O mega-assalto frustrado à transportadora de valores Brink's, ocorrido em abril no interior de Mato Grosso, entrou para a história se tornando uma das maiores caçadas do País.
Ao todo, foram 38 dias de buscas atrás dos criminosos, que resultaram em 18 mortes e cinco prisões.
A operação, batizada de “Pentágono”, contou com mais de 350 policiais civis e militares de Mato Grosso, Tocantins, Pará, Minas Gerais e Goiás.
Além do efetivo militar, a tecnologia de ponta auxiliou nas buscas, como binóculos com visão noturna e drones com câmeras termais, além de helicópteros e outros recursos.
A maioria dos membros que integraram a quadrilha estava ligada ao crime organizado de São Paulo.
Caos na terra
Na tarde do dia 9 de abril, em um domingo, a quadrilha, com cerca de 15 membros armados com fuzis, invadiu a cidade de Confresa para roubar a transportadora de valores Brink's.
Durante a ação, eles causaram um caos na cidade, entrando na base da PM e ateando fogo em veículos. Na saída, ainda tocaram o terror na população, fechando estradas, roubando e incendiando mais veículos.
Apesar do grande material explosivo, sendo que alguns deles foram detonados dentro da Brink's, os criminosos não conseguiram levar o dinheiro algum e fugiram para o Pará e Tocantins.
Segundo o delegado de Confresa, Higo Rafael, mais de 10 pessoas foram sequestradas e obrigadas a trabalhar para o bando durante o ataque.
Reprodução
Veículo localizado durante busca ao bando
“Para fazer trabalho braçal, para carregar cilindro, para carregar dinheiro, dinheiro pesa”, afirmou o delegado. “Eles precisaram de mão de obra e foi a mais imediata que tiveram, até porque estavam com armas, e carregar dinheiro e as demais coisas com armas fica difícil”, completou.
O bando deixou para trás 12 explosivos não detonados e, segundo o comandante do Bope, o tenente-coronel Frederico Correa Lima Lopes, o material foi desativado na manhã seguinte ao ataque.
“Detonaram muitos explosivos, mas não conseguiram violar os cofres. As únicas coisas que eles conseguiram ter acesso foram aos caixas”, afirmou.
De mãos abanando
Um balanço feito Polícia Civil concluiu que o grupo criminoso investiu mais de R$ 3,4 milhões no plano que levou dois anos para ser arquitetado. O grupo estimava faturar com o mega-assalto em torno de R$ 40 milhões, mas saíram sem levar nenhum centavo.
Um dos membros da quadrilha que foi preso pela Polícia, Paulo Sérgio Alberto de Lima, de 48 anos, falou durante seu depoimento sobre a estimativa. Ele disse ter sido contratado somente para arrombar o cofre.
“Uns R$ 30, 40 [milhões]. É… transportadora trabalha com isso, né?”, disse Paulo Sérgio.
O prisioneiro revelou ainda que o roubo só foi frustrado devido a um mecanismo de segurança contido no interior do cofre da empresa.
Logo que o cofre foi arrombado, uma densa fumaça, “tipo enxofre”, foi liberada pelo sistema de segurança impedindo a permanência no local. Como o tempo era cronometrado, eles desistiram de levar o dinheiro.
“[O grupo] conseguiu [acessar o cofre], mas não tinha como pegar nada, não foi tirado um centavo de lá da transportadora. Nada, nada, nada, devido à fumaça, devido a essa ação da fumaça”, disse ele.
“É tipo enxofre, você não consegue ficar perto dela, não tem jeito. Entrou mais gente [no cofre], mas ninguém conseguiu ficar perto. Aí tinha que sair. Aí desistiram, tinha que ir embora. Fazer o quê? Não conseguia pegar”, completou o prisioneiro.
Segundo o delegado titular da Gerência de Combate ao Crime Organizado, Gustavo Belão, três financiadores já foram identificados.
Enfrentamento
O governador Mauro Mendes (União) afirmou durante as buscas pelos criminosos que eles levariam “chumbo” caso trocassem tiros com as Forças de Segurança de Mato Grosso e dos demais estados envolvidos. E foi exatamente o que aconteceu.
“Ou eles se rendem para serem presos, porque se trocarem tiros, vão levar chumbo”, afirmou. O governador classificou o crime como “terrorismo” e afirmou que os criminosos tentam afrontar o Estado.
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Alexander Mendes, afirmou que os integrantes do bando, à época que ainda eram caçados, já haviam sido identificados e seriam pegos “mortos ou vivos”.
“Posso garantir que tem mais participação de bandidos de São Paulo de uma facção criminosa que atua naquele Estado. Pará nós não é surpresa [...]. O mais importante é que eles já foram identificados e iremos sim capturá-los vivos ou mortos”, disse o comandante.
Arsenal e domínio de cidades
A caçada foi intensa e contou com a ajuda dos moradores para capturar em tempo recorde os criminosos. Segundo o comandante do Bope em Mato Grosso, tenente-coronel Frederico Correa Lima Lopes, a ajuda foi fundamental.
“E o principal fator foi a participação da comunidade local, que contribuiu muito com as nossas buscas, indicando os possíveis locais de esconderijo. Os criminosos andam, mas não passam despercebidos nessas comunidades”, afirmou.
“Desde o início, quando eles embarcaram próximo às aldeias, os indígenas começaram a nos passar informações, assim como comunidades por onde eles passaram. Ligavam dizendo: ‘O cachorro latiu diferente’, ‘roubaram uma roupa minha’, ‘pegaram comida na minha casa’, ou ‘eu vi pessoas estranhas passando’”, completou.
Conforme Frederico Correa, o grupo de criminosos que aterrorizou Confresa em abril não pode mais ser chamado de Novo Cangaço. Os bandidos, segundo o militar, elevaram o nível de "profissionalismo" e estiveram em maior número, mais bem armados e mais violentos.
Uma outra característica dessa modalidade de crime, que o oficial chama de "domínio de cidades", é o consórcio de bandidos, “recrutados” para integrar os grupos por meio de uma “contratação temporária”.
Durante a caçada foram apreendidas granadas, fuzis calibre 50 com alto poder de destruição, milhares de munições e materiais explosivos. O armamento seria capaz de abater helicópteros.
Mudou rotinha
Os criminosos fugiram em sua maioria para o Tocantins causando pânico por onde passavam.
Duas escolas municipais e uma creche de Araguacema (TO) tiveram as aulas suspensas após orientação das forças de segurança.
"A Prefeitura de Araguacema, juntamente com a Secretaria de Educação, seguindo orientações da polícia, decidiram suspender por motivos de segurança as aulas na Escola Municipal Agrícola, Escola Municipal José Wilson Leite e Creche Tia Ernestina, até que se estabeleça ambiente seguro, e tão logo finalize com sucesso a ação policial nas imediações da beira do rio", informou a Prefeitura em nota.
Outro Município que também paralisou as atividades foi Marianópolis, que suspendeu atendimentos médicos e o transporte de moradores da zona rural.
Mandados de prisão
Foram cumpridos 35 mandados de buscas e apreensões contra alvos investigados por envolvimento no roubo. Entre os investigados estão responsáveis pelo planejamento, apoio financeiro e logístico ao roubo.
Os mandados de buscas e apreensões, foram expedidos pela 7ª Vara Criminal de Cuiabá.
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