O inquérito do Corpo de Bombeiros que apurou as circunstâncias da morte do aluno Rodrigo Claro, de 21 anos, após um treinamento aquático, sugere que a instrutora, tenente Izadora Ledur, não cometeu homicídio ou tentativa de homicídio.
O documento, contendo 11 páginas, foi finalizado no dia 02 de fevereiro e encaminhado à Corregedoria da corporação.
O relatório deveria se tornar público somente após sua homologação. Porém, nesta quarta-feira (15) o documento assinado pelo coronel Alessandro Borges Ferreira vazou para a imprensa.
Até o momento, a tenente estava sendo acusada de ter cometido excessos durante o treinamento na Lagoa Trevisan, realizado no dia 10 de novembro de 2016.
O inquérito, que afirma não haver “indícios de cometimento de homicídio ou tentativa de homicídio contra o aluno”, não isentou completamente a tenente.
Segundo o relatório, além de Ledur, os tenentes Marcelo Augusto Reveles Carvalho e Licínio Ramalho Tavares foram “negligentes” com relação à segurança do aluno.
Veja fac-símile do inquérito:
Reprodução
O documento diz, ainda, que os oficiais podem ter cometido crime militar contra Rodrigo Claro, mas não tipifica esses crimes.
Além disso, concluiu que o aluno foi liberado do treinamento apresentando sinais “visíveis” de dificuldades físicas e psicológicas, o que não poderia ter sido permitido pela corporação.
Por outro lado, o inquérito afirma que a morte de Rodrigo, segundo o laudo de necropsia, foi causada por hemorragia cerebral. E que, por esta razão, ficaria comprovado que o aluno não morreu por afogamento, uma vez que “afogado não costuma apresentar sangramento cerebral”.
“Assim, pelas provas colhidas nos exames periciais, não foi possível comprovar o nexo causal entre a conduta da tenente Izadora Ledur de Souza Dechamps na instrução do dia 10/11/2016 e o resultado morte do aluno a soldado Rodrigo Patricio Lima Claro no dia 15/11/2016 às vinte e duas horas”, cita trecho do relatório.
Relembre o caso
Rodrigo morreu no dia 15 de novembro, após supostamente passar por uma sessão de afogamento na Lagoa Trevisan.
Montagem/MidiaNews
Rodrigo morreu após cinco dias de internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Jardim Cuiabá
Ele chegou a ser levado para o Hospital Jardim Cuiabá, na Capital, onde permaneceu internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) por cinco dias.
Em depoimento, colegas de curso de Rodrigo informaram que ele vinha sendo submetido a diversos "caldos" (afogamento forçado) e que chegou a reclamar de dores de cabeça e exaustão.
Ainda assim, ele teria sido obrigado a continuar na aula pela tenente, que na época era responsável pelos treinamentos dos novos soldados da corporação.
A tenente foi afastada da corporação logo após a morte de Rodrigo. No entanto, segundo o comandante-geral do Corpo de Bombeiros, coronel Júlio Cézar Rodrigues, esta não é a primeira vez que ela está sendo investigada por cometer excessos nos treinamentos.
Da primeira vez ela foi acusada - em uma denúncia anônima ao Ministério Público Estadual (MPE) - de fazer pressão psicológica em alunos durante os treinos do 15º curso de formação dos bombeiros.
“Na época designamos um encarregado e foi feita uma sindicância, onde não foi apurada esta conduta por parte da tenente. Não foi constatada transgressão nem crime por parte dela. O resultado foi encaminhado novamente para o MPE e o processo foi arquivado. Por isso ela não foi afastada de suas funções”, disse o comandante, em entrevista coletiva no ano passado.
Se ficar comprovado que a tenente foi responsável pela morte de Rodrigo, as penas podem variar de advertência até a prisão.
Outro lado
Por meio de nota, a assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros afirmou que o inquérito militar que apura as circunstâncias do falecimento de Rodrigo ainda não foi concluído e aguarda a análise do corregedor da instituição.
Disse ainda que as conclusões deste documento servem apenas de subsídio para a Promotoria Militar oferecer ou não denúncia, uma vez que a acusação formal só pode ser feita pelo Ministério Público.
Veja a íntegra da nota:
“O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso esclarece que ainda não foi concluído o Inquérito Policial Militar (IPM) que apura as circunstâncias do falecimento do aluno Rodrigo Claro, do 16º Curso de Formação de Soldados do Corpo de Bombeiros Militar.
O inquérito está na Corregedoria da corporação, que ainda vai realizar a análise da apuração para decidir pela homologação (concordância com o relatório apresentado no inquérito) ou avocação (discordância ou apresentação de outra solução da apontada no relatório). Apenas após esse procedimento é que o inquérito vai à conclusão.
O Corpo de Bombeiros Militar ressalta que investiga os fatos reunindo indícios de autoria e materialidade. A competência de impetrar denúncia é do Ministério Público. O Corpo de Bombeiros esclarece ainda que aquilo que for apurado no Inquérito Militar serve de subsídio para a Promotoria Militar oferecer ou não denúncia”.
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9 Comentário(s).
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Pedro Paulo de Souza 16.02.17 10h32 | ||||
APENAS PARA REFLETIR: É impressionante como a maioria da população brasileira adora e exige que uma autoridade (ou pessoa rica) seja punida. Na verdade, a maioria da população nem quer saber se a pessoa tem culpa ou não, existe uma vontade incontrolável de julgar/punir. Já reparei que sempre que existe um fato envolvendo uma pessoa mais humilde e outra com mais recursos, independentemente de quem é o culpado, a população EXIGE que a pessoa que possui mais recursos seja punida. Temos que analisar os casos com mais cuidado, pois "cada caso é um caso". Não devemos e nem podemos punir por punir. Para punir tem que estar provada a responsabilidade da pessoa. Independentemente se a pessoa é rica ou pobre, negro ou branco, cristão ou ateu etc, se não foi comprovada a responsabilidade tem que absolver. Parem com essa mania de perseguição, com essa síndrome de inferioridade!!! | ||||
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Anival 16.02.17 10h28 | ||||
Se continuar assim, mais alunos morreram e tudo será esquecido como sempre...Infelizmente aconteceu, talvez ela não queria mesmo matar, mas suas investidas acabou por ocasionar o ato...como quem pega o carro depois de beber algumas, pode ser que chegue em casa bem, mas tbem pode ser que cometa um homicídio com um acidente...o que não pode é sair como inocente. | ||||
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Roberto Teixeira 16.02.17 06h47 | ||||
E se o Inquerito da Policia Civil acusar a tenente ? Quem ta com a razão? Bombeiro ou Policia ? Coronel ou Delegado ? Pobre familia.... | ||||
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ELCIO 15.02.17 21h05 | ||||
Era resultado previsível. Tem que ser julgada pela justiça comum. A justiça tem que ser uma só, e não pra fulano, sicrano etc. e tal. Superiores. fiquem de olho! | ||||
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Jota Oliveira 15.02.17 18h50 | ||||
Torcendo para os pais recorrerem em todas as instâncias!!! FORÇA!!! | ||||
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