ANGÉLICA CALLEJAS
DA REDAÇÃO
“Resolvi arriscar minha sorte”, escreveu Miguel Ângelo Rodrigues da Silva, de 13 anos, morador da zona rural de Cuiabá, em sua cartinha endereçada ao Papai Noel, na qual pedia uma bicicleta para ir à escola e ajudar sua família nas vendas de hortaliças.
Sei que não estou mais na faixa de ganhar presentes pelas cartinhas dos Correios, mas resolvi arriscar minha sorte pois a minha história é triste e exaustiva
“Sei que não estou mais na faixa de ganhar presentes pelas cartinhas dos Correios, mas resolvi arriscar minha sorte pois a minha história é triste e exaustiva”, contou ele, ao revelar que precisa andar por três quilômetros para pegar o ônibus escolar.
“O sol não é brincadeira. Já senti fortes dores de cabeça a ponto de sentar no caminho e alguém passar e me levar para casa. Por isso, por favor, eu preciso ganhar uma bicicleta para continuar ajudando nas despesas de casa, e uma mochila com materiais”.
Histórias como a de Miguel se repetem em centenas de cartas recebidas pelo projeto Papai Noel dos Correios, que todos os anos conecta sonhos escritos à mão à solidariedade de padrinhos dispostos a transformar o Natal de crianças em situação de vulnerabilidade.
Entre pedidos simples e cheios de significado, aparecem bicicletas, materiais escolares, patins, sandálias e brinquedos educativos. Para muitas dessas crianças, o presente representa mais do que um desejo de Natal: é uma ferramenta para estudar, brincar com dignidade ou ajudar a família.
É o caso de Agatha Sophia Duarte Santos, de 7 anos, que pediu “uma bicicleta e uma sandália 33”. Na carta, escrita com letras ainda em formação e colorida com lápis de cor, ela conta que gosta de cuidar dos irmãos mais novos e sonha em ganhar a bicicleta “neste ano”.
Já Aline Mikaelli Barbosa da Silva, de 9 anos, foi direta ao falar de um sonho que, segundo ela, os pais não têm condições de realizar. “Escolhi você para realizar meu sonho de um dia ter um lindo patins rosa”, escreveu. “Meus pais não têm condições. Certeza que vou ganhar”.
Outras cartas revelam o cuidado com a educação desde cedo. Angelo Davi Felix da Silva Caetano, de 5 anos, pediu uma mesa didática infantil e um kit de pintura. Em sua mensagem, desejou um “Feliz Natal” e desenhou o presente que espera receber.
Entre um dos relatos que mais emocionam está o de Luan Henrique Estral de Arruda, de 6 anos, que contou que é autista e que gosta de brincar com o irmão, também autista. Seu sonho é ganhar uma bicicleta, enquanto pede um carrinho de controle remoto para o irmão. “Que Jesus escolha alguém próspero para ser o realizador dos nossos sonhos”, escreveu.
Reprodução
Maria Gabriella, de 10 anos, solicitou material escolar e um par de patins, e Nathalia Gabrielly, de 8 anos, que pediu itens básicos para o dia a dia, como material escolar e um par de tênis.
As cartas, que chegam aos Correios vindas de escolas públicas e instituições sociais, revelam uma infância marcada por limitações, mas também por esperança. Cada envelope carrega não apenas um pedido, mas a expectativa de que alguém, do outro lado, esteja disposto a escutar.
Aos padrinhos, cabe escolher uma carta, preparar o presente e devolvê-lo dentro do prazo estabelecido. Para quem participa, o gesto costuma ir além da doação material: é a chance de fazer parte de uma história e devolver, ainda que por um dia, a magia do Natal a quem mais precisa.
Como apadrinhar
Criada há 36 anos, a campanha Papai Noel dos Correios nasceu da iniciativa de funcionários da empresa, sensibilizados com as cartinhas escritas por crianças cheias de sonhos. Ao longo do tempo, a ação ganhou força e se transformou em uma das maiores campanhas de solidariedade do país.
Desde 2010, além das cartas enviadas pela comunidade, alunos de escolas públicas também são convidados a escrever ao Papai Noel, incentivando o aprendizado da escrita e o desenvolvimento de habilidades cognitivas e emocionais.
A campanha depende da participação de padrinhos e madrinhas, que ajudam a transformar pedidos simples em momentos de alegria e esperança no Natal. Qualquer pessoa pode participar.
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Para apadrinhar uma criança, acesse o site dos Correios e clique em “Adotar agora”. Depois, escolha a cartinha que deseja apadrinhar,prepare o presente solicitado, embrulhe e cole a etiqueta. Em seguida, entregue o presente em um ponto de coleta dos Correios até do dia 23 de dezembro. Os locais podem ser consultados no site oficial dos Correios.
