Cuiabá, Quarta-Feira, 9 de Julho de 2025
EXPERIÊNCIA
01.02.2020 | 19h00 Tamanho do texto A- A+

“O Senado é um ambiente hostil para quem não entra no esquema”

Cassada pela Justiça eleitoral, Selma Arruda faz balanço de passagem pelo Senado e critica Fávaro

Victor Ostetti/MidiaNews

A senadora cassada, Selma Arruda:

A senadora cassada, Selma Arruda: "Eu me elegi sozinha"

CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

Um ano após ingressar no Congresso Nacional, a senadora cassada Selma Arruda (Podemos) afirmou ter encontrado no Senado Federal um “ambiente hostil” e que isso foi uma das maiores dificuldades da sua legislatura.

 

“O Senado Federal, ao contrário do que parece, é um ambiente hostil. Ele não é hostil para aqueles que chegam dando tapinhas nas costas, trocando favores, e entrando no esquema. Quem chega com vontade de fazer aquilo que deveria ser feito, que é o mínimo, é muito hostilizado”, disse, em entrevista ao MidiaNews, na tarde da última quinta-feira (30).

 

“Nós temos o Renan Calheiros [MDB-AL], que é uma figura sórdida e que manda no Senado como se fosse dono. É um coronel, é uma coisa horrorosa. As regras mudam de acordo com o humor das pessoas, não se respeita a Constituição, não se respeita o regimento do Senado”, completou.

 

Selma disse que com a formação do grupo “Muda Senado”, da qual faz parte mais de 20 senadores, o local ficou mais tolerável de se conviver. Mas revelou que, por diversas vezes, pensou em desistir.

 

“O ambiente é muito pesado. Ou seja: ou você dança a música que está tocando ou você sai do baile. E é muito difícil você engolir isso no dia a dia. Dá vontade de não ir, de desistir. Eu cansei de me arrepender de ter entrado naquilo ali. É bruto demais”, afirmou.

 

O ambiente é muito pesado. Ou seja: ou você dança a música que está tocando ou você sai do baile. E é muito difícil você engolir isso no dia a dia

Selma afirmou que o seu rival, o ex-vice-governador Carlos Fávaro (PSD) – autor da ação que culminou na sua cassação – usou “métodos escusos” para que ela fosse condenada.

 

A juíza aposentada ainda falou sobre eleição suplementar ao Senado, futuro na política e o Governo Bolsonaro. 

 

Selma e seus suplentes, Gilberto Possamai e Clérie Fabiana Mendes, foram condenados por caixa 2 e abuso de Poder Econômico no Tribunal Regional Eleitoral (TRE).

 

A condenação foi mantida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em dezembro passado. Com isso, eles tiveram os mandatos cassados e estão inelegíveis por oito anos.

 

Confira os principais trechos da entrevista:

 

MidiaNews   A senhora decidiu ser candidata ao Senado, enfrentou uma batalha eleitoral e venceu. Agora foi cassada pelo TSE. Como se sente depois dessa caminhada?

 

Selma Arruda – Sinto que fiz a minha parte. O Brasil está em um momento de batalha declarada entre o "establishment" e as pessoas que querem mudar isso. Toda guerra tem baixa e eu acho que fui uma delas. É normal.

 

Mas eu não me perdoaria se não tivesse tentado. É essa a sensação que tenho. 

 

 

MidiaNews  Imagino que a senhora ficou arrasada, como ficaria qualquer ser humano. Chegou a ficar deprimida?

 

Selma Arruda – A sensação não é de depressão. Quando você é vítima de uma injustiça, a sua reação é mais de indignação do que qualquer coisa. Principalmente eu, que vim do Judiciário. É tão importante você ter responsabilidade com as decisões que você toma, analisar provas com decência e coerência. O que foi feito comigo é nítido. 

 

Primeiro, foi uma pressa tresloucada. Segundo, um uso indevido de provas que não eram provas. O relator [do processo no TRE, Pedro Sakamoto] chegou a mostrar durante o voto dele uma foto minha como se fosse um santinho que eu estivesse usado na campanha. Sendo que, no processo, essa foto está acompanhada de outras duas fotos, e eram fotos usadas para realizar uma pesquisa qualitativa.

