thiago brianti

Onze anos após deixar Cuiabá com uma vaga ideia de fazer cursinho para prestar o curso de Direito, o ator Thiago Brianti não apenas encontrou seu caminho nas artes cênicas como se tornou um dos nomes promissores da sua geração, conquistando papéis de destaque na Globo, Netflix e produções brasileiras.
Sua trajetória, no entanto, nunca perdeu a conexão com as origens. Da descoberta fortuita no teatro à recente curadoria do evento Pantanal em Cena, Brianti carrega consigo o orgulho mato-grossense e uma missão: provar que o talento e a produção cultural do Centro-Oeste podem e devem brilhar em âmbito nacional.
“Eu quero voltar cada vez mais para o meu Estado, eu quero ter histórias daqui, quero ter filmes meus que contem as histórias cuiabanas”, afirmou, revelando um desejo que vai além da carreira individual.
Em entrevista exclusiva ao MidiaNews, o ator detalhou a trajetória que o levou de Cuiabá para São Paulo e a descoberta da paixão pela arte.
A decisão de sair de Cuiabá, inicialmente, não tinha a arte como objetivo. Brianti explica: “Na verdade, eu saí pra fazer cursinho, que eu ainda não sabia o que eu ia fazer, e fui fazer Direito. Então eu não comecei estudando teatro, mas eu tinha uma desconfiança desde criança. Sempre assisti muito filme, muito desenho, sempre fui ligado a isso, à dramaturgia nos seus diferentes formatos.”
A falta de estímulo em seu meio social em Mato Grosso foi um obstáculo inicial. “Aqui em Cuiabá, do meio social de onde eu saí, eu não tive nenhum estímulo. Não tenho artista na família, nem nada disso. Só tinha essa pulga atrás da orelha”.
A mudança para São Paulo foi crucial. “Comecei a fazer direito, e um dia deu na telha de começar a fazer teatro. Aí quando eu fiz a primeira cena, já meio que o bichinho mordeu e eu já meio que sabia que meu 'feeling' tava certo”.
O ponto de virada para a profissionalização foi um convite para uma turnê teatral. “O diretor da minha companhia me chamou para participar de uma turnê que eu teria que ficar fora de casa de quarta a domingo, praticamente toda semana durante o ano. Foram oito meses, a gente passou por cinquenta cidades brasileiras e aí eu parei com todo o resto”, disse.
Brianti abandonou o curso de Direito depois de três anos para seguir esse chamado. “Eu gostava de quando eu precisava ser ator no Direito. Eu acho que todas as outras profissões que eu tive, eu fiz um papel desse profissional”.
Teatro como base sólida
Thiago credita ao palco toda a sua formação. “Antes de ser ator, eu acredito muito que a gente é artista. Então, me deu uma formação enquanto artista muito interessante, no caso do teatro, para o ator você trabalha texto, com voz, corpo, você trabalha espacialidade”.
Ele defende a prática teatral mesmo para atores do audiovisual. “Recomendo a todos os atores a fazerem teatro, te dá uma humildade, uma noção democrática também, de ter que lidar com outras opiniões, lidar com pessoas, foi minha escola”. Contou.
Incentivo à cena local
Recentemente, Brianti foi curador e professor do evento Pantanal em Cena, em Cuiabá. “Foi maravilhoso, incrível, foi minha primeira oficina”.
O evento contou com uma curadoria de nomes fortes do Centro-Oeste. “Trouxemos a Eva Pereira, da Oficina de Produção e Direção, que é uma diretora do Tocantins. Trouxemos o Pedro Novaes, um produtor de Goiás, o Fábio Meira, que ganhou Gramado, o Érico Rassi, com a Cris Mioto, que fizeram o ‘West Outra Vez’”.
Sobre a vitória do filme cuiabano ‘Cinco Tipos de Medo’ em Gramado, dirigido por Bruno Bini, ele foi enfático: “É uma conquista histórica, mas acima de tudo uma conquista coletiva”. Afirmou.
