Em 2023, seis amigos se uniram para criar o Instituto Jeje de Oyá, um projeto voltado à defesa dos direitos da comunidade LGBT+. Nascido nas redes sociais, o grupo ganhou força e, meses depois, saiu do universo virtual para fundar uma casa de acolhimento e promoção de debates sociais e culturais em Cuiabá, voltada à população LGBT+ em situação de vulnerabilidade.
A iniciativa foi idealizada pelo professor de História Sávio Brito, pela assessora parlamentar Seven Mônica, pelo advogado Wanderley Silva, pelo radiologista Wylk Roberto e pelos professores Alexandre Fagundes e Victor Luiz, após se indignarem com a ausência de direitos humanos garantidos à população LGBT+ em áreas fundamentais como saúde, educação e trabalho.
A formalização do instituto ocorreu em 3 de junho de 2023. Desde então, o espaço tem promovido acolhimento a pessoas LGBT+ em situação de vulnerabilidade, além de fomentar rodas de conversa, oficinas e debates sociais com a participação de membros da comunidade, familiares, aliados e demais interessados na causa.
“A princípio, pensávamos em realizar apenas atividades nas redes sociais, um movimento virtual para chamar atenção às questões que apontávamos. Mas, ao longo do processo, percebemos que isso não seria suficiente. Fomos amadurecendo a ideia e, no fim do ano [de 2023], decidimos criar um espaço físico mesmo”, afirmou Sávio Brito, que atua como professor de História e presidente do Instituto.
A ideia do nome do Instituto nasceu graças à inspiração no colunista Jejé de Oyá, como era conhecido José Jacinto Siqueira de Arruda, LGBT negro que se dedicou à luta contra o preconceito e contribuiu para a formação cultural cuiabana entre as décadas de 50 e 80.
Localizado no bairro Cidade Verde, o Instituto Jejé de Oyá atualmente acolhe seis pessoas em situação de vulnerabilidade. Todas integrantes da comunidade LGBT+. Entre os acolhidos está Ariela Máximo, uma mulher trans natural de Porto Velho (RO), que vive no instituto há cerca de um mês.
Apesar do pouco tempo no local, Ariela conta que o acolhimento tem sido essencial para sua permanência em Cuiabá.
“Conheci Cuiabá há dois anos. Cheguei através de Várzea Grande, que tem uma grande população LGBT+. Depois atravessei a ponte e vim pra Cuiabá. Morei aqui por um ano, saí e depois resolvi voltar, porque gostei da cidade. Faz um mês que estou aqui de novo [no Instituto]”, afirmou.
MidiaNews
Arte de Jeje de Oyá presente no Instituto
Ariela conheceu o projeto por meio de um amigo que já havia sido acolhido. De forma voluntária, ela colabora com a organização e manutenção do espaço, que ainda está em processo de estruturação.
“Eu vim pra casa e estou aqui ajudando o projeto como posso. Trabalho com construção, eletricidade, essas coisas. Esse é meu serviço, e estou colaborando no que consigo. Acho que o projeto tem crescido bastante, com toda essa empolgação deles [os fundadores]”, declarou.
Cedido pela Seplag (Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Mato Grosso), após uma parceria firmada em agosto de 2024, o prédio onde o Instituto está sediado não é novo - já funcionou como cooperativa e creche. Desde então, os integrantes se reúnem para limpar, organizar e reformar os cômodos, adaptando-os para atender as demandas do projeto.
“Esse prédio estava totalmente abandonado. Para entrar, a gente teve que tirar muito lixo — tinha coisa até a altura da parede. De móveis velhos a livros, carteiras... tudo que você imaginar de coisa velha estava aqui dentro, e no prédio ao lado também. Fomos limpando aos poucos, por dentro e por fora. O prédio ainda não está totalmente estruturado, mas já estamos funcionando. Cada apoio que recebemos é investido aqui. Não tinha iluminação, não tinha água — fomos instalando tudo aos poucos, pra não deixar o projeto parado”, explicou Sávio.
Acolhimento
Além do acolhimento imediato a jovens e adultos, o projeto também visa qualificar os membros para o mercado de trabalho, fornecer atendimento médico e contribuir para a melhoria da saúde física e mental dos acolhidos.
“Para além do abrigo, queremos que elas tenham acesso a acompanhamento médico, psicológico, qualificação profissional e encaminhamento para inserção no mercado de trabalho. A ideia é que, além de cuidarem de si, possam conquistar sua autonomia, se manter e se virar na vida. Que possam ter sua própria casa, seu espaço de sobrevivência com dignidade”, afirmou Sávio Brito.
Para alcançar esse objetivo, o instituto conta com o apoio de profissionais voluntários.
“Nós contamos com dois psicólogos voluntários e dois médicos voluntários, que já realizam atendimentos aqui com o grupo. Também temos uma voluntária da área de estética, tudo de forma gratuita. Agora vamos iniciar aulas de dança e oficinas”, completou.
Cafés e conversas
Além da atuação nas áreas da saúde, do mercado de trabalho e do bem-estar, o Instituto Jeje de Oyá realiza, mensalmente, debates com membros e simpatizantes da comunidade LGBT+ de diferentes idades, com o objetivo de identificar demandas e promover discussões relevantes.
A edição mais recente, realizada dentro do projeto Chá com Bolo Jeje de Oyá 50+, surgiu a partir de uma pergunta provocadora: como a comunidade LGBT+ envelhece?
A partir dessa dúvida, foi reunido um grupo para debater o tema, compartilhar relatos de vida e levantar ideias e questionamentos que já definiram a pauta do próximo encontro: como cuidar da saúde sendo LGBT+ com 50 anos ou mais?
“Nesse encontro, surgiu muito a questão de pensarmos sobre o cuidado com o nosso corpo, a importância da reflexão por meio da dança e da escuta sensível. Tivemos contação de histórias que nos levou de volta à infância — nos reconectou com memórias e também com realidades difíceis. Por mais que, durante a infância, adolescência, juventude e até o envelhecimento, muitos de nós enfrentemos rejeição da família, é comum perceber que, no fim das contas, quem cuida da mãe ou do pai doente é justamente o filho LGBT”, contou Sávio Brito.
“Essa reflexão foi muito presente no nosso encontro. A ideia de que é preciso começar a cuidar agora, ainda enquanto podemos — mesmo aos 50+, aos 40, aos 30 anos. Cuidar da mente, do corpo, da saúde, para envelhecer com dignidade e autonomia, sem depender de ninguém. É o autocuidado desde já”, completou.
Além dos encontros voltados ao público 50+, o Instituto também promove rodas de conversa com jovens LGBT+. No último encontro, foi destacada a importância do Jeje para a comunidade por meio da expressão artística.
Reprodução/ Redes sociais
Debate com jovens promovido pelo Instituto
O grupo também realiza encontros com familiares de pessoas LGBT+, criando pontes de diálogo, escuta e acolhimento, tanto para quem busca compreender quanto para quem deseja apoiar a causa.
Apesar da estrutura estabelecida, o Instituto busca por doações e parcerias capazes de viabilizar novos projetos e demandas.
Considerando sua formação como ONG, eles ressaltam a importância da iniciativa, que embarca 8 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) impostos pela Organização Mundial da Saúde, sendo eles: erradicar a pobreza, promover saúde e bem-estar, educação de qualidade, igualdade de gênero, trabalho decente e crescimento econômico, reduzir desigualdades, promover paz e justiça, bem como promover parcerias de impacto.
Para ajudar o Instituto entre em contato: (65) 99362-6798
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