 

Era uma pesquisa com três fotos minhas, e as pessoas optavam por quais daquelas imagens eram mais simpáticas. E ele disse que aquilo era um santinho que eu fiz antes da campanha. Engraçado - e para mim muito revelador - é que por coincidência é a mesma foto que o advogado do Fávaro [José Eduardo Cardozo] usou quando estava fazendo a defesa oral na Corte. Que dizer, em absoluto desprezo pelo que estava no processo. Foi feito um teatro ali, e as coisas aconteceram como o encomendado. 

 

Eu não tenho sentimento por essa pessoa [Carlos Fávaro], a não ser desprezo. Ele se utilizou de métodos escusos para que o processo fosse decidido em um tempo relâmpago

MidiaNews   A senhora afirma que foi vítima de um complô, de perseguição porque estava incomodando muita gente. Pode explicar melhor?

 

Selma Arruda – Enquanto esse processo não se encerrar definitivamente, prefiro não entrar em detalhes sobre isso. Depois vou fazer questão, inclusive, de dar nomes aos bois. 

 

O [senador pelo Paraná e presidente nacional do Podemos] Álvaro Dias me relatou que, em conversas com ministros, eles disseram que não têm simpatia por pessoas que saem do Ministério Público e do Judiciário e vão para a política. E um ministro chegou a dizer que achava que deveria criar uma regra, uma espécie de quarentena, para as pessoas não saírem imediatamente do Judiciário e do MP para irem para política. Por que isso? Só eles sabem.

 

Mas ficou muito claro o recado que foi dado tanto para o Deltan Dallagnol [procurador que integra a força-tarefa da Operação Lava Jato] quanto para o Sérgio Moro [ex-juiz federal e atual ministro da Justiça]. É óbvio! É uma coisa que não interessa para a classe política e para certas pessoas do Judiciário: que a política seja “poluída” por um juiz, promotor e gente que combate à corrupção. Não querem.

 

MidiaNews – Então a senhora ainda tem muito a revelar. Não poderia nos contar um pouco do que tem a dizer?

 

Selma Arruda – Tenho. Mas não posso adiantar nada.

 

MidiaNews – A senhora nutre algum sentimento ruim sobre o ex-vice-governador Carlos Fávaro, autor da ação que culminou em sua cassação?

 

Selma Arruda – Eu não tenho sentimento por essa pessoa, a não ser desprezo. Ele se utilizou de métodos escusos para que o processo fosse decidido em um tempo relâmpago. Veja por exemplo a situação do deputado federal José Medeiros, que é do meu partido, meu amigo. Só aqui em Mato Grosso, o processo dele demorou quatro anos para ser julgado. Agora tem um recurso, e ninguém nem olha para o recurso. Não vai ser julgado tão cedo.

 

O meu levou quatro ou cinco meses aqui, mais cinco ou seis meses no TSE. O parecer do Ministério Público Federal saiu em sete horas. E isso é óbvio que foi uma coisa muito bem trabalhada nos bastidores. Quem ali tem essa livre circulação, principalmente em Brasília, é o advogado do Fávaro [Cardozo]. E se utilizou de expediente pouco republicano para conseguir o que quer.

 

 

MidiaNews  Em uma entrevista recente, a senhora chegou a dizer que o Carlos Fávaro teria praticado caixa 2 em campanha.

 

Selma Arruda – Eu só dei um exemplo. Tem muitas coisas. A Justiça está absolutamente cega para ver coisas que estavam na cara dela, que não quis ver. Porque se visse, eu não teria sido cassada. 

 

E foi exatamente em uma oitiva de testemunha, em que uma delas virou para o desembargador,e  disse: "Realmente, esse valor, ela [Selma] me pagou a título de uma pesquisa que me encomendou, isso dentro da campanha. Ela me pagou com cheque e dei nota fiscal. Agora, eu vendi a mesma pesquisa para o Fávaro e ele me pagou em dinheiro vivo e eu não dei nota fiscal".

 

Isso foi dito para o desembargador, com o promotor do lado, e nada foi feito. 

 

MidiaNews – Mas não era o caso da senhora levar isso ao Ministério Público?

 

Selma Arruda – O Ministério Público estava presente. E quando isso ocorre, não é necessário tomar nenhuma providência. O MP tem obrigação legal de tomar providência, sob pena de prevaricar.

 

 

 

MidiaNews – E a tramitação da cassação no Senado?

 

Selma Arruda – Essa tramitação do Senado começa a partir do momento em que o TSE notifica o presidente Davi Alcolumbre. Ela foi feita no último dia de expediente antes do recesso. O Alcolumbre mandou para os advogados do Senado para que eles dessem um parecer sobre aquela decisão. O primeiro parecer que chegou foi no sentido de que a decisão deveria respeitar o trânsito em julgado da decisão primeiro, para tomar alguma atitude. 

