O filho do pioneiro João Antônio Pinto, de 87 anos, José Antônio Ribeiro Pinto afirmou que a morte do pai foi uma “tragédia anunciada”, mas que jamais imaginou que um policial civil seria autor do assassinato.
O idoso foi morto no dia 23 de fevereiro pelo policial civil Jeovanio Vidal Griebel, em sua propriedade, alvo de invasão de posseiros na região do Contorno Leste, no Bairro Jardim Imperial, em Cuiabá.
Segundo a defesa da família, o policial é cunhado de um suposto posseiro, identificado como Elmar Soares Inácio, que invadiu parte da área da família. A propriedade começou a ser invadida em janeiro de 2023.
“O sentimento é de revolta”, disse , filho mais novo de João Pinto.
“A gente só espera que a verdade apareça, sem interferência de ninguém, e que as autoridades façam bom uso dessa verdade”, disse.
“Segundo nossa advogada, eles praticamente confessaram, e entendo que diante do que está exposto, diante da verdade, não será possível que não haja punição”, afirmou.
“A gente até espera a morosidade estatal, mas eu jamais esperaria o Estado trucidar meu pai, porque foram agentes do Estado, que cometeram aquela covardia com meu pai. O sentimento é de revolta”, disse.
Segundo Gysela Maria Ribeiro Pinto, também filha de João Pinto, o poder aquisitivo desses invasores impressiona.
“Só andam de carrão, com maquinário pesado e novo, principalmente quando começaram a fazer os poços artesianos”, disse.
Aniversário da esposa
João Antônio foi morto no dia do aniversário da esposa, que completou 89 anos. Ele saiu para buscar o almoço e comprar um bolo para festejar a data, antes disso daria uma rápida passada em sua propriedade, mas nunca mais voltou.
Gysela conta que a família ainda se recupera da perda do patriarca. “Minha mãe está começando a tocar no assunto agora, um mês depois. Ela não recebia nem visitas, só a gente. Eu estou dormindo junto com ela na cama, no lugar do meu pai”, disse.
“Estamos enfrentando, mas não sei até quando. Eu tô assim, dopada de remédio. Meus irmãos todos em crise, tendo que mexer com um monte de coisa”.
Boletim de ocorrência
A família realizou diversas denúncias ao longo do último ano, desde o primeiro dia das invasões, que aconteceu em 28 de janeiro de 2023. No primeiro boletim de ocorrência, registrado nesse mesmo dia por um dos filhos de João Antônio, ele relata a invasão.
“Estão invadindo a sua propriedade, tem algumas pessoas armadas e usando tornozeleiras eletrônicas. Um trator está devastando a área e estão colocando estacas”, diz trecho.
No dia seguinte, José Antônio registrou outro boletim de ocorrência após quase ter sido morto pelos invasores. Ele foi até a propriedade para limpar a área após o início de construções dos grileiros.
Quando José Antônio estava operando a máquina carregadeira, segundo o B.O., cerca de 40 invasores chegaram ao local soltando fogos, o agrediram e o ameaçaram de morte.
“Um dos indivíduos pegou a vítima pelas costas e aplicou golpe denominado mata leão - estrangulamento na tentativa de desacordar a vítima”, diz trecho do documento. A Polícia Militar teria chegado nesse exato momento, após ser acionada por um caseiro.
Enquanto José Antônio era agredido, conforme o B.O., os invasores furtaram as chaves da máquina que ele operava, abriram o tanque e jogaram areia e cascalho, além de furar o radiador.
Ainda no dia 29 de janeiro a família contratou uma empresa de segurança. Até mesmo eles já chegaram a ser apedrejados e ameaçados pelos invasores.
Ao longo do ano, além das denúncias feitas para a Polícia, a família denunciou o caso na Secretaria de Meio Ambiente e até na Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), após os posseiros ameaçarem destruir o hangar devidamente registrado de seu João.
Ameaças constantes
Segundo Gysela, as ameaças de morte eram constantes e a última delas ao invés de amedrontala, lhe gerou revolta.
“Eu recebia várias ligações de números de fora do País, a primeira foi de Londres. Eles falavam: ‘Vocês não tem saída, porque tem gente grande envolvida, vocês vão perder”.
“É nojento! No dia que meu pai morreu eu estava no Canadá, quando estava embarcando recebi uma mensagem das Filipinas que dizia: ‘Você já não está cansada de perder as coisas?’ Fiquei com raiva, revoltadíssima!”, disse.
A família conta que decidiu falar antes da conclusão das perícias, após descobrir que somente ao final do inquérito que investiga a morte do pai, a Corregedoria da Polícia Civil adotará as medidas disciplinares cabíveis contra o policial Jeovanio Vidal.
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2 Comentário(s).
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Carlos 21.03.24 09h59 | ||||
Quando ele fala em Estado, ele está envolvendo pessoas honestas e cumpridora dos seus deveres, um ato de um mal policia não pode ser atribuido a todos os policiais. | ||||
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Marlon 20.03.24 21h38 | ||||
É revoltante. A perda do cargo de policial é medida necessária no caso de ser condenado pelo crime de homicídio. E até mesmo pelo esbulho possessório. | ||||
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