Infectologista diz que remédio não previne Covid e pode intoxicar

Assim como ocorreu com a hidroxicloroquina, Cuiabá tem vivenciado agora uma corrida às farmácias, desta vez em busca da Ivermectina. Para a infectologista Márcia Hueb, coordenadora da área no Hospital Júlio Muller, esta automedicação é um erro e pode levar, inclusive, à intoxicação.

“Quem está usando, está usando baseado em uma dedução, em uma ansiedade de se criar tratamentos ideias para prevenir, por medo”, afirmou a especialista.

O medicamento é utilizado como vermífugo e antiparasitário, além de combater ácaros e piolho.

A médica explicou que essa busca pela substância começou após a divulgação de dois estudos. Um deles apresentou resultados positivos da ação da Ivermectina contra o coronavírus em testes controlados em laboratório.

O segundo apontou melhora em pacientes internados em UTIs com dificuldades respiratórias que utilizaram o medicamento. Isso criou uma esperança na população de uma cura para o vírus e até mesmo uma forma de impedir o contágio, segundo a infectologista.

Apesar disso, ela alerta que ainda não foi comprovado cientificamente que a Ivermectina pode servir como prevenção ao coronavírus, como vem sendo utilizado pelos cuiabanos.

“Não é um medicamento indicado para profilaxia, não é indicado, inclusive, nos quadros leves da doença. Não existe nenhuma comprovação dentro de estudos científicos que mostra que essa seja uma opção tanto para evitar quanto para tratar alguém que tem sintomas leves da doença”, explicou Hueb.

Ela também se diz preocupada com a automedicação e com essa corrida às farmácias. Segundo a infectologista, apesar de ser um medicamento já conhecido, a Ivermectina pode causar intoxicação se tomada de maneira errada.

Apesar disso, Márcia compreende o medo das pessoas em relação a uma doença que vem matando milhões e quando não há estrutura básica para lidar com o vírus.

“Acho que é justificável que exista um medo do que vai acontecer. Então a população quer uma forma que resolva, que possa garantir que não vá desenvolver um quadro grave da doença ou infectar”, disse a especialista.

Remédio esgotado

Nesta semana, a reportagem entrou em contato com quatro grandes redes de farmácias da Capital. Apenas uma delas ainda havia a Ivermectina à venda por R$ 27 a caixa com quatro comprimidos.

A atendente ainda disse que a procura estava muito alta, com clientes comprando mais de duas caixas para tratar o coronavírus, e que ao final do dia o medicamento já deveria estar esgotado.

Já nas outras drogarias, a substância está em falta desde março, quando começou a pandemia. Com algumas sem receber dos fornecedores desde o começo do ano.