 

Recentemente, recebi uma informação sobre o tal do Frazão [Carlos Eduardo Frazão do Amaral], que é advogado do Fávaro, e que também é advogado da presidência do Senado. Ele teria influenciado a advocacia do Senado a mudar o parecer e dizer que o afastamento deveria ser imediato.

 

É impressionante a falta de urbanidade. As pessoas não são republicanas, as coisas não funcionam como deveriam funcionar. 

 

MidiaNews   Recentemente a senhora relembrou o momento em que falou para os seus filhos sobre a cassação. Foi difícil?

 

Selma Arruda – Quando terminou aquele julgamento, eu fui consolada com o voto do ministro Edson Fachin, que parece ter sido a única pessoa que olhou o processo e que analisou as provas. E ele fez questão de ser muito contundente nesse sentido. Ou seja, ele disse que não via nada que justificasse a cassação, não viu caixa dois, desvio, e nem abuso de poder econômico. Ele foi muito claro. Aquilo me consolou muito.

 

Você receber um sentença favorável em primeiro grau, confirmada em segundo grau, te leva a refletir: será que as pessoas, um dia, irão acreditar que você não merecia passar por isso?

 

Aí eu liguei pros meus filhos, os dois. E eles disseram que confiavam em mim e eu fiquei tranquila.

 

 

MidiaNews   E qual foi o momento mais difícil para a senhora nesse processo todo?

 

Selma Arruda – Houve vários momentos difíceis. O Senado Federal, ao contrário do que parece, é um ambiente hostil. Ele não é hostil para aqueles que chegam dando tapinhas nas costas, trocando favores, e entrando no esquema. Quem chega com vontade de fazer aquilo que deveria ser feito, que é o mínimo - ou seja, legislar e fazer um mandato decente - é muito hostilizado. 

 

Hoje eu faço parte do grupo “Muda Senado”. Eles são muito hostilizados lá. O ambiente é muito pesado. Ou seja: ou você dança a música que está tocando ou sai do baile. E é muito difícil você engolir isso no dia a dia. Dá vontade de não ir, de desistir.

 

Eu cansei de conversar com colegas que se diziam arrependidos. Cansei de me arrepender de ter entrado naquilo ali. É bruto demais. 

 

Eu cansei de conversar com colegas que se diziam arrependidos. Cansei de me arrepender de ter entrado naquilo ali. É bruto demais

Nós temos o Renan Calheiros (MDB/AL), que é uma figura sórdida e que manda no Senado como se fosse dono. É um coronel, é uma coisa horrorosa. As regras mudam de acordo com o humor das pessoas, não se respeita a Constituição, não se respeita o Regimento.

 

MidiaNews   A senhora se arrepende de ter entrado em atrito com pessoas que atuaram em sua campanha, como o marqueteiro Júnior Brasa, que a denunciou?

 

Selma Arruda – Não me arrependo de forma alguma. Aliás, ainda vou processá-lo e ele vai pagar por tudo o que fez. Ele me causou um dano incomensurável. Ele me chantageou. Eu tenho provas disso e vou pedir um ressarcimento.

 

MidiaNews – Após a confirmação da sua cassação, houve rumores de que a sua relação com o suplemente Gilberto Possamai ficou estremecida. Veio a público, inclusive, uma nota na qual ele diz que “jamais imaginou que o dinheiro do empréstimo que fez à senhora poderia ser utilizado de forma supostamente irregular".

 

Selma Arruda – Eu não tenho conhecimento dessa nota. Mas o Gilberto Possamai é uma pessoa muito honesta e muito simples. Ele confia com muita facilidade. Eu também confiei. É óbvio que, se nós soubéssemos que as coisas aconteceriam dessa forma, eu também não teria entrado.

 

 

MidiaNews   A senhora costuma dizer a respeito da cassação que perdeu uma batalha e não a guerra.  Ainda acha possível reverter a cassação?

 

Selma Arruda – Não é questão de reverter a cassação. Acho que ainda não é um assunto encerrado, nós ainda temos um processo a enfrentar no Senado. Temos um recurso pela frente e, em tese, não é nada acabado.

 

Agora, o que quero dizer quando falo que foi apenas uma batalha, e não uma guerra, é no sentido de que eu não preciso estar no mandato para conseguir fazer aquilo que eu acredito que deva fazer pelo Brasil. Posso continuar trabalhando e continuar ajudando.

