Cuiabá, Sábado, 27 de Dezembro de 2025
TIRO NA TESTA
27.12.2025 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

Homicídio de morador de rua por servidor chocou Cuiabá em 2025

Crime foi registrado por câmeras de segurança e teve como autor um procurador da Assembleia Legislativa

Reprodução

Corpo da vítima ficou caído no meio-fio da calçada da UFMT; em detalhe, o procurador suspeito de ter cometido o crime

Corpo da vítima ficou caído no meio-fio da calçada da UFMT; em detalhe, o procurador suspeito de ter cometido o crime

LARISSA AZEVEDO
DA REDAÇÃO

O assassinato do morador de rua Ney Müller Alves Pereira, de 42 anos, com um tiro na testa, em Cuiabá, marcou o ano de 2025 pela frieza da ação e pela posição ocupada pelo autor do crime, o então servidor Luiz Eduardo Figueiredo Rocha e Silva. Ele trabalhava na Assembleia Legislativa de Mato Grosso. 

 

Ele chega com os vidros abaixados, chama a vítima, aguarda que ela se aproxime e efetua o disparo

O caso ocorreu na noite de 9 de abril, por volta das 21h, na Avenida Edgar Vieira, no bairro Boa Esperança, perto da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). 

 

Luiz Eduardo, que ganhava um salário de R$ 44 mil antes de ser dispensado do cargo, cometeu o crime de dentro de seu carro, uma Land Rover preta.

 

Imagens de câmeras de segurança registraram toda a dinâmica do homicídio. Luiz Eduardo desacelerou ao lado da vítima, chamou Ney e, em seguida, efetuou um único disparo na testa do morador de rua, que morreu ainda no local.

 

O crime gerou forte comoção social e indignação pela forma como foi cometido: em via pública e contra uma pessoa em situação de extrema vulnerabilidade.

 

A motivação do crime foi um arranhão no carro do ex-servidor. Em seu depoimento, ele afirmou que momentos antes do homicídio jantava com a família no Posto Matrix, quando Ney teria danificado vários veículos, incluindo a Land Rover.

 

Testemunhas ainda tentaram socorrer a vítima e acionaram o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), mas a equipe apenas constatou a morte.

 

Logo após o disparo, o ex-servidor fugiu em alta velocidade pela Avenida Fernando Corrêa da Costa.

 

 

Prisão e confissão

 

Na tarde do dia seguinte, Luiz Eduardo se apresentou voluntariamente à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), onde confessou o crime. Ele foi preso em flagrante e teve a arma utilizada, uma pistola Taurus calibre 380, apreendida, assim como o veículo.

 

Em audiência de custódia, realizada no dia 11, o juiz João Bosco Soares da Silva converteu a prisão em flagrante em preventiva. 

 

O delegado Edson Pick, responsável pela investigação, afirmou não descartar que o crime tenha sido premeditado, diante da sequência de ações do procurador antes do disparo.

 

Depois de ter o carro danificado, Luiz Eduardo voltou a jantar, levou a família para casa, procurou uma guarnição da Polícia Militar e registrou a ocorrência em um posto policial. No trajeto de volta, encontrou Ney novamente na rua e efetuou o disparo.

 

“Ele chega com os vidros abaixados, chama a vítima, aguarda que ela se aproxime e efetua o disparo”, detalhou o delegado.

PJC

carro usado servidor da AL

Carro usado por Luiz Eduardo para cometer o crime

Indiciamento e júri popular

 

Luiz Eduardo foi indiciado por homicídio qualificado, com agravantes de motivo fútil, emboscada e recurso que dificultou a defesa da vítima.

 

Em agosto, a juíza Helícia Vitti Lourenço, da 12ª Vara Criminal de Cuiabá, pronunciou o ex-procurador a júri popular. A magistrada destacou a gravidade concreta da conduta e a vulnerabilidade da vítima.

 

Na decisão, ela afirmou que a tese de legítima defesa apresentada pela defesa é frágil e contraditória, conforme as provas reunidas, incluindo os vídeos do crime.

 

A Justiça manteve a prisão preventiva do réu, citando a frieza do acusado e o modo de execução.

 

Reação da família e da Assembleia

 

O irmão da vítima, David Alves, cobrou justiça e afirmou que Ney não pode ser tratado como “mais um número”. “Era uma vida. A gente não quer vingança, quer justiça”, disse.

 

Ney havia sido diagnosticado com transtorno mental ainda na infância e passou por tratamento em diversas instituições ao longo da vida.

 

Após o crime, a Assembleia Legislativa exonerou Luiz Eduardo da função gratificada de subprocurador-geral de Gestão de Pessoas, mas ele segue vinculado ao cargo efetivo até a conclusão do processo administrativo disciplinar, que pode resultar em demissão.

 

O presidente da Casa, Max Russi, afirmou que o crime não pode ser banalizado. “Uma vida foi ceifada e isso é inaceitável”, afirmou.

 

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