Dezenas de moradores da comunidade terapêutica Valentes de Davi se reuniram em frente à Prefeitura de Cuiabá, na tarde desta sexta-feira (10), para manifestar contra a interdição da unidade.
Por determinação do Poder Judiciário, devido a questões sanitárias, a comunidade está proibida de receber novos membros e deve fechar as portas a partir de segunda-feira (13).
Os manifestantes protestaram com tampas de panela e cartazes nas mãos, reivindicando ajuda.
Entre um relato de vida e outro os manifestantes questionaram: “Cadê o prefeito que nunca foi no Parque Amperco para ajudar a gente da comunidade?”, disse uma das manifestantes.
“Fica prometendo as coisas e não cumpre. Vai cumprir com a sua palavra”, complementou.
Segundo a fundadora da comunidade, a pastora Fátima Correa, de 60 anos, a Prefeitura pagou pelos quatro primeiros meses de aluguel no novo endereço e havia se comprometido a seguir ajudando a entidade.
Para Fátima, seus filhos, como ela os chama, só querem o direito escolher sua moradia sem serem realocados compulsoriamente em albergues espalhados pela cidade.
“Meus filhos têm o direito de ficar onde se sentem bem. Já conhecem esses lugares, os hotéis e albergues, e falam que preferem ir para a rua”.
“Se na comunidade é insalubre, pensa lá na rua embaixo da ponte. Só queremos o apoio da Prefeitura para nos ajudar a continuar de portas abertas”, desabafou.
Fátima conta que a comunidade existe há 19 anos e é como se fosse a sua família. Com o passar do tempo ela foi crescendo e várias vezes mudando de endereço, mas o que nunca mudou foi o carinho e acolhimento entre os membros.
Localizada há três anos em uma chácara do Bairro Parque Amperco, a comunidade abriga hoje mais de 500 pessoas, entre moradores de rua, dependentes químicos e ex-presidiários. “Tudo aquilo que ninguém quer eu tenho aqui, e não me importo, não me preocupo em recebê-los”.
Ela já perdeu as contas das vezes que recebeu moradores de rua acidentados que não tinham onde ficar.
Na propriedade, cada morador tem o seu “barraquinho” de madeira, construído com as próprias mãos. “Quando chegou nos 450 barraquinhos, eu perdi a conta”, diz orgulhosa do tamanho da família.
Segundo Fátima, ela acumula uma multa milionária por recolher pessoas da rua no período da pandemia. “Eu recebi sim. Eles estavam se refugiando da rua e vindo pra cá”.
Além das multas por receber pessoas no período da pandemia, os meses de aluguel em atraso também se acumularam.
Fátima quita algumas das despesas com o dinheiro do próprio bolso, mas não tem conseguido “vencer” todas as dívidas.
Com um aluguel mensal de R$ 3,5 mil, ela já está em atraso há 8 meses. “O prefeito pagou os quatro primeiros meses, depois disso nenhum cobertor levou mais”.
“Tenho 60 anos, cuido dos meus filhos, não meço esforços. Dei a minha vida para viver a vida de morador de rua”, declarou.
Veja:
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1 Comentário(s).
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| João Moessa de Lima 10.06.22 17h47 | ||||
| Sempre temos os gestores que merecemos. | ||||
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