 

MidiaNews – Então a senhora vai continuar na política?

 

Selma Arruda – Vou presidir a Fundação do Podemos. E uma das coisas que eu acho muito interessante, que é um ato de cidadania muito importante, é justamente usar essa fundação para dar conhecimento político para pessoas que querem ir para o meio político. Para elas saberem o que elas vão encontrar.

 

Muita gente diz que quer ser vereador só para ter um salário fixo. Então, precisamos ensinar essas pessoas o que é a política e a boa política.

 

MidiaNews – Houve mesmo um convite para atuar no gabinete do senador Álvaro Dias?

 

Selma Arruda – Na verdade, foi uma brincadeira que os senadores fizeram: “Ela vem para o meu gabinete”, disse um. E outro: “Ela vai é para o meu”. Mas eu não irei para gabinete nenhum. O que eu pretendo é trabalhar na fundação e advogar. Eu advoguei 11 anos e dá uma saudadezinha.

 

Acho que ainda não é um assunto encerrado, nós ainda temos um processo a enfrentar no Senado. Temos um recurso pela frente e, em tese, não é nada acabado

MidiaNews – Na área criminal?

 

Selma Arruda – Não. 

 

MidiaNews – Na eleição suplementar, que irá ocorrer no dia 26 de abril, a senhora já tem um nome ou um perfil de um candidato que deve apoiar?

 

Selma Arruda – Ainda não tenho nenhum nome e não penso ainda com afinco. As pessoas têm me procurado, tenho conversado com algumas delas, mas o que penso é em um perfil.

 

Seria um perfil em que o povo mato-grossense não perdesse com a minha substituição. Não quer dizer que tenha que ser um xerox, até porque não sou perfeita, nem ideal, mas que tenha as mesmas propostas que eu. E não propostas da boca para fora. Porque agora está cheio de gente querendo repetir discurso para ganhar voto. Não é isso. Tem que ser uma pessoa que se comprometa com o grupo “Muda Senado”, se comprometa com pautas importantes para o País, que seja de direita, decente. 

 

MidiaNews – O vice-governador Otaviano Pivetta já acenou com pautas muito parecidas com as da senhora. Há uma conversa inicial entre o Podemos e o Pivetta?

 

Selma Arruda – Eu não sei dizer, não estou tendo conversas profundas a esse respeito. Sei que ele esteve com o senador Álvaro Dias. Não sei qual impressão o Álvaro teve dele, mas devo conversar com ele assim que for para Brasília.

 

Até porque eu vejo que uma eventual candidatura tem que respeitar a liderança do Álvaro no Senado. Hoje, nós somos a segunda maior bancada no Senado. A liderança do senador Álvaro Dias é extremamente importante. Precisa e merece respeito. Eu não apoiaria ninguém que ele não apoiasse.

 

MidiaNews   A Procuradoria Geral do Estado ingressou com um pedido junto ao Supremo Tribunal Federal para Carlos Fávaro assumir a vaga de senador enquanto a nova eleição não ocorre [a entrevista foi realizada na quinta-feira (30), um dia antes da decisão favorável do STF determinando que Fávaro assuma a vaga de Selma]. A senhora acredita que o governador Mauro Mendes (DEM) pode estar usando o Executivo para defender um interesse pessoal?

 

Selma Arruda – Eu vejo como um ato de improbidade administrativa absurda. Acho até que o Ministério Público deve tomar providências a respeito, porque foi uma ação visando a proteção de um amigo e aliado, utilizando-se da máquina pública para isso. 

 

 

MidiaNews  Nos bastidores, fala-se que o Podemos está articulando junto ao Davi Alcolumbre para que a senhora fique no Senado até que a eleição seja realizada. Existe essa possibilidade?

 

Selma Arruda – A Constituição prevê um rito depois que sai a decisão judicial. Essa decisão é comunicada ao presidente do Senado, ele abre prazo para a defesa do senador. Isso vai ter que acontecer. Qual será o prazo, se eu irei usar ou não, se eu terei vontade de ficar mais tempo ou não, se a minha defesa pode convencer os outros senadores, se isso me interessa ou não...

 

MidiaNews – Apesar destas etapas, que a senhora diz que ainda faltam, o TRE já marcou a eleição.

