Cuiabá, Domingo, 15 de Junho de 2025
LAGOA (DES) ENCANTADA
03.03.2013 | 16h00 Tamanho do texto A- A+

Moradores do CPA reclamam de abandono e descaso

Investimento de R$ 2 milhões está tomado pelo lixo e com a estrutura precária

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa encantada: imagem do descaso, após investimento milionário

Lagoa encantada: imagem do descaso, após investimento milionário

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
Quando foi construída e inaugurada pela Prefeitura de Cuiabá - na gestão de Wilson Santos (PSDB) -, em 30 de setembro de 2009, a Lagoa Encantada, no bairro CPA 3, tinha como objetivo ser um local voltado para pesquisa e ensino, além de aberto à população para visitas, mostras, exposições, lazer e atividades físicas.

Quase três anos e meio depois, o local se encontra tomado por lixo e matagal, além de ter todas as suas estruturas depredadas e ser pouco usado pela população, devido à falta de segurança.

Segundo os moradores, como se não bastasse o mau cheiro que toma conta da região, há ainda o risco da proliferação do mosquito transmissor da dengue, uma vez que o local não passa por limpeza adequada.

"Um lugar que deveria ser usado pela população para atividades físicas virou esconderijo de mosquito da dengue e de marginais"

Morador da região do CPA, Gilciney Mendes Gomes diz que o local se encontra completamente abandonado e serve de esconderijo para delinquentes, colocando em risco a segurança da comunidade.

“Um lugar que deveria ser usado pela população para atividades físicas virou esconderijo de mosquito da dengue e de marginais”, lamentou.

A reportagem do MidiaNews constatou a degradação do local. O mirante, por exemplo, que foi construído em uma área de 278 m² e com seis metros de altura, está com sua estrutura quebrada e pichada.

Do local, é possível enxergar todo o sistema de tratamento de esgoto (as três lagoas de estabilização) e a rede hidrográfica da bacia do Córrego do Caju, além de parte da cidade de Cuiabá.

Porém, subir no mirante hoje é colocar a vida em risco. As grades de proteção estão destruídas e as madeiras estão soltas, na área de contemplação.

Além disso, as salas de vidro construídas na mesma estrutura do mirante – e que, na época da inauguraçãom foram anunciadas como locais para exposições fotográficas – estão com as paredes e portas quebradas, sucateadas e tomadas pelo lixo e pelos cacos de vidro.

A porta do banheiro não possui mais tranca e, dentro, há bastante sujeira. Até mesmo para acessar o mirante não há mais trilha, uma vez que o caminho já está tomado pelo mato alto.

Arquivo - UFMT

Dia da inauguração do espaço físico teve festa e atrações para a população

Trabalho perdido


Mas nem sempre o local esteve assim. Desde a sua inauguração até o início de 2012, a Lagoa Encantada serviu aos interesses da comunidade, segundo o engenheiro sanitarista da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), João Batista.

No local funciona a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) do CPA III, que era objeto de estudo dos graduandos e mestrandos da faculdade de engenharia da UFMT, até o ano passado.

“Até meados de abril de 2012, a UFMT operou o sistema da Lagoa Encantada. Mas, a nossa parceria era com a Sanecap (Companhia de Saneamento da Capital). Depois que a CAB Ambiental assumiu os serviços, as portas foram fechadas e ficamos proibidos de dar continuidade ao projeto. O trabalho ficou comprometido e, hoje, aquilo lá está abandonado”, afirmou.

Batista é autor do projeto-piloto que deu origem à revitalização e reurbanização da lagoa, em 2006.

Em 2008, o projeto ganhou continuidade com o nome de Centro de Referência de Reuso da Água (CRRA), com apoio financeiro do “Programa Petrobras Ambiental”.

Os recursos injetados no projeto do CRRA somavam pouco mais R$ 2,8 milhões, sendo R$ 1,99 milhão da Petrobras, com a contrapartida de R$ 695,8 mil da UFMT e R$ 208,9 mil da Sanecap.

O novo projeto previa medidas de otimização do sistema, reutilização do efluente final em fertirrigação, piscicultura e ações de educação ambiental junto à comunidade.

Segundo o engenheiro, isso possibilitou um envolvimento maior da comunidade, que passou a contar com opções de cursos e palestras sobre o meio ambiente e várias atividades ao ar livre.

Batista lamenta, porém, que os benefícios não se mantiveram por muito tempo. Além de terem dois tanques de piscicultura roubados – e sem pistas de quem possa ter levado, segundo o engenheiro –, o acesso negado ao sistema durante o ano passado fez com que a UFMT perdesse a parceria fechada com a Petrobras.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Retrato do espaço físico do mirante da Lagoa Encantada hoje: vandalismo

“E ela não será renovada, pois os resultados ficaram comprometidos”, explicou Batista.

