Cuiabá, Terça-Feira, 5 de Agosto de 2025
NA PASSARELA
22.05.2019 | 14h13 Tamanho do texto A- A+

Desfile de crianças para adoção viraliza e é alvo de críticas

Evento realizado no Shopping Pantanal, na Capital, tentou incentivar a adoção

Reprodução

Cartaz do evento, que aconteceu no Shopping Pantanal, em Cuiabá

Cartaz do evento, que aconteceu no Shopping Pantanal, em Cuiabá

BRUNA BARBOSA
DA REDAÇÃO
A segunda edição do evento "Adoção na Passarela", que aconteceu nessa terça-feira (21), no Pantanal Shopping, em Cuiabá, tomou proporção nacional nesta quarta-feira (22), com diversas críticas.
 
O jornalista Paulo Henrique Amorim, o advogado cuiabano Eduardo Mahon e os políticos Manuela D'Ávila (PCdoB) e Guilheme Boulos (Psol) fizeram publicações condenando o "desfile". 
 
Crianças de quatro a 17 anos que estão aptas à adoção participaram de um desfile em uma passarela montada no centro de compras. Assistiam ao desfile tanto pais com interesse em adotar quanto consumidores do local. 
 
As postagens reprovando o evento foram publicadas em redes sociais e sites nacionais, como o Conversa Afiada, onde o jornalista Ricardo Henrique Amorim comparou o "Adoção na Passarela" à "cultura do espetáculo" que "contaminou" o País. 
 
"Seguramente, a 'ideia' deriva da SP Fashion Week, com a coreografia e o know-how da cultura do espetáculo com que a Globo contaminou o Brasil", escreveu o jornalista. 
 

Já Manuela D'Ávila (PCdoB), que se candidatou à vice-presidência no ano passado, afirmou em seu Facebook que o evento era "uma das notícias mais tristes". Na postagem, ela ainda ressaltou que as crianças que aguardam adoção têm "sonhos e desejos" e que o amor por um filho ultrapassa a beleza física. 

Crianças na passarela para pretendentes verem o quão bonitas, simpáticas e desenvoltas são, parece-me uma antiga feira de escravos, onde os senhores viam os dentes e o corpo dos africanos para negociar o lance", criticou Mahon

 

"Acho que essa é uma das notícias mais tristes que li. Crianças numa passarela, cheias de sonhos e desejos, buscando a aprovação a partir de um desfile, como se para amar um filho tivéssemos que admira-lós fisicamente", publicou Manuela. 

 

O também ex-presidenciável Guilherme Boulos (Psol) usou seu Twitter para criticar a iniciativa. Ele afirmou que o desfile era de uma "perversidade inacreditável". 

 

Boulos ainda chamou atenção para a frustração e abalos psicológicos que tal evento poderia provocar nas crianças que aguardam pela adoção. 

 

"A 'passarela da adoção', em Cuiabá, expondo crianças de 4 a 17 anos para a escolha dos pretendentes pais é de uma perversidade inacreditável. Os efeitos psicológicos da exposição, expectativa e frustração dessas crianças pode ser devastador, ainda que a intenção tenha sido outra", diz postagem do político. 

 

Em um dos comentários da publicação de Boulos, uma internauta perguntou: "Cadê o Ministério Público e o Conselho Tutelar pra proteger essas crianças?!!!". Na mesma postagem, outra mulher responde que os órgãos "estavam apoiando o evento, que estava em sua segunda edição".

 

Entre outras críticas, o advogado Eduardo Mahon comparou a iniciativa aos costumes da época da escravidão, onde "os senhores viam os dentes e o corpo dos africanos para negociar o lance".
 
O advogado ainda afirmou que esse não era o tipo de visibilidade buscada pelas crianças em adoção.
 
"Olha, gente, sem querer ser chato, mas já sendo. Antes de tudo, devo dizer que a Ampara é uma instituição muito séria. Devo, entretanto, pedir mil desculpas a quem pensa diferente e à Ampara, mas as crianças na passarela para pretendentes ver o quão bonitas, simpáticas e desenvoltas são, parece-me uma antiga feira de escravos, onde os senhores viam os dentes e o corpo dos africanos para negociar o lance. Não acho legal, aliás, acho péssimo", escreveu. 
 
