condicionados passaram por limpeza há cerca de 30 dias.

Quanto à estrutura física, está trabalhando para contratação de empresa para os serviços permanentes de manutenção, tendo em vista que a administração municipal assumiu e sem que houvesse um contrato vigente para essa finalidade.

Ressalta que as estruturas sofrem ações de vandalismo e que precisam ser refeitas em curtos espaços de tempos.

Sobre a superlotação, nota-se que em virtude das obras que estão sendo executadas na cidade, acaba influenciando na chegada do ônibus no tempo programado, o que provoca uma pequena lotação em horários específicos, especialmente no final da tarde.

Por ser estação, é diferente de um terminal, e não tem banheiro. Segue o padrão das demais estações localizadas em outras cidades do país.”