Brianti defende mais investimentos: “Produzir cinema é sinônimo de geração de emprego, está mais do que comprovado que o que você investe em cinema, esse dinheiro é lucro para a sociedade e um Estado tão rico como o Mato Grosso, tem todo o potencial e tem o material humano para virar um polo industrial”.
Brianti defende que o momento deve ser catalisador para mais investimentos. “Acho que a gente tem que aproveitar esse momento de visibilidade, entender como a gente vai conseguir financiar mais produtos que furem a bolha". Disse.
Ele acredita na existência de uma 'síndrome do vira-lata regional'. “Você vê o Nordeste muito mais orgulhoso e muito mais protagonista, eles não perdem o sotaque. Porque tem esse orgulho. Eu vejo a gente perdendo isso, quem vai pra fora é a primeira coisa que precisa neutralizar e não consegue ver beleza nisso e tem beleza . A nossa autoestima tem que ser muito alta.”
As aventuras de José e Durval
O papel do empresário Homero na série que retrata a vida do Chitãozinho e Xororó (Globo) representou mais do que um trabalho; foi uma salvação profissional.
“Esse foi o papel que me tirou da pandemia e eu voltei a acreditar que eu podia viver de arte e retomar minha carreira de ator, depois da pandemia. Eu tinha voltado a trabalhar com política na área do direito nessa época”. Afirmou.
O processo do teste foi atípico. "Chegou esse teste e tinham vários personagens. O produtor do elenco falou assim, 'ó Thiago, tem vários personagens, eu tô te mandando esse teste mas eu acho que você pode pegar esse que é grande, que é o papel do Homero'. Eu fiz o teste, fiz no escritório desse lugar onde eu tava trabalhando e ele falou: 'cara, ficou bom pra caramba, mas o personagem toma um cigarro, um charuto e tal, quando você chegar em casa faz outro'. Eu fiz esse outro teste, e o diretor adorou, Hugo Prata, e me convidou”, contou com entusiasmo.
A conexão com as raízes sertanejas foi um diferencial. “Aqui em Cuiabá as pessoas não sabem, mas não é exatamente um sotaque interiorano do Brasil. É um outro sotaque, mas a gente tem uma facilidade porque também convive muito com esse R retroflexo, com esse sotaque do interior. Eu só dei uma carregada nele no teste mas ele falou que viu o Mato Grosso em mim ali, viu o sertanejo e que ele precisava de mim no elenco”.
DNA do Crime
Interpretar o policial corrupto Guilherme na série ‘DNA do Crime’ (Netflix) representou um novo patamar na carreira do ator.
“Chegou um teste de bandido e um de polícia, e eu tive que fazer os dois. O Heitor Dhalia, que é o diretor, gostou muito do teste e fui escolhido. Mas eu fiquei muito nervoso, porque eu sabia que ia ser incrível e grande, grandiosíssimo. Um dos maiores orçamentos da história das séries brasileiras na Netflix, acho que em primeiro lugar é 'Sena', e depois vem DNA do Crime. A gente já sabia ali na pré, nos ensaios, que ia passar em 198 países. Estou dublado em todas as línguas e tudo mais. Uma puta visibilidade. Trabalhei com heróis meus do audiovisual: Maeve Jinkings e Romulo Braga. Então dá um nervoso. Só que, ao mesmo tempo, essa é a chave da coisa. Você não pode trabalhar pensando no resultado, você tem que viver aquele micromomento de vida que é uma cena". Afirmou.
O maior desafio foi entender a motivação do personagem. “Primeiro eu não entendia porquê ele ia para o crime. E aí eu queria responder essa pergunta para mim, mas decidi não defender ele. E acabou que deu certo, ficou com mais carisma, a pessoa fica com raiva da cara dele”.