Ele conta que os alunos da UFMT eram responsáveis pelo monitoramento do sistema de tratamento de esgoto. O local funcionava como um “laboratório-escola”, mas tudo foi perdido após a concessão da Sanecap pela Prefeitura de Cuiabá, durante a gestão de Chico Galindo (PTB).

Com isso, muitos alunos que tinham seus mestrados baseados nos resultados obtidos pela Lagoa Encantada, tiveram que abandonar o projeto para concluírem seus estudos.

“Eu mesmo perdi quatro alunos por conta disso. Foi uma perda muito grande não só para o ensino da UFMT, mas para a comunidade. Devia ser responsabilidade do poder público zelar pela lagoa. Foi uma conquista social que foi perdida por irresponsabilidade política”, disse.

O local continua aberto à visitação e uso da comunidade e, segundo o engenheiro, a universidade continuou tendo “passe-livre” ao laboratório montado no local, mas sem acesso à lagoa, que até então era o objeto principal de estudo.

“De que adianta ter acesso ao laboratório e às obras físicas se não podemos monitorar e estudar o sistema de tratamento?”, questionou.

Nova parceria


A UFMT já se reuniu com o prefeito Mauro Mendes (PSB), neste mês, para apresentar o projeto que era desenvolvido no local e tentar garantir uma nova parceria, para retomar os serviços no local.

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Mirante: subir no local de contemplação hoje é arriscado

“Tudo o que queremos é o suporte. Faz o convênio novamente e deixa a universidade assumir. Porque a nossa ideia é usar os resultados positivos que obtivermos lá e passar a aplicar nas outras estações. Quantas lagoas e estações de tratamento nós temos aqui? Quanto de riqueza não poderiam gerar para a sociedade e para a própria CAB Ambiental? Sem contar que ia gerar um ‘know-how’ para a empresa em controle de qualidade. Porque do jeito que está sendo feito lá, está afetando o Córrego do Caju. Depois, vai afetar o Gumitá, Três Barras, Coxipó e acaba no Rio Cuiabá. Tudo isso sem controle”, disse o engenheiro.

Ao MidiaNews, Mendes afirmou que a negativa da CAB em fechar uma nova parceria para retomar os trabalhos que eram desenvolvidos na Lagoa Encantada se trata de mais uma das “armadilhas da concessão”.

“Aquilo ali era de responsabilidade de um convênio entre a Sanecap e a UFMT. A CAB está dizendo que não tem interesse em tocar aquilo ali. São algumas das armadilhas e meandros dessa concessão que vão ser devidamente equalizados. O que eu posso garantir é que eu não vou me furtar das responsabilidades do poder condescendente. A CAB está pensando que vai ter moleza, mas não vai”, disse.

Mendes garantiu que irá visitar o local nesta semana, a fim de verificar a situação atual e conferir o que é de responsabilidade da concessionária e da Prefeitura de Cuiabá.

“Vou ver de quem é a responsabilidade al. Se a CAB tiver que assumir, vou exigir que ela assuma. Se eu não tiver amparo legal para exigir isso dela, não vou fazer barulho, vou assumir e cumprir minhas responsabilidades enquanto poder público. Mas o local não vai ficar abandonado. Isso eu posso garantir”, afirmou.

Lagoa Encantada


Ao todo, o espaço físico da Lagoa Encantada soma aproximadamente 37 hectares, sendo quase 15 ha tomados apenas pela lagoa em si. No local, foi construído um auditório de 90,28 m², com capacidade para 65 pessoas, que se encontra trancado para o público, e o mirante, que ocupa uma área de 278 m².

Thiago Bergamasco/MidiaNews

"Só queremos o suporte", diz o autor do projeto piloto de revitalização, João Batista

Além disso, foi erguida uma área para exposição de uma grande maquete da cidade – que foi destruída por vândalos dias depois da inauguração –, pista de caminhada (escondida pelo mato), praça de ginástica (com equipamentos já danificados) e um viveiro com várias espécies de vegetação.

“Houve uma grande festa de inauguração, com orquestra tocando, atendimento de saúde à população, cursos. Mas no outro dia não tinha ninguém lá. Nem mesmo para promover a limpeza do local. A maquete, inclusive, já estava no chão, toda pisoteada”, afirmou Batista.

A revitalização da Lagoa Encantada incluiu também a construção de sala de reuso e da estação de tratamento de esgoto. O custo total das obras foi de R$ 2,1 milhões, sendo R$ 2 milhões oriundos do Ministério do Turismo e R$ 100 mil como contrapartida da Prefeitura de Cuiabá.

