Cuiabá, Sábado, 14 de Junho de 2025
ANIMAIS SILVESTRES
25.11.2018 | 08h00 Tamanho do texto A- A+

“Quanto mais a cidade cresce, mais bichos aparecem", diz biólogo

Aparecimento de animais silvestres na Capital tem preocupado a população

Alair Ribeiro/MidiaNews

O biológo e professor na UFMT Felipe Franco Curcio:

O biológo e professor na UFMT Felipe Franco Curcio: "Invasão é antrópica"

JAD LARANJEIRA
DA REDAÇÃO

O Batalhão de Proteção Ambiental já resgatou, somente este ano, cerca de 700 animais silvestres em áreas urbanas e rurais de Mato Grosso. Em Cuiabá, nos últimos meses, jacarés, jibóias e tamanduás já foram flagrados "passeando" pela cidade, na maioria das vezes do período noturno.

 

A situação tem se tornado recorrente e chamado a atenção da sociedade, por tratarem-se de animais, em sua maioria, perigosos.

 

Em apenas uma semana, um jacaré foi visto atravessando uma avenida quando seguia em direção ao Parque das Águas. Dias depois, o animal foi capturado perambulando nos fundos de um supermercado, próximo à Avenida do Historiador Rubens de Mendonça (Avenida do CPA).

 

O biólogo Felipe Franco Curcio, que é professor da Universidade Federal e Mato Grosso (UFMT), afirma que os animais silvestres podem estar visitando a cidade com mais frequência em decorrência do período de chuvas, que geram alagamentos na Capital.

 

“É possível que os aparecimentos mais frequentes, reportado pelas pessoas nas redes sociais, tenha alguma relação com o início das chuvas para algumas espécies. Mas isso é o tipo de coisa que não posso afirmar categoricamente, sem um estudo mais aprofundado”, disse, em entrevista ao MidiaNews.

 

Os bichos já estavam aqui antes da cidade chegar. A invasão é antrópica, dos seres humanos, e os bichos vão acabar aparecendo

O crescimento da área urbana também pode ser um fator da aproximação desses animais. Felipe afirma que a derrubada da vegetação nativa e a "invasão" do habitat de algumas espécies também podem estar atrelados aos aparecimentos constantes.

 

“Até pouco tempo, tínhamos a ‘matinha’ no Córrego do Barbado, que foi suprimida. E isso afetou a população de animais que estava atrelada àquele ambiente de maneira definitiva. Ali, você poderia encontrar macaquinhos do gênero mico, que hoje vemos nos fios elétricos. Então, existe um impacto direto. Se esses bichos se abrigavam na mata e não eram visíveis, hoje  a gente 'tromba' e vê os bichos andando no portão da UFMT”, explicou.

 

O profissional diz que essas situações devem ser vistas com normalidade, uma vez que, segundo ele, quanto mais a cidade cresce, mais os animais vão perdendo parte de seu habitat.

 

“O que eu posso dizer é que, numa região como a nossa, que é exuberante de fauna, e em que a cidade cresce de uma maneira relativamente rápida, não vai ser incomum que o ambiente urbano acabe envolvendo a área de vida de algumas espécies. Os bichos já estavam aqui antes da cidade chegar. A invasão é antrópica, dos seres humanos, e os bichos vão acabar aparecendo. Quanto mais a cidade cresce, mas isso acontece”, explicou.

 

Medo de ataques

 

O maior medo das pessoas é não saber como reagir ao se depararem com algum animal silvestre e, com isso, serem atacadas. No entanto, não há registro de que nenhum ataque ocorrido nos últimos anos e, conforme o biólogo, são ocorrências raras.

 

De acordo com Felipe, ao se deparar com humanos, a conduta desses animais é, primeiramente, de fuga e não de ataque.

 

“Os animais silvestres não representam um perigo latente. Requer alguns cuidados, porque, normalmente, esses bichos se acostumam à presença humana. Isso é diferente de gostar da presença humana, ao ponto de você ir lá e fazer carinho nele”, disse.

 

jacare

Jacaré foi capturado em Cuiabá próximo a supermercado, na Avenida do CPA

“As capivaras lá do Parque Tia Nair, por exemplo, não estão nem aí para você. Dá para se aproximar dela bastante bem, mas dificilmente ela vai permitir que você chegue nela ou faça um cafuné em seu filhote sem reagir. A nossa conduta deve ser cuidadosa, de manter uma distância segura, dependendo do bom senso, não se aproximar. Se quiser fotografar, fazer com  atenção e cautela, como fizeram com o jacaré, que filmaram de dentro do carro. Mas a recomendação é não se aproximar se não tem treinamento para isso”, afirmou.

 

A orientação dada à população é de sempre acionar os órgãos ambientais e o Corpo de Bombeiros para a captura e remoção do animal, caso ele esteja em área urbana.

 

As ligações podem ser feitas para o telefone de emergência (190) onde são dirigidas prioritariamente as ligações. As equipes também podem ser acionadas pelo celular: (65) 99987-4024.

 

Medidas de controle

 

O profissional relatou que não há muito que pode ser feito para que os animais silvestres permaneçam somente em seus habitats, sem invadir a área urbana.

 

Segundo Felipe, pelo menos nos parques (Tia Nair, Massairo Okamura, das Águas e Mãe Bonifácia) deveria conter um sistema de informação eficiente da existência destes animais.

 

“Uma coisa que pode ser tornar de risco, por exemplo, é ali no Tia Nair, onde as capivaras atravessam as ruas frequentemente e, além de você poder atropelar e matar o bicho, também corre o risco de se machucar em um acidente. Ali precisa de sinalização urgente, para dizer que tem fauna cruzando, ou alguma medida que evite que as capivaras saiam da área do parque. Mas tudo isso demanda estudo de biologia populacional e leva tempo. Não é uma medida muito fácil”, disse.

 

Conforme o biólogo, não existe solução aplicável em curto prazo. Isso, diz Felipe, requer investimentos públicos e preparação populacional.

 

“É possível investir em estudos de ecologia urbana, contratar gente, investir em mão de obra da biologia, veterinária, zootecnia, para fazer um inventário de onde que os animais silvestres foram detectados pela população, ou [onde eles] podem possivelmente se manifestar, quais medidas são necessárias, quais deles podem ser transladados e para onde, se todos pertencem à nossa fauna”, disse.

 

“Lógico, tudo isso demanda tempo e dinheiro, mas é importante que sejam feito investimentos para medidas de controle. Evidentemente, o Poder Público vai dizer que tem outras prioridades, mas tudo que a gente precisa investir em conhecimento, requer uma nova política de distribuição de recursos, que a gente espera que seja implementada nessa nova gestão”, concluiu.

 

Veja os vídeos:

 

 

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cidadão  25.11.18 10h14
só falou o óbvio . . descobriu a américa
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