Sobre a renovação para a terceira temporada, ele comemora: "O sentimento é de gratidão e segurança, por vários motivos. Primeiro, é uma profissão onde você não sabe o dia de amanhã. Então, eu fazer três temporadas seguidas é um conforto muito grande, além desse conforto material de ter contratos mais longos, saber que você pode contar com esse projeto, de estar sempre visto de uma maneira perene. Eu fico só muito grato por confiarem no meu trabalho, de ser renovado, meu personagem não morrer, numa série policial de não matarem ele ainda”. Diz brincando.
Ele especula sobre o futuro do personagem: “Eu acho que agora ele vem mais forte, ele não está tão presente no começo da série, mas ele entra em cenas importantes. A relação com o Isaac fica mais íntima, ela dá uma escalada, eles ficam mais codependentes. A série já mudou um pouco de assalto a banco, colocou o pezinho no tráfico de drogas, tráfico internacional. Eu meti um avião em numa cena... não vou dar spoiler”.
Representatividade e inspiração
Questionado sobre a responsabilidade de representar Cuiabá nacionalmente, Brianti foi modesto. “Eu não sinto que eu seja detentor de nenhuma porta-voz. Eu sou o Thiago, e faço isso porque eu amo, volto pra cá porque eu amo”. No entanto, sente-se feliz em ser uma inspiração. “Fico feliz se eu servir de exemplo pra alguém, que seja bom, acho que é um exemplo de poder sonhar e conseguir conquistar”.
Entre suas inspirações e sonhos profissionais, citou: “Eu sou muito fã da Renata Sorrah, eu sou muito fã do Wagner Moura, na adolescência assisti tudo que o Leonardo DiCaprio fez. Quero muito trabalhar com o Érico Rassi”.
O ator indicou três filmes nacionais menos óbvios mas que em sua opinião todos deveriam assistir pelo menos uma vez na vida: “Jogo de Cena” (Eduardo Coutinho), “A Mulher de Todos” (Rogério Sganzerla) e “Falsa Loura” (Carlos Reichenbach).
Futuros Projetos
Brianti está envolvido em diversos projetos. “Eu tô fazendo um filme que é sobre uma banda famosa mas não posso contar nada ainda. Também desenvolvendo um longa como roteirista e produtor. Ganhei um PROAC (Programa de Ação Cultural) de adaptação literária. A adaptação do livro que chama ‘A Segunda Morte’, do Roberto Taddei, e logo começo a gravação da terceira temporada de DNA do Crime”. Listou próximos trabalhos.
Ele expressou o desejo de trabalhar mais em Mato Grosso. “Aqui em Cuiabá ninguém me chamou para fazer filme ainda. Eu adoraria. Estou buscando histórias nesse contexto mato-grossense”.
Para os jovens artistas de Mato Grosso, seu conselho é fundamentado na paixão e resiliência. “Primeiro eu diria, tenha certeza que você é apaixonado por isso, ame ser artista e não somente ser ator, seja apaixonado por ser artista, ame o cinema, ame o teatro, consuma muita coisa. Assista muita coisa, entenda e se junte com pessoas, tenha esse espaço onde você vai estar trocando e produzindo a sua arte. Isso é o mais importante, até mais do que onde você irá estudar.” Diz.
Ele finaliza com uma reflexão sobre a maleabilidade dos sonhos, citando indiretamente Cate Blanchett.
“Os sonhos não podem ser tão rígidos. Eles têm que abrir um pouco as possibilidades para você não se frustar sobre eles. O meu caminho foi tudo diferente do que eu imaginei, no momento diferente, o papel diferente, mas foi tudo isso que me fez querer. Tenha paciência e paixão. Acho que seriam as duas coisas importantes que eu falaria. E não deixa passar na frente da tua vida. Tua vida é mais importante do que é a arte. Se tiver muito difícil, vai trabalhar com outra coisa, mas sem deixar de sonhar, pois uma hora você irá chegar". Finalizou.
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