Cuiabá, Terça-Feira, 1 de Julho de 2025
24 MORTES
01.04.2022 | 15h40 Tamanho do texto A- A+

Polícia Civil diz que informante da PM entregou suposto esquema

Depoimento de R.C.S. foi fundamental para a deflagração da operação, nesta quinta-feira

Secom-MT

Delegado Fausto Freitas, coordenador da DHPP em Cuiabá

Delegado Fausto Freitas, coordenador da DHPP em Cuiabá

CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

A Operação Simulacrum, que investigou a morte de 24 homens em supostos confrontos com policiais militares na região de Cuiabá, foi deflagrada graças ao depoimento do segurança R.C.S.

 

Ele contou aos investigadores que, a pedido dos PMs, arregimentava assaltantes para ações criminosas mas detalhava os planos aos policiais militares. Assim, segundo a Polícia Civil e o Ministério Público Estadual, os PMs conseguiram interceptar as quadrilhas e acabavam matando seus membros.

 

Além de segurança em empresas privadas, R.C.S. atuava como informante dos policiais militares, pois tinha proximidade com criminosos da Grande Cuiabá. Em troca, ele afirmou que os militares lhe davam dinheiro e bens apreendidos, como aparelhos celulares.

 

O depoimento foi prestado a autoridades policiais em agosto do ano passado e deram início às investigações. 

 

As informações constam nas decisões expedidas pela 12ª Vara Criminal de Cuiabá, que autorizaram a deflagração da ação, conduzida pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), que é chefiada pelo delegado Fausto Freitas, e pelo Núcleo de Defesa da Vida do Ministério Público do Estado, coordenado pelo promotor Vinicius Gahyva.

 

MidiaNews

Vinicius Gahyva MPE 16-07-2019

O promotor Vinicius Gahyva, que coordena o Núcleo de Defesa da Vida

A operação prendeu 64 militares, um civil e cumpriu 34 mandados de busca e apreensão. Ao todo foram expedidas 81 ordens de prisão. Em alguns casos, havia mais de uma ordem para um mesmo investigado.

 

Segundo as investigações, o grupo de militares teria atuado na morte de 24 pessoas, em Cuiabá e Várzea Grande, além da tentativa de homicídio de, pelo menos, outras quatro.

 

“No decorrer das investigações restou apurado que o suposto segurança que cooptava tais indivíduos para os supostos assaltos é o informante da polícia de nome R., o qual delatou todo o esquema criminoso”, consta em documento.

 

A operação faz parte das investigações realizadas em seis inquéritos policiais, já em fase de conclusão, relativos a supostos “confrontos” ocorridos na Grande Cuiabá entre outubro de 2017 e outubro de 2020. 

 

Segundo o delator, em todos os seis casos, ele atuou cooptando supostos criminosos para as emboscadas idealizadas supostamente pelos militares.

 

“Os supostos assaltos eram ‘armados’ em conjunto com policiais militares, visando atrair pessoas com passagens criminais ou não, para serem executadas sumariamente”, consta em documento.

 

“R. confessou que transitava bem entre os criminosos e auxiliava nas suas prisões em troca de dinheiro e/ou bens apreendidos, como aparelhos celulares. Entretanto, em dado momento a finalidade dessa parceria começou a mudar, pois em vez de prender criminosos ele e os policiais militares passaram a objetivar a matança de supostos bandidos, como forma de promover o nome e o batalhão dos PMs envolvidos”.

 

O primeiro caso

 

MidiaNews

Viatura Polícia Militar - ROTAM

Veículo da Rotam, que atuou em confronto em 2017

Segundo o delator, tudo teve início em outubro de 2017, quando policiais militares da Ronda Ostensiva Tática Móvel (Rotam) mataram três homens no Rodoanel, em Cuiabá.

 

No boletim de ocorrência confeccionado à época, os policiais relataram que receberam uma denúncia de que um grupo de criminosos praticaria roubos na região. Eles estariam com armamento pesado. Foi então que a Rotam fez um bloqueio na pista para tentar abordar os suspeitos, porém, os ocupantes de um dos veículos dispararam contra a PM.

 

O delator, por sua vez, garantiu que o fato se tratou de mais uma ação previamente acertada entre ele e os militares, “cuja intenção era matar os suspeitos que foram atraídos para a situação fictícia”.

 

“Na tarde dos fatos eles saíram em comboio, sentido à região do Rodoanel. Logo avistou duas viaturas caracterizadas da Rotam e uma viatura descaracterizada (Cross Fox, cor preta, utilizada pela inteligência da Rotam) e a todo momento R. alega que realizava chamada de viva voz com os policiais”. 

 

“Em determinado momento R. diz que acelerou o carro, passando pelas viaturas, e seguiu seu rumo. Apenas no dia seguinte ficou sabendo que os três envolvidos tinham sido ‘trincados’, ou seja, mortos”.

 

"Você achou que a gente estava brincando?"

 

O delator contou que chegou a questionar um PM sobre por que “haviam matado os ‘caras’. O policial teria dito: ‘Você achou que a gente estava brincando?’”

 

Como esta foi a primeira vez que ele havia atuado como cooptador, R. afirmou que não sabia que os policiais iriam matar. “Mas depois deste fato tomou conhecimento que aquele tipo de ação iria se tornar constante, ou seja, todos os demais alvos cooptados por ele seriam executados”.

 

Segundo a Polícia Civil, “a versão de R. foi corroborada pelos exames de necropsia, de confronto balístico e demais provas indiciárias”. 

 

“As delações feitas por R. até o momento coadunam com a prova testemunhal colhida no ano de 2018, ou seja, três anos antes da delação”, diz a investigação.

 

A operação

 

A operação faz parte das investigações realizadas em seis inquéritos policiais, já em fase de conclusão, relativos a supostos “confrontos” ocorridos na Grande Cuiabá entre outubro de 2017 e outubro de 2020. Os delegados da DHPP apontam que os militares atuariam como "grupo de extermínio" nas supostas operações.

 

"Os delegados de Polícia da DHPP e documentos que a instruem constata-se a ocorrência de crimes de homicídio qualificado, majorado por ter sido possivelmente praticado por grupo de extermínio, bem como o delito de organização criminosa", consta em uma das decisões judiciais sobre o caso. 

 

A Polícia Militar, por meio de nota encaminhada à imprensa, afirmou que os militares acusados "possuem boa reputação institucional e relevantes serviços prestados”.

 

A instituição ainda criticou o pré-julgamento e a execração pública dos policiais. "A PMMT repudia exposições desnecessárias e abusivas de seus membros, que sequer tiveram direito de defesa", diz a nota. 

 

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Eloi Wanderley da Silva   01.04.22 17h14
A PJC só fez essa excração pública simplesmente porque os acusados são Policiais Militares, essa mesma PJC faz operação postos e fragla alguns vendendo gasolina adulterada porém a PJC, não divulga o nome dos postos, deixam a população se lascar, mais agora como se trata de PMs tem a execração para se mostrarem superioridade. Não sou contra a investigação sou contra a execração pública. Que a justiça venha a tona doa a quem doer.
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