"Não porque seja um desses conservadores que quer esconder, apagar, fingir que não existe rejeição social etc. já estive nessa lista, fiz visitas e sei bem que essas crianças precisam de visibilidade, exposição positiva, ressignificação de lugar e autoestima, mas não assim. Não em uma passarela, não em um shopping, não para o público aberto. Não assim! Não assim!! Não assim!!!". 

 

"Adoção na Passarela" 

 

Conforme divulgado pela Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso (OAB-MT) e a Associação de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara), responsáveis pela organização do evento, a intenção do desfile era dar "visibilidade aos jovens".

 

Os organizadores dizem ainda que têm o objetivo de proporcionar "um dia diferenciado, em que irão se produzir, fazer cabelo, maquiagem e usar roupa para o desfile". 

 

De acordo com a informação divulgada pela OAB-MT, na última edição do evento, dois adolescentes de 14 e 15 anos foram adotados. 

 

O MidiaNews tentou entrar em contato com a OAB-MT e a Ampara, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. 

 

Outro lado

 

Por meio de nota, a assessoria do Pantanal Shopping informou que repudia a objetificação de menores de idade e esclareceu que o "único intuito" do evento era promover e conscientizar sobre a adoção. 

 

Também por meio de nota, a Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) e a Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT informaram que as crianças e adolescentes não foram obrigados a participar todo evento. 

 

Ainda conforme o posicionamento, as crianças que participaram do desfile "espressão alegria" aos organizadores. De acordo com a OAB-MT, o "desfile" teve autorização judicial da varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, região metropolitana da Capital, além do Poder Juciário. 

 

Leia a nota do Shopping Pantanal na íntegra:

 

"O Pantanal Shopping informa que repudia a objetificação de crianças e adolescentes e esclarece que o único intuito em receber a ação foi contribuir com a promoção e conscientização sobre adoção e os direitos da criança e adolescente com palestras e seminários conduzidos por órgãos competentes que possuem legitimidade no assunto.

 

O shopping afirma que a ação foi promovida pela Associação Mato Grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (Ampara) em parceria com Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da OAB-MT e reitera que o evento contou ainda com o apoio do Ministério Público do Estado do Mato Grosso, Poder Judiciário do Estado do MT, Governo Estadual do MT, Secretaria de Estado de Assistência Social e Cidadania, Sindicato dos Oficiais de Justiça, Associação Nacional do Grupo de Apoio à Adoção e Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, além do Tribunal de Justiça do Mato Grosso".

 

Leia a nota da OAB-MT na íntegra: 
 

Diante da repercussão do evento “Adoção na Passarela”, realizado pela Associação Mato-grossense de Pesquisa e Apoio à Adoção (AMPARA) e pela Comissão de Infância e Juventude (CIJ) da Ordem dos Advogados do Brasil – Seccional Mato Grosso (OAB-MT), as instituições vêm a público esclarecer que:

 

- Nunca foi o objetivo do evento – parte integrante de uma série de outros que compõem a “Semana da Adoção” – apresentar as crianças e adolescentes a famílias para a concretização da adoção. A ideia da ação visa promover a convivência social e mostrar a diversidade da construção familiar por meio da adoção com a participação das famílias adotivas;

 

- Nenhuma criança ou adolescente foi obrigado a participar do evento e todos eles expressaram aos organizadores alegria com a possibilidade de participarem de um momento como esse. A ação deu a eles a oportunidade de, em um mundo que os trata como se invisíveis fossem, poderem integrar uma convivência social, diretriz do Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária. Esse evento, inclusive, ocorre pela segunda vez;

 

- Crianças e adolescentes que desfilaram o fizeram na companhia de seus “padrinhos” ou com seus pais adotivos. A realização do evento ocorreu sob absoluta autorização judicial conferida pelas varas da Infância e Juventude de Cuiabá e Várzea Grande, bem como o apoio do Poder Judiciário;

 