 

Selma Arruda – Foi um erro quase grotesco [do TRE]. Talvez causado por essa pressa excessiva em fazer o julgamento, o pessoal atropelou e esqueceu a previsão constitucional que ainda irá acontecer. Como assim uma eleição está marcada para abril, se esse procedimento pode ir até março? Como que as pessoas farão campanha aqui? Foi atropelo também, nítida consequência dessa pressa toda que foi o julgamento.

 

Como assim uma eleição está marcada para abril, se esse procedimento pode ir até março? Como que as pessoas farão campanha aqui?

MidiaNews – Pode ocorrer de alguma decisão adiar essa eleição?

 

Selma Arruda – Perfeitamente possível. Eu não vou sair um dia antes simplesmente para agradar, porque um ministro resolveu dar 90 dias para fazer uma nova eleição ou um desembargador aqui que resolver pautar para o dia x. Eu vou ficar até quando for necessário.

 

MidiaNews – Após a cassação, a senhora sentiu que foi “abandonada” por amigos?

 

Selma Arruda – Ao contrário. Ganhei muitos amigos, e tenho tido muito apoio do povo. Onde eu vou, as pessoas me param e dizem: "Temos certeza que foi armação, e a pessoa que a senhora apoiar ao Senado, a gente vota".

 

MidiaNews – E quanto aos aliados?

 

Selma Arruda – Eu me elegi sozinha. Quem você lembra de ter me apoiado na eleição? Nenhum prefeito, nem vereador, nada. Eu me elegi sozinha.

 

MidiaNews – O Bolsonaro apoiou a senhora.

 

Selma Arruda – O presidente estava internado, né? Ele não pode vir aqui. Na verdade, acho que nós que fizemos campanha para o presidente. 

 

MidiaNews – A gente pode, um dia, voltar a ver a senhora na política?

 

Selma Arruda – Não. Eu nunca pensei em cargo no Executivo, não é minha cara. Mas eu vejo que ficar inelegível por oito anos, pensa bem. Eu tenho 57 anos, é muito longe. Até lá, eu quero estar na praia.

 

MidiaNews – Em contrapartida ao ambiente hostil alegado pela senhora, há conversas de que o Senado é um “paraíso político”, um local de muita mordomia. 

 

Você trabalha dois dias na semana, recebe um salário ótimo, tem um apartamento de 240 m² para viver, ou um auxílio-moradia muito bom. Eu vejo muita mordomia para trabalhar duas vezes na semana

Selma Arruda – Porque se fala que o Senado é “estar no céu sem precisar morrer”. Se eu tivesse na banda de lá, com certeza estaria repetindo isso com um sorriso no rosto. Na banda de cá, não há céu. Há inferno. 

 

Mas o que observei é que as sessões ocorrem só às terças e quartas, muito raramente em uma quinta-feira. Você trabalha dois dias na semana, recebe um salário ótimo, tem um apartamento de 240 m² para viver, ou um auxílio-moradia muito bom. Eu vejo muita mordomia para trabalhar duas vezes na semana.

 

Às vezes, eu venho uma vez a cada 15 dias ou mês, exatamente para não gastar dinheiro público, porque a passagem quem paga é o Senado. A gente passa fins de semana trabalhando, discutindo e afinamos projetos. 

 

MidiaNews   Senador é um dos cargos que mais dá poder a um político. Como foi esse um ano de vivência ali?

 

Selma Arruda   Nós tivemos embates muito importantes. Eu fui relatora do projeto da prisão em segunda instância, foi uma vitória importante. Nós tivemos negociações cujos resultados ainda não apareceram, mas que serão positivos.

 

Nós estamos trabalhando com a questão do foro privilegiado. Fizemos uma concatenação de bons deputados federais conosco, inclusive com o deputado Luiz Flávio Gomes, que é especialista em direito penal. E lá nós conseguimos fazer uma frente ética contra a corrupção.

 

Acredito que, para um primeiro ano, esse passos que podem não aparecer muita coisa, mas é muito difícil você conseguir pegar 513 deputados, mais 81 senadores, e convencer essas pessoas a parar de legislar em causa própria.

 

MidiaNews – A senhora é uma aliada do presidente Jair Bolsonaro. Após um ano de governo, como analisa a gestão dele?

 

Selma Arruda – O Bolsonaro é um excelente presidente. Soube escolher muito bem sua equipe, especialmente o Sérgio Moro [Justiça], Paulo Guedes [ Economia], o Tarcísio Freitas [Infraestrutura], a Tereza Cristina, que é da Agricultura. É uma mulher pequenininha, mas gigante para trabalhar. Essa equipe foi o grande acerto do presidente. Torço por ele e todas as minhas votações foram a favor do Governo Bolsonaro.

