Cuiabá, Sábado, 5 de Julho de 2025
“VAGABUNDOS”
15.05.2018 | 11h33 Tamanho do texto A- A+

Irmão de Paulo Taques xinga sócios da Santos em conversa; ouça

Pedro Jorge Taques afirma que iria recolher impostos; MPE suspeita de contrato maquiado

Alair Ribeiro/MidiaNews

O advogado Jorge Taques, que teve conversa gravada por sócio da EIG

O advogado Jorge Taques, que teve conversa gravada por sócio da EIG

LUCAS RODRIGUES
DA REDAÇÃO

Em conversa gravada, o advogado Pedro Jorge Taques, irmão do ex-chefe da Casa Civil, Paulo Taques, xingou de “vagabundos" dois sócios da empresa Santos Treinamento que o citaram no esquema investigado na Operação Bereré.

 

O diálogo, mantido pelo aplicativo WhatsApp, foi filmado pelo empresário José Henrique Gonçalves, sócio da EIG Mercados e delator dos crimes (veja ao final da matéria).

 

A Bereré apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 30 milhões, que operou de 2009 a 2015.

 

Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos e empresários, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.

 

Pedro Jorge Taques e Paulo Taques foram presos preventivamente pelo Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) na semana passada, durante a deflagração da segunda fase da operação.

 

Segundo as investigações, Pedro Jorge Taques atuava para “blindar” o seu irmão no esquema, por meio de um contrato de serviços “fictício” com a EIG, no intuito de maquiar a origem ilícita do dinheiro recebido da empresa.

 

Já Paulo Taques é acusado de ter recebido propina na ordem de R$ 2,6 milhões da EIG para ajudar a empresa a manter o contrato com a atual gestão. Além da ajuda do irmão, segundo o Gaeco, ele contou com o auxílio do ex-presidente da EIG, José Kobori, para receber os valores ilícitos.

 

Recolhimento de impostos

 

Em trecho do diálogo, ocorrido no dia 18 de abril deste ano, Pedro Jorge Taques afirma a José Henrique que se viu obrigado a recolher “todos esses impostos”, referindo-se aos valores recebidos pela EIG.

 

José Henrique então questiona se a medida teria relação com a deflagração da Operação Bereré. O advogado confirma e justifica o recolhimento pelo fato de ter sido citado nos depoimentos prestados pelos empresários Roque Reinheimer e Marcelo Costa, sócios da Santos Treinamento.

 

Pedro Jorge Taques: Com relação àqueles impostos né, o que acontece, eu me vi obrigado a recolher todos esses impostos em função do que aconteceu.

José Henrique: Huhum, entendi.

Pedro Jorge Taques: Entendeu?

José Henrique: Em função da, cê tá falando da operação e tudo o mais né?

Pedro Jorge Taques: Isso! É porque aí o ... aqueles vagabundos lá terminaram nos envolvendo, né?

José Henrique: Aham, quem?

Pedro Jorge Taques: E aí...

José Henrique: Cê fala a investigação?

Pedro Jorge Taques: O Roque e o Marcelo, pô!

José Henrique: Ah, sim, sim, no depoimento deles, né?

Pedro Jorge Taques: É, eles terminaram me envolvendo, né?

José Henrique: É!

 

O advogado também conta a José Henrique que protocolou uma petição, provavelmente no bojo das investigações, informando sobre o contrato de prestação de serviços e juntando documentos sobre os serviços prestados à EIG.

 

Pedro Jorge Taques: E aí eu protocolei uma petição, né, explicando o que tinha acontecido, juntei o contrato, do do do que eu fiz com o Daniel.

José Henrique: Certo!

Pedro Jorge Taques: Juntei mais de quarenta audiências que foram feitas, entendeu?

José Henrique: Certo!

Pedro Jorge Taques: É, pra efetivamente informar o que aconteceu, né.

José Henrique: Huhum.

Pedro Jorge Taques: É, só pra você ter uma ideia, semana passada eu fiz audiência, hoje eu fiz uma audiência, é então eu tô fazendo as audiências, mas isso não tem nada a ver, né, é até bom né.

José Henrique: Huhum.

Pedro Jorge Taques: Porque é o que eu falei pro Daniel na época, falei 'Daniel, eu acho um pouco temerário, é, encerrar esse contrato neste momento'.

 

Para o Gaeco, o diálogo gravado evidencia que, de fato, o contrato de prestação de serviços era de fachada.

