LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO
O Hospital de Câncer de Mato Grosso vive a expectativa por dias melhores, com a entrega de duas grandes obras agendadas para o dia 12 de agosto: a nova ala de ambulatório e consultórios da instituição, que promete triplicar a capacidade de atendimento da unidade; e o Centro de Prevenção de Mama, que deverá auxiliar no diagnóstico precoce do câncer de mama.
A nova ala é resultado de uma parceria entre a Casa Cor Mato Grosso, a Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), o embaixador do HCâncer, o ator Otaviano Costa, o Governo do Estado, a Assembleia Legislativa e a Prefeitura de Cuiabá.
Com seis mil m², a reforma do antigo pavilhão do hospital era um sonho dos administradores da instituição. O MidiaNews foi conferir, em primeira mão, como está a nova ala, que deverá abrigar ambulatório, consultórios, um auditório e salas de tratamento (confira as fotos na galeria abaixo).
A obra, que estava abandonada há mais de 17 anos, demorou pouco mais de quatro meses para ser concluída, sendo usada como sede do evento Casa Cor 2012 – maior mostra de arquitetura e decoração das Américas – entre setembro e outubro do ano passado.
Lislaine dos Anjos/MidiaNews
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Entrada de emergência da nova ala do HCâncer
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“Nós tivemos muitas dificuldades para chegar aonde chegamos hoje. Nós tivemos que, além de correr atrás de patrocínios, fazer tudo acontecer rápido, já que a Casa Cor tem data marcada para acontecer”, recordou um dos organizadores do evento, Vagner Giglio.
No entanto, a adequação do espaço para ser usado como a nova frente do HCâncer demorou quase um ano para ser concluída o que ocorreu, segundo Giglio, devido às etapas burocráticas.
“Ficamos na dependência de aprovação de projetos junto ao Corpo de Bombeiros, a Vigilância Sanitária, coisas inerentes a um hospital para garantir a segurança. Essa obra saiu porque nós atropelamos todos os processos. Como iniciativa privada, nós estabelecemos um cronograma e cumprimos. Se fosse feita de outro jeito, essa obra demoraria três ou quatro anos”, disse.
Ao todo, a reforma da nova ala custou mais de R$ 12 milhões, dos quais R$ 1,2 milhão são provenientes de emendas parlamentares estaduais; R$ 400 mil foram doados pela Prefeitura de Cuiabá; R$ 2 milhões são resultado de doações dos produtores do Estado, por meio da Aprosoja e cerca de R$ 2 milhões foram arrecadados em um leilão beneficente realizado em São Paulo pelo ator Otaviano Costa.
“Nós estamos cumprindo o que prometemos: estamos entregando os espaços mobiliados e prontos. Aí, cabe a direção do hospital estabelecer quando ela passará a funcionar. Nós estamos, com muito orgulho, entregando essa obra. Agora, o resto, nós vamos, junto com a sociedade, cobrar para que seja feito”, ressaltou.
Realidade do HCâncerA expectativa dos parceiros de construção da nova ala – e da sociedade – porém, não será uma tarefa fácil para a diretoria do Hospital. Isso porque a instituição, que hoje possui um déficit mensal que varia de R$ 400 a R$ 600 mil, projeta um aumento nesse valor de até R$ 250 mil por mês com o funcionamento da nova ala e do Centro de Mama.
Segundo o presidente do HCâncer, João Castilho Moreno, a unidade deve dar início aos atendimentos no novo espaço a partir de setembro deste ano, devido a ajustes e instalações que deverão ser feitas para garantir o funcionamento e a mudança e adaptação dos funcionários ao novo ambiente e algumas.
Com a reforma, a instituição – que em 2012 realizou quase 53 mil atendimentos e realiza aproximadamente de 1,2 mil procedimentos por semana – terá capacidade para triplicar a capacidade de atendimento. Isso, porém, não significa aumento da demanda ou dos repasses feitos à instituição, explicou Castilho.