Manutenção


Por meio da assessoria, a CAB Cuiabá afirmou que a limpeza da grade de retenção de resíduos é feita diariamente e que a caixa de areia é limpa quando há necessidade.

Segundo a concessionária, não há registro de problemas de funcionamento da ETE que poderiam resultar em mau cheiro no local e que nenhuma ocorrência do tipo foi constatada pelas equipes técnicas da empresa.

A CAB alega ainda que as lagoas de tratamento não são ambientes adequados para a proliferação do mosquito da dengue porque o esgoto é composto por matéria orgânica e está em constante movimento, devido à ação do fluxo que entra e sai e à ação dos ventos sobre a superfície do líquido.

Quanto ao lixo jogado no local, a CAB disse ser responsável apenas pela manutenção e operação da estação de tratamento, e que o lixo é depositado irregularmente por moradores, não tendo a empresa obrigação de fiscalizar e remover os entulhos.

A ETE CPA é responsável pelo recebimento e tratamento de esgoto de quatro bairros: CPA III e IV, parte do CPA II e Novo Mato Grosso, o que equivale à uma população de aproximadamente 30 mil pessoas, segundo dados da CAB Cuiabá.

A estação é composta por três lagoas de tratamento, sendo uma denominada lagoa facultativa e duas lagoas de maturação, nas quais ocorre todo o processo de tratamento.

O tratamento realizado é feito pela decomposição de matéria orgânica presente no esgoto com a utilização de bactérias e algas, que transformam compostos orgânicos complexos em compostos mais simples.

Confira na galeria como era o espaço da Lagoa Encantada e como está o local atualmente (fotos: Arquivo da UFMT/Thiago Bergamasco/MidiaNews):

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).

GALERIA DE FOTOS
Arquivo - UFMT

Tanque de piscicultura 2

Arquivo - UFMT

Tanques de piscicultura 1

Arquivo - UFMT

Lagoa Encantada - Mirante - inauguração

Arquivo - UFMT

Lagoa Encantada - Dia da inauguração

Arquivo - UFMT

Lagoa Encantada - captação de água da chuva - antes 2

Arquivo - UFMT

Lagoa Encantada - captação de água da chuva - antes 1

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - Fachada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - placas de inauguração

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - captação de água da chuva

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - Mirante 3

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - Mirante 2

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - banheiro

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - lixo

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada - Mirante

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada

Thiago Bergamasco/MidiaNews

Lagoa Encantada




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
4 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

ZECA  04.03.13 13h41
Segundo a concessionária, não há registro de problemas de funcionamento da ETE que poderiam resultar em mau cheiro no local e que nenhuma ocorrência do tipo foi constatada pelas equipes técnicas da empresa.(Parte da máteria)Brincadeira, pelo jeito somos palhaços mesmo. Até quando vamos viver nessa politicagem corrupta que sempre vai acabar nisso: ABANDONO, INSEGURANÇA, DISPERDICIO DO DINHEIRO PUBLICO, FALTA DE SAÚDE.ATÉ QUANDO...
0
1
José Bonifácio  04.03.13 11h08
Apesar do descaso dos administradores do estado e município, a população usuária também tem a responsabilidade de zelar pelo que é público. Infelizmente só sabem usufruir e depois abandonar o espaço. Será por que noutras cidades principalmente de outros estados, espaços populares existem ha mais de 60 anos e são devidamente preservados? Não está na hora dos cuiabanos e mato-grossenses pensarem nisso?
1
0
margarete rosa  03.03.13 22h18
um lugar onde podia ser bom pra a populaçao,mas a pista de caminhada,estreita q mal da de passar 2 pessoas, lugar cheio de mato,tomando conta das pistas,tem até jacaré na lagoa,e por ela passa, crianças e velhos,lugar muito bom pra fazer caminhada, pois eu faço caminhada lá,mas nao apropiado,pois esta cheio de matos e buracos,vamos ver se o prefeito dar uma passada pra ver, oq wilson santos fez para o cpa 3...agradeço por poder fazer esse comentarios..obrigada
5
1
Eduardo Moki  03.03.13 20h17
MORADORES DO CPA RECLAMAM DE ABANDONO E DESCASO, quando na verdade são os próprios que promoveram ou deixaram de zelar pelo bem público. A população deveria deixar de ser hipócrita e pelo menos ajudar a cuidar do que é "seu". Não tirando a responsabilidade da gestão publica, mas todos devemos ajudar, isso é cidadania!!
11
6