O advogado Pedro Jorge Taques, irmão do ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, destacou o fato de ter sido contratado pelo deputado Mauro Savi (DEM) durante a 1ª fase da Operação Bereré, em fevereiro deste ano (ouça o áudio ao final da matéria).
Isso porque, ao fazer a defesa do político, teria acesso a todo o teor dos depoimentos e das investigações sobre o esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 30 milhões, que operou de 2009 a 2015
O diálogo, mantido em ligação pelo WhatsApp, foi gravado pelo empresário José Henrique Gonçalves, sócio da empresa EIG Mercados e delator do esquema.
A gravação ocorreu no dia 18 de abril, ocasião em que o advogado ainda não era alvo da investigação. Pedro Jorge, Paulo Taques e Mauro Savi foram presos na 2ª fase da operação, deflagrada no dia 9 de maio.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran-MT retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Na delação, José Henrique confessou que pagou propina de R$ 2,6 milhões a Paulo Taques e, para tal, contou com a ajuda de Pedro Jorge Taques e do ex-presidente da EIG, José Kobori, os dois últimos responsáveis por “blindar” o ex-secretário no esquema.
O valor era para garantir a continuidade do contrato da EIG com o Detran na atual gestão do Governo do Estado.
A conversa
Em trecho do diálogo, Pedro Jorge afirmou a José Henrique que a Bereré não teria relação com eles, mas sim com a delação do ex-presidente do Detran-MT, Teodoro Lopes, o “Dóia”.
José Henrique - Tem a ver com aquele problema que você falou que tinha com o Paulo [Taques] essa operação?
Pedro Jorge – Não, não, nada, nada, nada. Essa operação foi em função da delação do Dóia. Agora, do ponto de vista jurídico, né, você também tem muita coisa a favor, né. Você já prestou depoimento?
José Henrique - Não, cara, eu tô enrolando ao máximo, eu quero ser o último lá porque eu não sei por onde eu tô pisando, eu não sou daí, entendeu? Eu fico sem notícia, assim, por isso que eu acho que talvez se – agora não tem mais como voltar atrás – o Kobori tivesse perto, ele teria pulso para poder tratar desse assunto. Porque eu sou de fora, não tenho aliado nenhum aí, é difícil para eu...
O advogado então tranquiliza o empresário, relatando que tem “acesso direto” a todos os depoimentos da investigação, uma vez que o escritório foi contratado pelo deputado Mauro Savi – acusado de ser um dos líderes da organização criminosa.
Pedro Jorge – Nós estamos tendo acesso direto a todos os depoimentos, tá? Porque o escritório foi contratado pelo Mauro.
José Henrique – Pelo Mauro? Qual Mauro?
Pedro Jorge – O Mauro Savi.
José Henrique – Hummm
Pedro Jorge – Entendeu? Parece até antagônica a situação, entendeu? (risos). Mas o Mauro nos contratou e isso nos dá a possibilidade de ter acesso a todos os depoimentos.
José Henrique - Entendi.
Pedro Jorge – Então nós temos informações diárias do andamento, né?
Para o MPE, a situação “antagônica” citada pelo advogado é relativa ao fato de que, antes dele e de Paulo Taques, era justamente Mauro Savi um dos maiores beneficiários da propina paga pela EIG para a gestão passada do Governo.
“É evidente que Pedro Jorge Zamar Taques e José Kobori atuam na organização criminosa com a finalidade de esconder a participação de Paulo Cesar Zamar Taques, pois este somente faz contato direto com Pedro Jorge ou com Valter Kobori para tratar a respeito dos pagamentos de propina pela EIG Mercados Ltda., assim como as ligações são feitas pelo aplicativo do Whatsapp a fim de evitar interceptação telefônica, tudo com a finalidade de frustrar a produção de provas que demonstrem claramente suas atividades ilícitas”, diz trecho da investigação.
Veja o vídeo com a conversa:
A operação
A segunda fase da Operação Bereré resultou na prisão dos seguintes alvos: o deputado estadual Mauro Savi (DEM); o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques e seu irmão Pedro Jorge Taques; os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, proprietários da Santos Treinamento; e o empresário José Kobori, ex-diretor-presidente da EIG Mercados.
De acordo com as investigações, entre os meses de julho e agosto do ano de 2009, quando Teodoro Moreira Lopes o “Dóia” ocupava o cargo de presidente do Detran, foi convocado para uma reunião no gabinete do deputado Mauro Savi. No local estavam presentes, além do parlamentar, Marcelo da Costa e Silva e Roque Anildo Reinheimer, ambos investigados no caso.
Na ocasião, Marcelo Silva e Roque Anildo teriam oferecido a Dóia a execução da atividade de registro junto ao Detran dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor dizendo que apresentariam ao então presidente da EIG Mercados.
Conforme, o MPE, na ocasião a empresa se oferecia a formular contrato administrativo com o Detran para prestar o serviço de registro de contratos junto à entidade de trânsito. Na oportunidade, um dos sócios da empresa, a fim de garantir a prestação de serviços, teria se comprometido a repassar o valor equivalente ao pagamento de um mês às campanhas eleitorais do deputado Mauro Savi e do então governador Silval Barbosa.
Os promotores dizem que a promessa teria sido cumprida no valor de R$ 750 mil para cada um dos candidatos, logo após a assinatura do contrato.
Para que a empresa fosse a vencedora do edital, na época o antigo presidente do Detran determinou que a comissão de licitações do Detran confeccionasse o edital de licitação nos mesmos moldes que a empresa FLD Fidúcia - hoje EIG Mercados - já havia vencido no Piauí. Desde então, segundo o MPE, a empresa é responsável pelo pagamento de propinas a organização ciminosa.
Consta nas investigações que após a assinatura do contrato administrativo, "Mauro Savi, Claudemir Pereira dos Santos, Teodoro Lopes e outros investigados se organizaram a fim de garantir a continuidade do contrato, formando uma rede de proteção em troca do recebimento de vantagens pecuniárias da parte da FDL, propina na ordem de 30% (trinta por cento) do valor recebido pela FDL do Detran repassado por intermédio de empresas fantasmas que foram criadas em nome dos integrantes da rede de proteção do contrato".
"Esquema que teve continuidade com a mudança de Governo e a participação de Paulo César Zamar Taques e seu irmão Pedro Jorge Zamar Taques", afirmou o MPE.
Os promotores explicam que no ano de 2015 - quando Silval da Barbosa deu lugar ao atual governador Pedro Taques -, ao ter informações do esquema de recebimento de propinas operado dentro do Detran, Paulo Taques e Pedro Zamar Taques - primos do governador - apropriaram-se do esquema de recebimentos, com ajuda de Valter José Kobori.
Em depoimento colhido junto a um dos proprietários da empresa EIG Mercados Ltda, foi revelado ao MPE que após acertar os pagamentos com a antiga gestão Silval Barbosa a EIG Mercados contratou Valter Kobori como CEO (Chief Executive Officer). Desde então seria ele a pessoa responsável em receber pessoalmente a propina sob título de bônus pelos serviços pessoais prestados a empresa e repassar o dinheiro para Paulo Taques.
Segundo o depoimento as negociações foram feitas antes mesmo do resultado das eleições de 2014 onde Valter Kobori já havia combinado com Paulo Cesar Zamar Taques o auxílio para manutenção do esquema.
Leia mais sobre o assunto:
Irmão de Paulo Taques xinga sócios da Santos em conversa; ouça
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|