Cuiabá, Terça-Feira, 25 de Novembro de 2025
DIA DO COMBATE À VIOLÊNCIA; VÍDEO
25.11.2025 | 17h35 Tamanho do texto A- A+

Mulheres citam medo e pedem leis duras: “Está fora de controle”

No Dia Internacional de Combate à Violência, mulheres relatam sensação de abandono e cobram Justiça

Reprodução

A manicure Sonia Sene, a pedagoga Tânia Anunciação, e a auxiliar de limpeza Yasmin Silva

A manicure Sonia Sene, a pedagoga Tânia Anunciação, e a auxiliar de limpeza Yasmin Silva

PIETRA NÓBREGA
DA REDAÇÃO

Um rastro de sangue foi a primeira imagem que a Polícia Militar encontrou na casa da fonoaudióloga Ana Paula Abreu Carneiro de Oliveira a morta a facadas no dia 24 de agosto deste ano em Sinop. Lucas França, marido dela, foi preso em flagrante pelo crime.

 

As mulheres estão sendo assassinadas pela condição de gênero. É um risco para as mulheres estarem morando em Mato Grosso

Ana Paula é uma das 51 vítimas de feminicidios em Mato Grosso em 2025. O estado lidera, pelo segundo ano seguido, o ranking nacional desse tipo de crime. 

 

Para a defensora pública Rosana Leite Antunes de Barros, o Dia Internacional de Combate à Violência Contra a Mulher, em 25 de novembro, é uma data para se refletir sobre o atual cenário estadual e nacional.

 

"É um dia que devemos pensar sobre, refletir sobre esse enfrentamento à violência contra as mulheres. Será que nós, mulheres, estamos tendo a mesma dignidade que os homens? Será que a democracia tem sido realmente algo a ser sentido da mesma forma pelos homens e pelas mulheres? Eu penso que não. As mulheres estão sendo vítimas das violências dentro e fora de casa", disse ela ao MidiaNews.

 

"E aqui em Mato Grosso, estamos vivendo lamentáveis estatísticas. Estamos há dois anos como um estado onde acontece o maior número de feminicídios no Brasil. As mulheres estão sendo assassinadas pela condição de gênero. É um risco para as mulheres estarem morando em Mato Grosso", acrescentou.

 

Para a defensora, que é ligada à defesa das mulheres, há diversas brechas nas leis atuais, uma delas é a Lei Maria da Penha. 

 

"É preciso vigiar constantemente esse cumprimento. O crime que mais acontece é de violência doméstica e familiar. Eu tenho acompanhado o cumprimento das normas, cumprimento da Lei Maria da Penha, do Código Penal. Tenho visto, sim, esse cumprimento. Todavia, nós temos várias brechas na norma", afirmou.

 

"Então, brechas existem. Nós vivemos em um estado que prima pela legalidade da lei, pensando também no direito de defesa. Então, todo mundo tem direito à defesa. Mas posso garantir que, como defensora pública que estou atuando há 15 anos nesse enfrentamento, estamos conseguindo cumprir o papel dentro do sistema de justiça, dentro da aplicabilidade da norma".

 

Medo e sensação de impunidade

 

A reportagem do MidiaNews percorreu as ruas de Cuiabá para ouvir as consequências dessa triste estatística que atinge Mato Grosso. As mulheres entrevistadas relataram medo, sensação de impunidade e cobraram leis mais rigorosas 

 

Para a pedagoga Tania Anunciação, de 57 anos, a solução começa com a autoestima feminina. "A própria mulher tem que se valorizar mais". Ela também cobrou mais seriedade das autoridades. "A gente vê que, às vezes, as mulheres procuram, mas existe muito pouco casos de procura à Polícia, ainda".

 

Tenho medo de andar com a minha filha de Uber, porque tem muitos casos, não temos segurança em lugar nenhum

Outra crítica da pedagoga é quanto à alegação de insanidade mental usada por agressores. "Hoje está fácil, né? Comete a loucura ali e diz: 'Estou louco'. Aí fica tudo numa boa".

 

  A vendedora Lucia Maria Dantas, 63, comparou a situação à de sua região de origem, no Nordeste. "Aqui em Mato Grosso eu estou sentindo que aumentou muito. Está fora de controle".

 

Dantas disse ser preciso que as leis de proteção à Mulher sejam cumpridas. Para ela, há uma falha na aplicação.  

 

"Tem a medida protetiva, mas eles não respeitam. Batem e pagam a fiança, deixa a mulher dilacerada e um mês ou ano está solto. Quando você planeja um crime, você mata uma mulher planejado, ele já vem premeditando, são pessoas frias, calculistas".

 

Já a manicure Sonia Sene, 44 anos, foi enfática ao defender penas mais severas. "Tem que ser mais bem justa mesmo, porque os homens não aceitam o término do relacionamento, acham que são os donos da mulher".

 

"Deveria ter um pouquinho mais de penalidade, não só a Lei Maria da Penha, ter um pouquinho a mais de seriedade nas penas".

 

"Não tem nada de insanidade mental não, isso aí é um homem sem vergonha. Porque ele não pensou antes, não pensou que foi gerado de uma mulher? Ele tem mãe, tem irmã, tem vó, tem tia, todas mulheres. Será que ele ia gostar que fizessem isso também com a mãe, com a avó, com a tia, com a irmã dele?".

 

A auxiliar de limpeza Yasmin Silva, 26 anos, emocionou-se ao falar sobre o tema. "Eu sinto muito, muito mesmo. Eu fico até com o olho cheio de lágrimas, porque é uma vida. É uma vida, uma mulher", disse, com a voz embargada.

 

"As pessoas fazem bastante campanha no dia das mulheres, mas os homens, infelizmente, não respeitam a gente. A gente não pode andar de calça legging, a gente não pode andar de short. Num calor desse, a gente tem que andar toda coberta".

 

"Eu fico triste, fico com medo de sair de casa, tenho medo de andar com a minha filha de Uber, porque tem muitos casos, não temos segurança em lugar nenhum, lugar nenhum".

 

Veja o vídeo:

 

 

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