 

“Qual a lógica existente em um advogado, após ter recebido seus honorários advocatícios, entrar em contato com seu cliente para que ele pague os impostos devidos e relacionados à própria prestação dos serviços jurídicos?! Nenhuma, salvo se o contrato (que, aliás, foi firmado com outro escritório que substabeleceu os serviços) foi utilizado para maquiar situação diversa (pagamento de propina), ainda que alguns serviços jurídicos tenham sido efetivamente prestados”, escreveu o órgão, ao pedir a prisão de Jorge Taques.

 

Veja o vídeo com a conversa:

 

 

A operação

 

A segunda fase da Operação Bereré resultou na prisão dos seguintes alvos: o deputado estadual Mauro Savi (DEM); o ex-secretário-chefe da Casa Civil, Paulo Taques e seu irmão Pedro Jorge Taques; os empresários Roque Anildo Reinheimer e Claudemir Pereira dos Santos, proprietários da Santos Treinamento; e o empresário José Kobori, ex-diretor-presidente da EIG Mercados.

 

De acordo com as investigações, entre os meses de julho e agosto do ano de 2009, quando Teodoro Moreira Lopes o “Dóia” ocupava o cargo de presidente do Detran, foi convocado para uma reunião no gabinete do deputado Mauro Savi. No local estavam presentes, além do parlamentar, Marcelo da Costa e Silva e Roque Anildo Reinheimer, ambos investigados no caso.

  

Na ocasião, Marcelo Silva e Roque Anildo teriam oferecido a Dóia a execução da atividade de registro junto ao Detran dos contratos de financiamento de veículos com cláusula de alienação fiduciária, de arrendamento mercantil, de compra e venda com reserva de domínio ou de penhor dizendo que apresentariam ao então presidente da EIG Mercados.

 

Conforme, o MPE, na ocasião a empresa se oferecia a formular contrato administrativo com o Detran para prestar o serviço de registro de contratos junto à entidade de trânsito. Na oportunidade, um dos sócios da empresa, a fim de garantir a prestação de serviços, teria se comprometido a repassar o valor equivalente ao pagamento de um mês às campanhas eleitorais do deputado Mauro Savi e do então governador Silval Barbosa.

 

Os promotores dizem que a promessa teria sido cumprida no valor de R$ 750 mil para cada um dos candidatos, logo após a assinatura do contrato.

 

Para que a empresa fosse a vencedora do edital, na época o antigo presidente do Detran determinou que a comissão de licitações do Detran confeccionasse o edital de licitação nos mesmos moldes que a empresa FLD Fidúcia - hoje EIG Mercados - já havia vencido no Piauí. Desde então, segundo o MPE, a empresa é responsável pelo pagamento de propinas a organização ciminosa.

  

Consta nas investigações que após a assinatura do contrato administrativo, "Mauro Savi, Claudemir Pereira dos Santos, Teodoro Lopes e outros investigados se organizaram a fim de garantir a continuidade do contrato, formando uma rede de proteção em troca do recebimento de vantagens pecuniárias da parte da FDL, propina na ordem de 30% (trinta por cento) do valor recebido pela FDL do Detran repassado por intermédio de empresas fantasmas que foram criadas em nome dos integrantes da rede de proteção do contrato".

 

"Esquema que teve continuidade com a mudança de Governo e a participação de Paulo César Zamar Taques e seu irmão Pedro Jorge Zamar Taques", afirmou o MPE.

  

Os promotores explicam que no ano de 2015 - quando Silval da Barbosa deu lugar ao atual governador Pedro Taques -, ao ter informações do esquema de recebimento de propinas operado dentro do Detran, Paulo Taques e Pedro Zamar Taques - primos do governador - apropriaram-se do esquema de recebimentos,  com ajuda de Valter José Kobori.

  

Em depoimento colhido junto a um dos proprietários da empresa EIG Mercados Ltda, foi revelado ao MPE que após acertar os pagamentos com a antiga gestão Silval Barbosa a EIG Mercados contratou Valter Kobori como CEO (Chief Executive Officer). Desde então seria ele a pessoa responsável em receber pessoalmente a propina sob título de bônus pelos serviços pessoais prestados a empresa e repassar o dinheiro para Paulo Taques.

 

Segundo o depoimento as negociações foram feitas antes mesmo do resultado das eleições de 2014 onde Valter Kobori já havia combinado com Paulo Cesar Zamar Taques o auxílio para manutenção do esquema.

 

Leia mais sobre o assunto:

 

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