Lislaine dos Anjos/MidiaNews
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Nova recepção do HCâncer, em fase de acabamento
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“Nós temos uma contratualização definida. Se você passar do que está previsto no contrato, o problema é seu. Se você fizer a menos, você não recebe o que está previsto no contrato. Como a nossa filosofia é atender quem chega, logicamente nós temos deficiências. Nós atendemos a todos que nos procuram, com raras exceções de tumores ósseos e cerebrais, independente do limite de atendimento previsto no contrato”, disse.
“É importante frisar, também, que mesmo que o ambiente esteja pronto para atender cinco mil pessoas, não teremos essas cinco mil pessoas aqui para serem atendidas. Isso não foi pensado para servir ao momento, mas sim para servir ao futuro. A demanda é de acordo com o que existe, mas não é a gente que cria”, acrescentou Castilho.
Hoje, aproximadamente 97% dos procedimentos feitos na instituição são de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), cujo repasse mensal de R$ 2,3 milhões não é suficiente para cobrir os gastos dos procedimentos realizados.
“Um atendimento de convênio ou particular, que é raríssimo, dá suporte para três atendimentos do SUS”, disse.
Apesar de ter como foco os pacientes do SUS, o presidente explicou que não pode fechar as portas para os pacientes de convênios ou particulares – como muitos reclamam que deveria ser feito – porque isso inviabilizaria a instituição do cumprimento de sua finalidade, que é atender a todos que a procuram.
“Se atendermos somente pelo SUS, não cumprimos com o nosso objetivo de tratar câncer em Mato Grosso, porque as pessoas que tiverem convênio precisarão buscar tratamento fora do Estado, sendo que nós temos disponível aqui toda a tecnologia. Então, é lógico e claro que a instituição tem que atender, por dever, SUS em maioria. Mas também os demais. Não podemos falhar nesse aspecto”, afirmou.
Além do valor pago pelo SUS, o atraso no repasse também é um problema enfrentado pela unidade, explicou Castilho. Isso porque, sem o pagamento em dia dos procedimentos feitos na unidade, atrasam também os pagamentos dos fornecedores.
MidiaNews
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Presidente do HCâncer, João Castilho: instituição precisa de apoio econômico para se manter
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“Estamos pedindo apoio dos governos estadual e municipal para que nos ajude com os incentivos econômicos para que a instituição se mantenha. Os fornecedores não aceitam atrasos, eles cobram juros e multa e isso gera um problema seríssimo, porque eles não entregam mais produtos e nós precisamos, para socorrer, comprar de qualquer um e mais barato. Se for pago em dia, isso diminui significativamente o problema econômico da instituição”, ressaltou.
Apesar das dificuldades, o presidente do HCâncer está otimista quanto ao funcionamento da nova ala, principalmente para garantir que a unidade tenha capacidade de atender demandas futuras.
“Eu acredito que essa nova estrutura do ambulatório não precisará ser ampliada por, pelo menos, os próximos dez anos, a não ser com serviços novos dentro da oncologia. Mas não com novas reformas para suportar a demanda”, disse.
Com a mudança do pronto-atendimento, consultórios, da diretoria e de todo o serviço de ambulatório oncológico – que hoje funciona de forma improvisada nos fundos do hospital – para a ala da frente da instituição, a estrutura antiga do hospital deverá passar por reformas e adequações.
“O local onde hoje funciona o ambulatório nós iremos transformar em ala de internações. Também vamos ampliar o serviço de hematologia e instalar novos serviços, como o laboratório de patologia. A entrada principal, que é hoje a recepção por onde passa quem chega ao hospital, será adaptada para servir como entrada exclusiva de funcionários e pacientes da UTI [Unidade de Terapia Intensiva], porque o acesso é mais fácil e mais rápido”, explicou.
A obraHoje os trabalhos estão concentrados em serviços de acabamento da obra de readequação e instalação do mobiliário – etapa coordenada pela Aprosoja.