 

Alias, o Podemos tem se colocado muito alinhado com essas pautas. 

 

MidiaNews – Com o início da criança do partido do presidente, o Aliança para o Brasil, a senhora pretende se filiar?

 

Selma Arruda – Se tem uma coisa que eu aprendi nesse um ano e que levarei para o resto da vida é que nem extrema esquerda é ruim e nem extrema direita é bom. Nenhum dos extremos são bons. Centrão também é ruim. Mas nós podemos ter um meio termo com ponderação e respeito, sem esse clima de embate eterno.

 

Por que precisa colocar um ministro no Supremo que seja evangélico? Para mim não faz um mínimo sentido. O ministro do Supremo tem que estar ali para julgar processo. Se o ministro for influenciado pelo sentimento religioso para julgar um processo, ele está muito errado

Um sentimento que tenho é de que, antes das eleições passadas, parecia que a sociedade era toda uns contra os outros. Mulheres contra homens, heterossexuais contra gays, aquela coisa toda. Depois disso, veio a sensação de que as coisas haviam piorado. E elas pioraram por quê?

 

Porque antes isso era ditado pela esquerda e depois, começou a ser ditado pela extrema direita. E hoje você conversa com essas pessoas que ainda estão nesse extremo, que é perigoso, e vê que no fundo elas são parecidas. 

 

E isso foi o meu grande ganho pessoal. Eu percebo que um partido como o Podemos tem a condição de não ser um centrão oportunista, que se troca por emendas, mas que também não é extremo para lado nenhum. O Podemos é centro-direita. Isso é uma posição mais acertada politicamente. 

 

MidiaNews – Mas o presidente Bolsonaro, o qual a senhora apoia, é de extrema direita. 

 

Selma Arruda – O que digo é que defendo as pautas que ele tem colocado em votação, reformas. Mas acho que algumas partes da reforma da Previdência foram horrorosas, sabe? Mesmo assim, não havia como votar contra naquele momento. Então, acabamos fazendo alguns acordos, aprovamos a reforma como estava, e depois faríamos projetos de lei para modificar pontualmente aquele ponto. Mas, no geral, foram boas as reformas e poderão vir reformas melhores. 

 

Agora, muitas posições eu não concordo. Por que precisa colocar um ministro no Supremo que seja evangélico? Para mim não faz um mínimo sentido. O ministro do Supremo tem que estar ali para julgar processo. Se o ministro for influenciado pelo sentimento religioso para julgar um processo, ele está muito errado. Eu tenho minhas crenças religiosas e cansei de julgar pessoas de outras religiões. E se isso fizesse diferença, eu teria cometido absurdos.

 

Então, há algumas pautas que acredito serem exageradas, meio fora do normal.

 

MidiaNews – E a eleição municipal? A senhora pretende apoiar alguém?

 

Selma Arruda – O Podemos tem um pré–candidato, que é uma pessoa com muita garra e pode concretizar uma candidatura. Pretendo trabalhar, sim, de acordo com que o partido nos orientar. Existem alguns candidatos a vereança que eu pretendo apoiar, que são pessoas que, mesmo não estando no meu partido, tenho muita simpatia pela postura e forma de agir.

 

MidiaNews – O pré-candidato do Podemos é o vice-prefeito Niuan Ribeiro. Ele não pode vir com a pecha de “traidor” do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB)?

 

Selma Arruda – Mas vai trair quem? O cara do paletó? Eu não diria que isso é traição.

 

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benedito da Silva  03.02.20 17h13
Dra Selma votei na Senhora e ainda voto se for preciso, mas dizer que Bolsonaro faz um bom governo e que escolheu bem sua equipe inclusive citando esses nomes já é demais porque não é a opinião da maioria da sociedade. Entretanto torço pela vossa permanência na política porque precisamos de gente séria e competente como a Sra.. Boa sorte.
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Luis  03.02.20 12h34
Vou votar em seu candidato , eu e 600 mil pessoas. Diga quem é.
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Marcão  02.02.20 11h31
Não entendi! Se é tão ruim por que luta pra ficar, não seria uma hipocrisia? Não vos conformeis com este século.E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. Rom 12:2
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Graci Ourives de Miranda  02.02.20 10h23
Vamos votar em seu candidato.
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