- A OAB-MT e a Ampara repudiam qualquer tipo de distorção do evento associando-o a períodos sombrios de nossa história e reitera que em nenhum momento houve a exposição de crianças e adolescentes;

 

- Vale destacar que o desfile foi apenas uma das ações da “Semana da Adoção”. Ao longo dos dias do evento foram realizados também palestras, seminários e recreação para as crianças;

 

- A falta de interessados na chamada “adoção tardia” faz com que seja urgente a adoção de medidas como a Semana da Adoção, que tornam público esse problema social. Conforme o Relatório de Dados Estatísticos do Cadastro Nacional de Adoção do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), 8,7 mil crianças e adolescentes aguardam por uma família;

 

- Na edição anterior do evento, realizado em 2016, dois adolescentes, cujo perfil está fora dos parâmetros de preferência da fila de interessados, foram adotados graças ao trabalho realizado, que deu visibilidade à questão. A iniciativa tem sido tão exitosa na forma como aborda o problema que outros Estados realizaram eventos semelhantes, como “Esperando por você” (ES), “Adote um Pequeno Torcedor” (PE) e “Adote um Pequeno Campeão” (MG);

 

- Por fim, a Ampara e a OAB-MT, realizadoras do evento, agradecem a disposição de todos os demais órgãos e entidades apoiadores, dentre eles o Tribunal de Justiça de Mato Grosso e o Pantanal Shopping, por entenderem a grandeza de sua finalidade e abraçarem, de forma voluntária, a causa da adoção no Estado. Também conclamam a sociedade em geral para uma discussão séria e efetiva sobre o tema para que mais estratégias possam ser adotadas em prol do direito de possibilitar o acolhimento familiar a essas crianças e esses adolescentes.

 

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Rodrigues Schneider  23.05.19 10h36
O contexto e os mecanismos da adoção no Brasil, ainda são muito precários, e envoltos em conservadorismos e tabus. Não se problematiza de fato as circunstâncias do abando, sua ambientação, e nem sua interface com os marcadores sociais. A política pública de adoção é sempre pensada à posteriore, o que limita a superficialização da questão. Por todas razões expostas, a ação do desfile (que em nada interfere ou descaracteriza o mérito histórico da AMPARA), por si só, não se justifica pelo objetivo requerido. O que houve foi uma dinamização fashionista e mercadológica do processo histórico de objetificação de corpos infanto-juvenis. Além do mais, o deslocamento socioespacial, nessas circunstancias, levando-se em consideração a realidade dispare, envoltos por uma performance teatral, em nada corrobora com a realidade desses sujeitos, se pensado em termos mais amplos. É importante que haja mecanismos e meios de acesso à essas crianças, seja coletivos ou individuais. Mas que isso seja pensado em dimensões mais concretas, e principalmente, que não seja fantasiado de expectativas, desejos e subjetividades, dos quais as mesmas não são titulares.
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Augusto Castilho  23.05.19 08h22
As críticas mostram ignorância. Toda a vez que se pensa em melhorar a alto estima das pessoas, uma das coisas realizadas são desfiles. Busquem aí quantos desfile de presidiárias já tivemos, por exemplo, ou desfile de pessoas que sofreram com o câncer (mesmo crianças) esta iniciativa foi meramente para melhorar a auto estima das crianças. Comparar com escravos é no mínimo ser irresponsável.
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Camila  22.05.19 20h21
Estou completamente PASMA com a nota divulgada pela OAB. Senhores, que não me representam embora eu seja adv, peçam desculpas e pronto. LAMENTÁVEL, totalmente LAMENTÁVEL! Desculpas bastariam! Mais uma vez a oab passando vergonha, só que agora pro mundo inteiro! Que vergonha de ser adv meu Deus!
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Ana   22.05.19 16h00
Só conversa fiada de quem não faz nada para ajudar.
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marta  22.05.19 15h26
As pessoas gostam de criticar , bate com as palavras mas nem se quer vai atras para saber o objetivo do evento. falta de conhecimento. Ve as pessoas q criticaram, se tem alguma moral pra falar .
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