Segundo a gerente administrativa da associação, Caroline Martins, a obra a ser entregue no próximo dia 12 contará com 11 consultórios clínicos, dois de ginecologia e um de triagem; um ambiente para medicação com cinco leitos e um ambiente para observação com três leitos; três leitos de procedimento em dois ambientes; ambientes de fisioterapia e arteterapia e sala de emergência.
Lislaine dos Anjos/MidiaNews
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Nova sala de medicação do HCâncer: capacidade de atendimento será triplicada
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Todo o setor administrativo e a diretoria da instituição também deverão se mudar para o novo espaço.
Além da obra civil de reforma, iniciada em março deste ano, também ficou sob responsabilidade da Aprosoja o mobiliário desses ambientes e as atividades de jardinagem.
O presidente da associação, Carlos Fávaro, afirmou ao MIdiaNews que foram arrecadados, junto aos produtores de Mato Grosso em campanha realizadas pela entidade em todo o Estado, mais de R$ 2 milhões.
Desse total, R$ 2 milhões já tinham destino certo: a reforma e ampliação do HCâncer. O excedente foi doado pela associação ao Hospital de Câncer de Rondonópolis, para ajudar na compra da mobília do centro cirúrgico da unidade.
“Nosso compromisso inicial era mobiliar essa nova ala [do HCâncer de Mato Grosso]. As obras civis seriam totalmente por conta da Casa Cor e dos parceiros. Depois vimos que o valor que nós arrecadamos, R$ 2 milhões, era mais do que suficiente para a aquisição do mobiliário”, disse.
Como o restante do valor arrecadado não seria suficiente para terminar as obras de readequações da nova ala, a Aprosoja passou a participar também dessa etapa, em março deste ano.
DoaçõesO projeto para reforma da nova ala do Hospital de Câncer contou com doações de empresas em nível municipal, estadual e nacional – além de 36 artistas da TV Globo que cederam suas imagens para serem usadas na campanha.
Algumas das empresas e entidades citadas à reportagem foram a Suvinil (doação de tintas), Tigre (tubos e conexões), Associação Mato-grossense de Produtores de Algodão (Ampa) (doação de todo o enxoval da nova ala), Votorantim (cimentos e argamassa), Todimo e Big Lar (campanhas nas lojas).

"Nós estamos, com muito orgulho, entregando essa obra. Agora, o resto, nós vamos, junto com a sociedade, cobrar para que seja feito"
“Foi uma mobilização tão grande, foram tantos que ajudaram, que não para mensurar. Foi uma campanha, uma mobilização social, nunca vista no nosso Estado e o Hospital de Câncer nunca teve tanta projeção quanto naquele momento”, disse Giglio.
Centro de MamaCastilho anunciou para o mesmo dia a entrega da obra do Centro de Prevenção de Mama, em parceria com o Governo do Estado, que irá possibilitar o diagnóstico precoce do câncer de mama e melhorar, assim, os prognósticos e as chances de cura.
“Teremos no Centro de Mama todo o serviço para fazer o diagnóstico do câncer de mama, como mamografia e ultrassom”, disse
O local está pronto há algum tempo e contou com recursos na ordem de R$ 1,6 milhão do Governo do Estado para ser construído.
Quando do lançamento da Casa Cor, Castilho salientou que a tecnologia disponível no Centro de Mama será a mesma usada na Holanda, que auxilia na detecção de tumores de mama de 2 milímetros, coisa que apenas é feita atualmente em grandes centros, como Rio de Janeiro e São Paulo.
Ele ressalta, porém, a necessidade de recursos por parte dos governos Estadual e Municipal, uma vez que apenas o Centro será responsável por aumento no déficit de cerca de R$ 130 mil.
“O Centro de Mama está pronto, mas precisamos de recurso para funcionar. Depende do Município e do Estado. Porque se você trabalhar por dez horas, não vai gerar renda para cobrir o que foi gasto”, disse.