O Corpo de Bombeiros abriu sete novas investigações para apurar eventuais irregularidades cometidas durante o treinamento aquático que teria resultado na morte do aluno Rodrigo Claro, de 21 anos, em novembro do ano passado.
A informação é do comandante da corporação, coronel Júlio César Rodrigues.
Em entrevista coletiva nesta segunda-feira (20), ele informou que vai encaminhar para o Ministério Público Militar (MPM) o inquérito policial militar (IPM) que indicia a tenente Izadora Ledur – instrutora do curso - de maus-tratos contra Rodrigo e , não por homicídio como acusam os familiares do jovem.
O IPM, que vazou para a imprensa na última semana, ainda indicia os tenentes Marcelo Augusto Reveles Carvalho e Licínio Ramalho Tavares por crime contra o dever funcional, por não terem proporcionado as condições de segurança necessárias para o treinamento aquático.
Conforme o comandante, as novas investigações têm como base depoimentos de sete pessoas que foram ouvidas no inquérito policial e que apontam transgressão disciplinares praticadas pelos tenentes. Os três foram afastados das funções e cumprem serviços administrativos.
“Esses novos procedimentos vão apurar a conduta desses agentes que não dizem respeito àquele fato em si [morte do aluno], mas novos fatos que serão apurados. Caso sejam comprovados, podem resultar em advertência ou até prisão”, afirmou.
O inquérito
Após receber o Inquérito Policial Militar, o Ministério Público Militar vai decidir se denuncia ou não os tenentes pelos crimes.
Caso ocorra a denúncia, o procedimento será levado para análise da 11ª Vara Especializada da Justiça Militar. Se o magistrado acatar a denúncia, os tenentes passarão a ser réus.
"Quem vai acusá-los ou não oficialmente é o Ministério Público Militar. O que nós levamos para o MPM são informações com juízo em tese do que eles praticaram. O titular da ação penal é o promotor, cabe a ele acatar ou não o que está sendo encaminhado a ele. É ele quem vai dar a palavra final de qual tipo de crime foi cometido", disse.
Conforme o coronel Júlio Rodrigues, o inquérito policial militar foi conduzido com “absoluta isenção”.
Segundo ele, as provas dos autos não identificaram que a tenente Izadora Ledur foi a responsável pela morte de Rodrigo Claro.
“O laudo que foi apresentado pela Politec [Perícia Oficial de Identificação Técnica] e entregue ao encarregado do inquérito aponta hemorragia cerebral de causas naturais, portanto não há provas para ligar a conduta da agente ao resultado morte”, afirmou.
O comandante ainda lamentou a morte do aluno.
“A corporação lamenta muito a morte do aluno. Nós não trouxemos ninguém aqui para morrer durante o curso. Foi lamentável. Foi uma fatalidade. Como já disse aqui, não conseguimos imputar a questão de homicídio porque não temos elementos para isso. Tudo foi feito de uma maneira muito técnica e profissional”, afirmou.
Ele afirmou também que haverá adequações nos novos cursos de treinamento.
“Nós já tivemos várias reuniões internas para que não haja mais, em hipótese alguma, suspeitas quanto aos métodos utilizados nas instruções práticas do Corpo de Bombeiros. É preciso que a sociedade entenda que, nos cursos de formação, nós temos que dar de maneira simulada situações que eles vão encontrar em ocorrências reais. Agora nós não queremos mais que haja dúvida sobre esse procedimento”, disse.
“Em nenhum momento o comando da corporação autorizou que se praticasse esse excesso durante o curso. Aquelas pessoas que individualmente assumiram o risco de descumprimento de orientações responderão nos rigores da lei. Estamos trabalhando com Justiça. Não com vingança”, pontuou.
Reprodução
Rodrigo morreu após cinco dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Jardim Cuiabá
Relembre o caso
Rodrigo passou mal no dia 15 de novembro, após uma sessão de afogamento na Lagoa Trevisan.
Ele chegou a ser levado para o Hospital Jardim Cuiabá, na Capital, onde permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por cinco dias, mas não resistiu.
Em depoimento, colegas de curso informaram que Rodrigo vinha sendo submetido a diversos "caldos" (afogamento forçado) e que chegou a reclamar de dores de cabeça e exaustão.
Ainda assim, teria sido obrigado a continuar na aula pela tenente, que na época era responsável pelos treinamentos dos novos soldados da corporação.
A tenente foi afastada da corporação logo após a morte de Rodrigo. No entanto, segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Júlio Cézar Rodrigues, esta não é a primeira vez que ela está sendo investigada por cometer excessos nos treinamentos.
Da primeira vez, ela foi acusada - após uma denúncia anônima ao Ministério Público Estadual (MPE) - de fazer pressão psicológica em alunos durante os treinos do 15º Curso de Formação dos Bombeiros.
“Na época designamos um encarregado e foi feita uma sindicância, onde não foi apurada esta conduta por parte da tenente. Não foi constatada transgressão nem crime por parte dela. O resultado foi encaminhado novamente para o MPE e o processo, arquivado. Por isso ela não foi afastada de suas funções”, disse o comandante, em entrevista coletiva no ano passado.
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1 Comentário(s).
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joao viana 20.02.17 17h54 | ||||
Na verdade, deve-se investigar é quem designou a Tenente Ledur a realizar este tipo de missão, uma vez que a mesma deve ter cumprido o que está no boletim de serviço. Agora sabendo que não tem ambulância no corpo de bombeiro, não tem quadro de saúde no corpo de bombeiro, como um comandante sabendo disso deixa este treinamento acontecer? Pois quem faz oficio solicitando o apoio de ambulância é o Comandante, pois todos os oficios saem de qualquer corporação assinado pelo Comandante. Ou seja, por isso que qualquer sindicância administrativa está desse modo vaga, por que na verdade a tenente simplesmente irá imputar a culpa no comandante, o qual deu a ordem para ele, logo o comandante que não é besta vai designar uma comissão para inocentar a tenente, por que somente assim ele irá se auto-inocentar, e a culpa e a revolta ficará para tenente e não para ele. | ||||
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